Poemas e Poesias - Edy Soares

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POEMAS E POESIAS

   Por Edy Soares

 

Há quem diga que os poetas são colibris, voando por entre os jardins, coletando a essência das mais variadas flores e encapsulando-as nos poemas como se fossem operários de uma gigante fábrica de perfumes. E são tantas as mais variadas fragrâncias e as mais variadas embalagens que não falta e não há de faltar nunca um frasco com uma fragrância que agrade os mais variados olfatos. 

    Levando e consideração que a poesia é a essência, a fragrância e, o poema é o recipiente, o frasco onde se armazena a poesia, podemos dizer que, assim como existem gostos diferentes na escolha das fragrâncias, também existem diferentes gostos na escolha dos frascos em que são embaladas.

    Quanto à essência, as poesias podem ser líricas, filosóficas, bucólicas... Alguns leitores, românticos, buscam perfumar a alma nos poemas embrenhados de lirismo, outros nostálgicos buscam no bucolismo apascentar o coração na saudade dos tempos idos ou de um grande amor vivido como se revirassem um baú de fotos e cartas antigas e, ainda, aqueles leitores ávidos de explicações filosóficas para cada passo dado e cada novo alvorecer.

  Quanto aos poemas, ou seja, as embalagens que carregam estas fragrâncias, há uma gama enorme de recipientes e a cada dia aparecem fabricantes de frascos diferentes com as mais distintas formas e os mais distintos nomes: sonetos, rondeis, trovas, pantuns, haicais, aldravias... são tantos!... Existem os poemas livres, os que são compostos com exigência métrica e rímica, existem aqueles que superam as dimensões de uma ou mais laudas e os minimalistas. Todos, com as suas mais variadas formas e cheios das mais variadas fragrâncias. Os frascos, por mais simples ou mais sofisticados que sejam não determinam a qualidade nem o potencial do aroma que embalam. 

   A trova é um poema de apenas vinte e oito silabas poéticas agrupadas em quatro versos heptassílabos, um pequeno frasco que por muito tempo vem transbordando poesias da mais alta qualidade e agradando leitores dos mais distintos recantos. Os concursos trovadorescos, que há muito acontecem no Brasil e às vezes em terras mais longínquas, têm multiplicado exponencialmente o número de trovadores. Por um lado, benéfico, pois o gênero literário ganha mais adeptos e se agiganta em quantidade, por outro lado nem tanto, dado o fato de que nem todos os concursos buscam em sua banca de julgadores pessoas com traquejo suficiente para analisar com maestria todos os atributos que fazem do poema uma obra que mereça destaque e reconhecimento entre as demais. Grandes nomes que já elevaram a trova ao mais alto pódio já nos deixaram, mas continuam lembrados por suas belíssimas composições e outros tantos ainda nos brindam com suas magnificas trovas. Alguns não mais participam dos concursos trovadorescos, outros ainda nos presenteiam com belíssimas trovas e engrandecem os concursos, mas o que realmente me incomoda é perceber que a falta de percepção de muitos julgadores, talvez por inexperiência e/ou falta de traquejo, desmerece grandiosas obras e classifica outras com qualidades inferiores.

  Há que se lembrar que os colibris mais antigos quase sempre conhecem jardins inalcançáveis aos que estão alçando seus primeiros voos. E por que não utilizar dessa farta experiencia para julgar os concursos trovadorescos?...Em outras palavras, é necessário que se reconheça numa obra a imagem poética, a história bem contada com início meio e fim, a chave de ouro, o achado... 

    É notório que muitos dos concursos têm premiado entre as primeiras, trovas fracas e, às vezes, até mesmo fora do conteúdo temático e menosprezado trovas expressivas e de gigantes poetas, volto a dizer, talvez pela inexperiência dos julgadores.

      Enfim... saibamos que existem gostos diferentes, tanto para os frascos quanto para os perfumes, mas... saibamos apreciar a essência da boa poesia. OS COLIBRIS AGRADECEM...

 

  Edy Soares 30/07/2023