Pedro Ornellas e sua História de Amor com Nova Friburgo. I - O Filósofo

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PEDRO ORNELLAS
E SUA HISTÓRIA DE AMOR COM NOVA FRIBURGO
(texto de Pedro Mello)

 

PARTE 1 – O FILÓSOFO

 

            Pedro Ornellas começou na trova na década de 80 e, em pouquíssimo tempo, o nível de suas trovas o alçou à condição de grande trovador, sempre contado entre os “cobrões” da UBT. Premiadíssimo no Brasil inteiro, procurar trovas suas para elaborar um ensaio como este dá um trabalho terrível para um pesquisador como eu...!

 

            Desde que começou a participar em Concursos de Trovas e Jogos Florais, Pedro Ornellas desenvolveu uma história de amor com os Jogos Florais de Nova Friburgo. Ao longo de 23 anos, de sua primeira premiação em Friburgo em 1986 até a última em 2009, Pedro Ornellas premiou nada mais nada menos que 56 trovas!!! Foram 24 líricas ou filosóficas e 32 humorísticas. Dá uma média de 2 por ano e ainda sobra... Dado esse volume extraordinário de trovas, este ensaio sobre Pedro Ornellas e Nova Friburgo se desdobrará em três partes: I – O Filósofo; II – O humorista; III – O Magnífico.

Pedro alternou suas premiações nas duas modalidades, sendo a maior parte no humorismo. A história de amor entre Pedro e Friburgo começa em 1986 no humorismo.

Ele viria a se classificar no Gênero Lírico pela primeira vez em 1988, tema PROCURA, no qual obtém o 17º. lugar:

 

Procurados e à procura

por caminhos desiguais,

quantos têm a desventura

do encontro tarde demais!

 

            No ano seguinte, 1989, Pedrinho premiaria 2 trovas no tema TEIMOSIA, obtendo o 6º. e o 18º. lugar. Com a primeira, iniciaria a expectativa nos amigos de se tornar Magnífico:

 

Meu “João-Teimoso”, em menino,

nunca aos meus golpes cedeu...

Hoje, nas mãos do destino,

o João-Teimoso sou eu!

 

Teimosa e sempre iludida,

minha alma segue enganada;

e em plena tarde da vida

tem sonhos de madrugada.

 

No ano seguinte, 1990, Pedrinho consolidaria sua relação de amor com Nova Friburgo, classificando duas trovas entre as dez vencedoras no gênero lírico, tema LEMBRANÇA. Com essas duas trovas, Pedro dava mais um passo para o título de Magnífico, que alcançaria no ano seguinte, caso classificasse de novo entre os dez. Eis as trovas, respectivamente 3º. e 5º. lugar:

 

Quando à noite, em quantidade,

voltam lembranças de outrora,

eu posso ouvir a saudade

batendo palmas lá fora!

 

A brisa da noite mansa,

que a sala do tempo invade,

sopra as cinzas da lembrança

na lareira da saudade...

 

Apesar das expectativas, a vida é uma caixinha de surpresas... Em 1991, Pedro não se classificou em Nova Friburgo, em nenhuma das modalidades e não seria dessa vez que ele se consagraria Magnífico Trovador. Mas Pedrinho é um guerreiro. E guerreiros não entregam os pontos. Pedro volta a Friburgo em 1992, ano em que alcança o 2º. e 12º. lugar no gênero lírico, tema EMOÇÃO:

 

Por emoção diferente,

deixei meu lar... fui covarde.

Pena que a vida, inclemente,

mostra o erro quando é tarde.

 

Buscando emoções um dia

do antigo lar fiz-me egresso.

E agora tudo eu daria

pela emoção do regresso.

 

E chega o ano de 1994. Neste ano começava a escalada para Pedro Ornellas consagrar-se Magnífico Trovador em Nova Friburgo no Gênero Lírico. Em 1994 o tema dos Jogos Florais era DESPREZO. Pedro classificou-se em 10º. lugar:

 

No quarto, o espelho malvado,

meu desgosto desprezando,

mostra-me o tempo passado

que nunca mostrou passando!

 

            Em 1995 Pedro Ornellas, assim como já fizera antes, classifica duas trovas entre as 10 vencedoras. O tema era POETA e Pedrinho arrasa, premiando duas de suas melhores trovas de todos os tempos, respectivamente 5º. e 8º. lugar:

 

Enquanto dorme a cidade,

teimoso o poeta insiste...

O tema é “Felicidade”,

mas o seu verso sai triste!

 

Se canto a felicidade,

sou poeta imaginando...

Mas quando falo em saudade

eu sei do que estou falando!

 

            Chegou 1996. Naquele ano o tema dos Jogos Florais era MAGIA. Todos esperavam que Pedro Ornellas se tornasse Magnífico Trovador. Deixaria a sorte que ele classificasse uma trova entre as dez? Mais do que isso, Pedro Ornellas classificou 3 trovas entre as 10! Pedrinho obteve o 4º., o 6º. e o 10º. lugar:

 

Na infância, festa de cores,

tudo era encanto e magia...

E eu via muito mais flores

além das tantas que havia!

 

Na mente, novos enredos

roubam do sonho a importância...

e o tempo, estalando os dedos,

quebra a magia da infância!

 

Saudade, um sonho guardado...

Magia que se eterniza

num filme bom do passado

que o pensamento reprisa...

 

            E eis Pedro Ornellas Magnífico Trovador nos Jogos Florais de Friburgo. O que nos chama a atenção é o fato de Pedro Ornellas só haver premiado com trovas filosóficas. Nota-se nos resultados de Nova Friburgo uma tendência para a premiação de trovas líricas, mas Pedrinho superou essa tendência e premiou apenas com trovas filosóficas. Por isto, podemos considerar Pedrinho um grande filósofo da trova.

 

            Até conquistar o título de Magnífico no gênero lírico/filosófico, Pedro premiara mais trovas humorísticas, obtendo dois primeiros lugares com trovas memoráveis. Isto suscitava uma questão no ar: Pedro firmara uma reputação de mestre no humorismo. Conseguiria tornar-se Magnífico também nesta modalidade? O humorismo é mais difícil para o título, visto que o regulamento exige a classificação entre os 5 primeiros durante três anos consecutivos e não entre os 10, como é o regulamento do Gênero Lírico. Grandes humoristas como Colbert Rangel Coelho, João Rangel Coelho, Elton Carvalho e Durval Mendonça faleceram sem conquistar o título em humorismo, conquistando no Gênero Lírico. E ele? Chegaria lá? Chegaria, sim, mas isso só aconteceria alguns anos mais tarde, conforme comentaremos na segunda parte, “O humorista”.