OBS: Newton Meyer me deu seu livro "Casarão da Saudade" devidamente autografado, com 1.400 trovas e inúmeras fotografias, em dezembro de 2005, durante os festejos trovísticos de Pouso Alegre. Cinco meses depois ele partia. Assim contado, parece ação do acaso, mas eu creio em algo mais elevado. E quando ele se foi, publiquei no jornal a matéria abaixo.
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O CASARÃO ESTÁ CHORANDO
"Um dia fiquei sozinho neste Casarão Secular. Todos se tinham ido; a maioria, levados por Deus, alguns, pela vida... Em volta, as paredes olhavam-me, entre perplexas e comovidas. O que será dele? – Talvez pensassem. E, pensando, foram-se achegando e envolvendo em seus eflúvios, na inexplicável memória que as pedras têm, a solidão de minha alma."
"Traziam-me palavras, resgatadas lá das brumas antigas, mas em vozes tão nítidas e conhecidas, que me davam a impressão de ver aquela mesa enorme repleta de 'todos eles'... E cada um falou, e cada um abraçando-me, soube escolher com preciosíssimo critério as palavras certas e oportunas."
"Depois... depois o próprio Casarão sorria, e se foi enchendo de Luz e de Alegria, e, ainda só, não mais fiquei sozinho!"
NEWTON MEYER AZEVEDO escreveu essas palavras no preâmbulo de seu livro "Casarão da Saudade". O Casarão é um tradicional palacete de Pouso Alegre, que há muitos anos abriga a família Meyer. Uns se vão, outros chegam... Tudo conforme a vontade inquestionável de Deus. Nesse triste 03 de maio de 2006 essa vontade ferrenha mais vez se fez prevalecer. Às 14:30hs a voz do poeta se calou. Newton Meyer já não está mais fisicamente entre nós. Não vamos tentar decifrar a extensão dessa perda. Pouso Alegre, através de sua Academia de Letras; de sua unidade da União Brasileira de Trovadores; a nação... que perde um de seus mais apaixonados filhos; a família, que perde o seu mais extremoso membro; nós, que perdemos um amigo do mais burilado porte.
Um dos maiores trovadores /poetas /cordelistas /sonetistas do Brasil contemporâneo. Um grande homem grande. Grandeza plena, irrestrita, absoluta. Nós, seus irmãos-trovadores, só podemos nos despedir dele da forma que melhor sabemos, isto é, com trovas. E o que é melhor: com trovas de sua própria lavra. Até um dia, amigo!
Teria o bem eficácia,
no mundo de tantas falhas,
se os bons tivessem a audácia
e a coragem dos canalhas!...
Saudade é uma flor mimosa,
que lembra dias felizes.
Mas, ao contrário da rosa,
tem espinho – nas raízes...
Igual minha mãe fazia,
eu nunca mais comerei!
- Um pão – de amor e alegria,
para o banquete – de um "rei"...
É tanto o amor que me invade
quando em seus braços estou,
que cada instante é saudade
do instante que já passou!
Não me fascina a verdade,
ao grau de tirar-me o sono;
acervo da humanidade,
a verdade – não tem dono.
Pouco importa o tempo corra,
ganhe a distância e se vá!...
Que importa o poeta morra,
- no seu verso – viverá!
E seus versos estão aqui. São eternos. Como a sua lembrança, Newton Meyer!
Adeus! A Deus!
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(Texto de José Ouverney)