Você já reparou que passamos a maior parte de nossa vida preocupados em resolver problemas do cotidiano, e quase não temos tempo de reparar nas belezas naturais ao nosso redor? A Natureza é pródiga em nos presentear com belíssimos arranjos, que os próprios homens vão tratando de “desarranjar”. Para tentar alertá-los dos males cometidos, Deus usa de vários artifícios. Um deles foi o de inventar o Poeta, incansável arauto do Belo.
A respeito das terríveis queimadas, CÉLIA GUIMARÃES SANTANA, de Sete Lagoas/MG, diz:
Vamos lutar sem medida
em prol da preservação.
Se respiração é vida...
toda floresta é pulmão!
O carioca JOÃO FREIRE FILHO, conversando com a floresta, pede-lhe compreensão:
Floresta amiga, perdoa
o fogo, a serra, a agressão:
a humanidade ainda é boa...
Certos homens é que não...
E o paulista ANTONIO DE OLIVEIRA, hoje morando em Rio Claro, criou esta linda imagem:
Queimado, o arbusto parece
ter, nos galhos, a expressão
de mãos, que postas em prece,
rogaram clemência... em vão!
A Natureza também chora. E como chora! A seguir, registramos um momento em que os poetas formam quatro vozes no mesmo coral.
Do “poeta da Terra”, JOÃO PAULO OUVERNEY:
São as chuvas, na impiedade
da natureza agredida,
as lágrimas de orfandade
nos olhos tristes da vida!!!
De OSCAR VIEIRA SOARES, que residia em Taubaté:
O insano o verde deflora,
numa atitude malsã.
- A Natureza hoje chora,
chorará ele amanhã.
Do professor JOÃO FREIRE FILHO, recentemente falecido:
Tão agredida e indefesa! -
por não lhe ouvirmos a voz,
chora, agora, a Natureza!
Depois choraremos nós...
E do poeta português JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO:
Os que devastam as matas
por prazer de devastar,
chorarão quando as cascatas
não puderem mais chorar!...
JOSÉ OUVERNEY vê na Natureza a plena capacidade do perdão:
"Mãe-Natureza!" - Eis o nome
de quem, em nome do amor,
gera o fruto e estanca a fome
do seu próprio predador!
ADÉLIA VICTÓRIA FERREIRA, por sua vez, acredita numa possível vingança, sem especificar como:
Ao sofrer uma agressão
a terra não choraminga
nem esboça reação,
mas... cedo ou tarde, se vinga...
E o nosso saudoso ORLANDO BRITO, que residiu em Pinda, resolve explicar de que forma a “Natura” revida. No que entendemos ser a mais doce das vinganças:
A natureza revida
com amor, aos agressores
e lhes dá, por despedida,
a cruz... o caixão... as flores...
Bom, mas... deixa pra lá. Você já viu uma paineira? Sabia que ela também chora? O paranaense PEDRO ORNELLAS, quando partiu de seu sítio, rumo a São Paulo, captou este flagrante:
Novo rumo, despedida...
e ao pressentir minhas dores,
a paineira entristecida
chora lágrimas de flores!
Passarinho na gaiola... Para alguns, é lindo! Para outros, é degradante. Porque a cantiga dos pássaros, que tanto nos deleita, pode também ser uma farsa. Foi o que captou VASCO DE CASTRO LIMA, nascido em Lavrinhas, Fundo do Vale.:
Embora vivas cantando,
canário, tens vida triste:
- já vi lágrimas pingando
nessa vasilha de alpiste!
E salve os nossos pássaros! MARINA BRUNA, nascida em Franca e, hoje, paulistana, exalta os sabiás com rara felicidade:
O sol logo nascerá
e entre as aves, às centenas,
o festivo sabiá
lembra uma flauta de penas!
E NEIDE ROCHA PORTUGAL destaca o altruísmo de uma dessas aves:
Na igrejinha abandonada
Deus não se sente sozinho:
nas mãos da imagem quebrada
um sabiá fez o ninho!
Muito bem. Agora apreciemos o que poetas de Pindamonhangaba dizem sobre a nossa bem amada Serra da Mantiqueira, patrimônio ecológico de valor inestimável:
MAURÍCIO CAVALHEIRO:
Na Mantiqueira imponente
onde o sol renova o adeus,
faço uma prece e, silente,
fico mais perto de Deus.
JOSÉ OUVERNEY:
Tendo o céu como moldura
e a noite como cortina,
a Mantiqueira é pintura
que Deus, com orgulho, assina!
E pra quem acha que a famosa autora do “Parabéns a Você” não era trovadora, eis um exemplo:
BERTHA CELESTE HOMEM DE MELLO:
Mantiqueira majestosa,
fulgente e rara turquesa!
És a joia mais preciosa
do escrínio desta "Princesa"!
Água: nosso precioso ouro branco, não poderia ser esquecida de forma alguma. Eis como a definiu o luso JOSÉ MARIA MARIA DE ARAÚJO:
- A água jorrando em Cascatas
pelos penhascos da serra,
é o sangue puro das matas
enchendo as veias da terra!
Enfim, como definir ECOLOGIA? À luz da lógica, bastaria não agredir o que foi criado por Deus. Simplesmente não agredindo, já estaríamos ajudando a preservá-la. Mas, se puder dar seu quinhão, orientando, pregando e, principalmente, “praticando Natureza”, tanto melhor. Como os poetas:
MILTON SEBASTIÃO SOUZA, de Porto Alegre:
O respeito à ecologia
é valioso seguro
e selo de garantia
para a vida do futuro.
e o talentosíssimo juizforano ARLINDO TADEU HAGEN:
Abrace a luta sadia,
que essa luta não é vã:
proteger a ecologia
é proteger o amanhã!
E encerramos nosso despretensioso ensaio com estas três composições que são de uma luminosidade rara. Atente para as imagens:
Trova de JOÃO RANGEL COELHO:
Há no silêncio das plantas,
a germinar pelas leivas,
o grito de mil gargantas,
numa algazarra de seivas.
Trova de nosso queridíssimo ORLANDO BRITO:
Há nos jardins, entre arranjos
de passarinhos e abelhas,
candelabros onde os anjos
acendem rosas vermelhas...
E, da lavra do inspiradíssimo poeta/trovador mineiro, há muitos anos radicado em São Paulo, HÉRON PATRÍCIO:
No jardim, junto ao meu quarto,
o silêncio é tão profundo
que se pode ouvir o parto
das rosas chegando ao mundo!
Agora... que tal "praticarmos Natureza"?
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Texto de José Ouverney, escrito em 28 de maio de 2013