Nordestino Filho

     NORDESTINO FILHO  é o pseudônimo de Raimundo Estevão Pereira, que nasceu em Viçosa/CE, a 24 de maio de 1900, filho de José Estevão Pereira e de Joaquina Maria Pereira. Mudou-se para Cachoeiro do Itapemirim/ES aos 25 anos, tendo sido inclusive cofundador e o primeiro ocupante da cadeira nº 10 da Academia Cachoeirense de Letras. Vários livros lançados. Morreu em 19 de março de 1982. Era Oficial do Exército.

Há nos versos que componho,
e nas trovas que se lê,
farrapos de um róseo sonho
e algo, meu bem, de você.

Sempre que afago, meu bem,
as tuas mãos delicadas,
as minhas ficam também
suavemente perfumadas...

Se não és santa, pareces,
ó deusa dos sonhos meus,
pois até nas minhas preces
tu te misturas com Deus!

Muitas vezes tem a vida,
a nossa vida sem graça,
a ventura resumida
num curto instante que passa...

Deus fez a lua, por certo,
para os divinos instantes
em que, a sós, um do outro perto,
possam viver dois amantes.

Dois jovens à nossa frente:
se agarrados - namorados;
porém, se não, toda gente
logo sabe - são casados...

Quando se volta algum dia,
mesmo velho, ao velho ninho,
sempre se encontra a alegria
chorando pelo caminho.

Mesmo ovelha transviada,
que vive longe do aprisco,
conservo na alma, guardada,
tua imagem, São Francisco.

Nesta vida corriqueira,
o que mais se vê e sente
é que não falta quem queira
pisar nos calos da gente.

A gotinha irreprimível,
que molha um rosto qualquer,
torna-se uma arma terrível,
quando o rosto é de mulher.

Todos sabem que o dinheiro
tudo leva à perdição,
mas nele é que o mundo inteiro
vai buscar a salvação!

Ai, morena, se eu te pego
no alçapão dos meus desejos,
o teu alpiste seria
todinho feito de beijos!...

És perita dançarina
na corda bamba do amor,
mas tem cuidado, menina:
- até santo cai do andor...

A minha vida consiste
numa tristeza sem fim,
como se tudo que é triste
chorasse dentro de mim...

Eu sinto um prazer imenso,
prazer imenso e sem fim,
quando penso, quando penso
que também pensas em mim.

Eu não sei o que é tristeza,
sou a alegria em pessoa.
Ser alegre - que beleza!
Ser feliz - que coisa boa!

Resistir-te - eis a certeza,
eu te confesso: não pude!
- Pena é que, rica em beleza,
sejas tão pobre em virtude...

Quando o ciúme nos alcança
e domina de repente,
mata a nossa confiança
e estraga a vida da gente...

Ontem, meu bem, não fiz nada.
Hoje, também, nada fiz.
Fazer o que, minha amada,
se ao teu lado sou feliz!

Se eu for um retardatário,
não te aborreças, Jesus!
- Fica longe o meu calvário...
- Pesa tanto a minha cruz!...

Não creio que haja beleza
maior, e certo não há,
do que a que tens, Fortaleza,
capital do meu Ceará!