Padre Celso de Carvalho

 
nasceu aos 16 de julho de1913 em Curvelo/MG,
filho de Saturnino Dias Carvalho Júnior e Carmelita de Avelar Carvalho. Sacerdote e Professor. Era radicado em Diamantina, onde veio a falecer, em 17 de setembro de 2000. "Orquídeas", "Ciranda" e "Sol das Almas" são alguns livros por ele publicados.

 

Meu coração, hoje em dia,
desfeito, cansado, mudo,
lembra uma feira vazia,
depois que venderam tudo!

 

 

Natural que os noivos digam:
"Nosso ninho..." É bom sonhar!
Mas as aves, quando brigam,
xingam seus ninhos... de lar!
 

Se toda ilusão frustrada
se tornasse assombração,
que casa mal assombrada
não seria o coração!

Presença é luz, sol que arde,
no firmamento incendido.
Saudade é sombra da tarde,
pungente como um gemido.

Ah, que estranho desafio
e esquisita proporção:
quanto mais fica vazio,
mais nos pesa o coração!

Não julgo morto o passado.
A bem dizer, nem passou.
- O que eu fui ficou guardado
como parte do que sou...

Junto do berço que a luz
da fé cristã alumia,
toda criança é Jesus
e toda mãe é Maria.

Dez minutos de ternura,
olhando uma simples flor...
Se é tão linda a criatura,
que pensar do Criador?!

Nobreza de nome e casa,
vaidade inútil, à-toa...
O tacho também tem asa:
quem disse que tacho voa?

Vá que se louve a formiga,
e à cigarra se condene...
Mas, quem teceu a intriga
foi cigarra - La Fontaine!

A saudade é como aquelas
touceiras empoeiradas,
que estão sem viço, amarelas,
chorando junto às estradas...

Sempre o murmúrio da bica...
Mas foge a água que cai...
Assim a saudade fica,
enquanto o tempo se vai...

Ah! meu Deus! Quanto me enleva
tua divina clemência:
a estrela nasce da treva,
nasce a saudade da ausência! 

Para mim não é mistério
prosperarem pecadores.
- Já vi muito cemitério
todo coberto de flores.

Nós e a Morte nos batemos
num corpo a corpo feroz.
Mas, por mais que pelejemos,
a Morte ganha de nós!

Quem leva a vida vazia,
e um sentido não lhe deu,
é como quem vai sem guia
pelas salas de um museu.

Pode ser que um dia o colhas,      (Fonte: Newton Vieira)
pois há terra que o produz...
Mas trevo de quatro folhas
não é também uma cruz?

Entre os mistérios humanos,
este é o que mais me crucia:
- passa o tempo de dez anos,
fica a saudade de um dia!...