Pequena Cartilha da Trova

( Arlindo Tadeu Hagen )   -   PEQUENA CARTILHA DA TROVA


 

http://www.falandodetrova.com.br/pequenacartilhadatrova

Definição:

Na paixão em que me abraso

Tanto sol tem minha estrada,

Que eu não troco o meu ocaso

Pela mais linda alvorada!

( Alcy R. Souto Maior )

 

Esta composição poética é uma trova porque:

tem quatro versos, ou seja, quatro linhas. Assim como o soneto tem quatorze versos, a trova tem a forma fixa de quatro versos. Se tiver mais ou menos que quatro versos jamais será uma trova; todos os quatro versos devem ser setessílabos, ou seja, devem ter sete sílabas poéticas - as sílabas poéticas são diferentes das sílabas gramaticais (mais adiante, maiores informações); o 1º verso rima com o 3º e o 2º com o 4º; no caso, a primeira rima é ASO (1º e 3º versos) e a segunda (do 2º e 4º versos) é ADA. Também adiante, maiores informações; tem sentido completo - a trova deve ser perfeitamente compreensível neste espaço. Não devem ser necessários, por exemplo, outras trovas antes ou depois, textos explicativos ou outras observações adicionais. A trova deve bastar por si só.

Portanto, a definição mais correta de trova é "composição poética de quatro versos setessilábicos, rimando o 1º com o 3º e o 2º com o 4º e com sentido completo."

 

Métrica:

A primeira coisa que deve ficar bem clara quando se fala em metrificação de versos é que na poesia contamos sons e não sílabas. Na trova não é diferente, e quando dizemos que a trova deve Ter sete sílabas, fica bem claro que queremos dizer sons, ou sete sílabas fônicas. São várias as diferenças entre sílabas gramaticais e as sílabas fônicas, onde destacamos: na poesia só contamos até a última sílaba tônica (som mais forte) da última palavra de cada verso, desprezando os demais sons. Se, por exemplo, o verso terminar com a palavra "pássaro", a sétima (e última) sílaba do verso deve ser "pá". Se terminar com "trova" será "tro" e se for amor será "mor".

Trova - Exemplo - de Durval Mendonça

 

Trabalha, filho, trabalha,

Põe a semente no chão!

É promessa que não falha

Na certeza de ser pão.

Pode-se notar que as sétimas sílabas caem sobre as sílabas "ba", "chão", "fa" e "pão", parando aí a contagem.

No exemplo citado não houve nenhuma vogal próxima de outra, mas quando isso ocorrer, temos que estar atentos para fazer, corretamente, a fusão. Fusão é a união de duas vogais (ou h) quando, estando próximas, geram um único som, pois são pronunciadas conjuntamente. Geralmente, a vogal forte absorve a vogal fraca anterior ou posterior. Ou então, duas vogais fracas se unem formando uma sílaba só.

Trova - Exemplo - de Waldir Neves

Posso jurar de mãos postas,

Pesando o que já passei,

Que as mais difíceis respostas

Foi em silêncio que eu dei.

Há também o caso das vogais que aparecem juntas na mesma palavra.

Basicamente são dois casos;

quando pronunciadas, as vogais formam sons bem distintos, sendo facilmente reconhecido que formam sílabas diferentes. É o caso das palavras como covardi - a, lu - a, perco - a, etc.

quando não for tão fácil perceber pelo fato de variar a pronúncia. São os casos de criança, poente, etc. Aí o autor é soberano e deve optar pelo uso de cri - an - ça ou crian -ça, po - en- te ou poen - te.

Para exemplificar, citaremos duas trovas vencedoras dos X Jogos Florais de Niterói, sob o tema "Moinho".

Passa o tempo... e no caminho,

A gente vê, de repente,

Que o tempo se fez moinho

Moendo a vida da gente.

(Trova de Aloísio A. da Costa, contando "mo-i-nho")

Nossos destinos bendigo,

Velho moinho, meu irmão:

Os meus versos, o teu trigo,

Dão ao mundo sonho e pão!

(Trova de Jacy Pacheco, contando "moi-nho")

 

Outro caso que gera algumas dúvidas quanto à metrificação é quando aparecem consoantes mudas como advogado, apto, benigno, cactus, etc. Neste caso, segundo o Decálogo de Metrificação, só há uma solução, correntemente aceita como correta: contar como se a consoante não existisse, já que na divisão gramatical a consoante muda deve compor a sílaba sempre com a vogal anterior.

Trova - Exemplo - de Alfredo A. E. Valadares:

Em meio às paixões fictícias

De minha vida agitada,

Comprei milhões de carícias

E continuo sem nada.

No caso acima, a divisão silábica fica assim:

"Em / mei / o-às / pai / xões / fic / tí / cias"

 

Rima:

Um dos elementos indispensáveis na trova é a Rima. Por isto ela merece um pouco da nossa atenção e sobre ela teremos algumas considerações. Rima de uma palavra qualquer é o som que se inicia na vogal da sílaba tônica e vai até o fim desta palavra. A rima de "fim", por exemplo, é im, de "gente" é ente, de "dúvida", úvida e assim por diante.

A chamada rima de cada verso é a rima da última palavra deste verso e quando duas palavras têm rimas iguais, diz-se que elas rimam entre si. Desta forma, "morta" rima com "porta", "flor" com "amor", "partida" com "vida", etc.

As rimas têm diversas classificações que podem ser encontradas em qualquer tratado de versificação. São elas: pobres ou ricas, raras, preciosas, esdrúxulas, etc. Não entraremos em detalhe sobre estas considerações por acharmos desnecessárias neste estudo rápido. Há quem acredite que quanto mais difícil a rima, tanto melhor para o enriquecimento do verso. Para a trova, no entanto, isto não ocorre porque, sendo expontânea e de gosto popular, o melhor é que suas rimas sejam bem naturais. O importante mesmo é que elas estejam perfeitamente encaixadas no contexto da trova e não entrem apenas para rimar.

Todo trovador deve ter, para consulta, um Dicionário de Rimas. Citamos os mais fáceis de ser encontrados:

Dicionário de Rimas Costa Leite;

Dicionário de Rimas Guimarães Passos;

Dicionário de Rimas da Língua Portuguesa, de José Augusto Fernandes.

 

 

Exemplos:

Meu / len / ço / na / des / pe /di/ da,

Tu / não / vis / te em / mo / vi / men / to.

- Len / ço / mo / lha / do, / que / ri / da,

não / po / de a / gi / tar- / se ao / ven / to...

CARLOS GUIMARÃES
 

Pro / sse / gue a / can / tar, / in / sis / te,

Mes / mo a / so / frer / e a / cho / rar,

Que / pi / or / que um / can / to / tris / te

É u / ma / vi / da / sem / can / tar!

LUÍZ OTÁVIO
 

Mi / nhas / ne / tas / sem / pre / rin / do,

São / meu / a / le / gre e / van / ge/ lho.

Mus / go / ver / de / re / ves / tin / do

De es / pe / ran / ça, um / mu / ro / ve / lho.

LILINHA FERNANDES