Pequenos macetes, grandes resultados...

PEQUENOS MACETES... GRANDES RESULTADOS

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texto de José Ouverney, publicado em 29.08.2013.
(Veja mais textos do autor em http://www.falandodetrova.com.br/ouverneyconverso)

 

     Francisco Nogueira, autor de “Método para Trovar”, dizia, em outras palavras, o seguinte: “a trova é, sim, uma poesia muito fácil de ser feita, se não lhe dermos a devida atenção nos quesitos ritmo, sonoridade e conteúdo literário. Não basta ser apenas uma composição de quatro versos setissílabos, rimando o 1º com o 3º e o 2º com o 4º verso, com sentido completo."

O meu coração, tão triste,
sem ninguém, vive sozinho;
neste mundo não existe
quem me ame e faça um carinho.

     Isto é uma trova? A grosso modo é. Quem poderá dizer o contrário? Agora, se alguém perguntar: tem alguma qualidade? Eu lhe direi que nenhuma.

     Aliás, a baixíssima qualidade foi inserida de forma proposital: “sozinho, sem ninguém”… ninguém merece! “Coração tão”… Que som horroroso! “Quem me ame”… Tente enunciar isto em voz alta.

     Em resumo: rimas corretas, embora comuns: “triste/existe e sozinho/carinho” e distribuição silábica correta, considerando as elisões de vogais e só contando até a última sílaba tônica do verso:

O/ meu/ co/ra/ção/, tão/ tris/te,
sem/ nin/guém/, vi/ve/ so/zi/nho;
nes/te/ mun/do/ não/ e/xis/te
quem/ me a/me e/ fa/ça um/ ca/ri/nho.

     No entanto, a composição contém redundâncias, peca na sonoridade, peca no ritmo e apresenta conteúdo sofrível.

     Se algo assim for feito por um principiante, ótimo! Com troca de ideias, exemplificações e muito treinamento, é uma deficiência que poderá ser facilmente sanada, desde que o “candidato” possua veio poético. Sem o dom natural, alguém poderá fazer, no máximo, composições de nível regular, mas nunca uma “obra-prima”. Mas se conseguirmos conciliar talento/estudo/treinamento/determinação, então estaremos diante de um novo grande trovador.

     Tudo que aqui foi explanado, o “Rei da Trova”, Adelmar Tavares, (cadeira nº 11 da Academia Brasileira de Letras, de 1926 a 1963, cujo patrono é Fagundes Varela) já dizia, em uma simples trova:

Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer
Tão fácil, depois de feita;
tão difícil de fazer!
ADELMAR TAVARES