As Poesias Completas de Adelmar Tavares - parte II

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(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

As Poesias Completas de Adelmar Tavares

Parte II

 

     Em prosseguimento à matéria “As Poesias Completas de Adelmar Tavares”, editada neste site, em 04/02/2010, que se leia o seguinte:

 

     Tenho em mãos o livro POESIAS COMPLETAS de Adelmar Tavares, editado em 1958, pela Livraria São José, do Rio de Janeiro, RJ.

     Ele menciona logo na primeira página:

     Fiz com os meus livros de versos o que fizeram quase todos os poetas. Revisei, procurei corrigir, emendei, - despalhei, como se diz – e os reuni em um só volume, intitulando-o Poesias Completas. Abrange as edições de Luz dos meus olhos, em 1912 e 1921, de Noite cheia de estrelas, em 1925 e 1928, e de O caminho enluarado, em 1932, 1937 e 1939, e versos posteriores publicados, que no volume formam a 4ª parte, denominada Calam-se os ninhos.

     É um livro velho, dirão uns. Um livro fiel, dirão outros. Velho, ou fiel, como queiram interpretá-lo, é um livro meu, livro dos meus cantos, cantos de um homem que viveu toda a sua vida, apenas, pelo coração.

  1. T.

     A propósito de Adelmar Tavares, vou transcrever o artigo publicado no Estado de Minas, daqui de BH, do Acadêmico Alberto Deodato, a respeito do meu primeiro livro, “Peregrinando...”

 

A BELEZA DAS TROVAS

                                           Alberto Deodato

 

     Em toda mocidade há sempre um verso e um beijo. Não me lembro quem escreveu isso. Mas na minha juventude a frase andava de boca em boca. A frase, o verso e o beijo. Não havia serão de estudante em casa de família, onde faltasse um recitativo, inclusive a monotonia do acompanhamento da "Dalila", ao piano. Decorava-se muito poesia dos outros. Não havia moça romântica sem o seu caderninho de versos. O seu álbum. Era um trabalhão para os namorados procurar poetas famosos para escrever no álbum. A Livraria Garnier era, com a Espanhola, os pontos a que compareciam os intelectuais da época. Na tocaia, diariamente, namorados e irmãos, com a encomenda feminina de um soneto, uma trova ou o simples autógrafo do poeta. Havia filas. Todos muito gentis. Vaidosos do pedido. Outros, meio malcriados. Como o meu saudoso Lima Barreto, que escrevia as seguintes linhas de cara fechada:

– Viva Nosso Senhor Jesus Cristo...

     Catulo repetia em todos os álbuns:

"Qual seria o anel do poeta

se o poeta fosse um doutor?

Uma saudade brilhando

Na cravação de uma dor..”.

     Mas dois poetas eram os mais procurados. Adelmar Tavares e Belmiro Braga. Eram trovadores. Do primeiro, lembro-me de que, na noite em que chegou o Zeppelin ao Brasil alta madrugada, esperamos o dirigível, bebendo chope no Passeio Público. Recitou-me dezenas de trovas suas e dos outros. Inclusive a trova mais bonita do mundo, de um poeta mexicano. Já a publiquei várias vezes. E vai mais uma:

" Convence-te, mujer, que hemos venido

a este mundo de lágrimas que abate:

tu, como paloma, para el nido

Y yo como leon para el combate."

     Esse recitativo interminável de trovas é porque os meu amigos sabem que é gênero de poesia que mais me encanta. É poesia que não tem meio termo. Quando é boa, basta uma leitura para decorar. Quando é ruim, não nos tomou o tempo a leitura. Osvaldo Soares e Djalma Andrade são os maiores em Minas. Isso tudo é a propósito de um livrinho que recebi. "Peregrinando", de José Fabiano. Decorei essa quadra:

"Conserva, sempre, contigo,

a palavra que conforta,

para dizê-la ao amigo

que bater em tua porta..."

( "Estado de Minas", de Belo Horizonte, MG, de 24/07/1974 )

 

     Prosseguindo, A. T. inclui “LUZ DOS MEUS OLHOS(MIRIAM) (1912 e 1921), com a transcrição dos versos de Raimundo Correia, Poesias:

 

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Também dos corações, onde abotoam,

Os sonhos, um por um, céleres voam,

Como voam as pombas dos pombais.

 

No azul da adolescência as asas soltam,

Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,

E eles aos corações não voltam mais...

 

     E começa o desfile dos poemas de Adelmar Tavares:

 

Uma barquinha branca... Uma cabana...

E em volta da cabana –  coqueirais...

O mar em frente... A vida soberana

de ser pobre e pescador...

Viver feliz com o teu amor,

e nada mais...

 

Ou no cimo de um monte –  uma choupana,

e em volta da choupana – laranjais...

Soprar a flauta quérula, de cana,

ter um rebanho e ser pastor...

Viver feliz com o teu amor,

e nada mais...

 

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DO BANHO

 

Manhã. Verão. Um sol rútilo, e quente.

Gritos das andorinhas no telhado.

Há no dia uma festa de noivado.

No ar, - um perfume que entontece a gente...

 

Do gabinete, no silêncio amado,

leio, e medito preguiçosamente.

Ouço cantar... És tu, meu lírio doente,

que vens do banho morno e perfumado.

 

Rumor de chita nova se quebrando...

Aromas de jasmins sobem revoltos,

enchendo a sala onde tu vais passando

 

e deixando uma música de avenas,

gorjeios claros de canários soltos,

frou-frou de cisnes sacudindo as pernas...

 

***

AS ESTRELAS

(Trovas)

 

No céu, - frente à sua casa,

primeira vez que a beijei,

brilhava, linda, uma estrela...

ninguém nos viu, bem o sei.

 

Mas não sei que disse a estrela,

que há, desde essa ocasião,

bem defronte à sua casa,

toda uma constelação...

 

     Oportunamente, prosseguirei na transcrição das POESIAS COMPLETAS, de Adelmar Tavares.