Renê Bittencourt - Rio de Janeiro

RENÊ BITTENCOURT (Renê Bittencourt Costa) nasceu no Rio de Janeiro, Ilha de Paquetá, em 23 de dezembro de 1910, filho de Francisco Bittencourt e Carmen Bittencourt Costa.  Artista de raro talento, além de trovador e poeta em todos os sentidos, consagrou-se como um grande compositor musical, com mais de trezentas composições gravadas por inúmeros intérpretes. Alguns exemplos:  "Sertaneja" e "Sinha Mária", com Orlando Silva; "Senhor da Floresta" e "Garoto da Rua", com Augusto Calheiros; "Era uma Vez", com Gilberto Alves; "Canção da Criança" e "Brasil de Amanhã", últimas gravações de Francisco Alves; "Orgulho e Inquietação", com Carlos Galhardo; "Prece de Amor" e "Nono Mandamento", Com Caubi Peixoto, Nelson Gonçalves, etc.  Faleceu no Rio de Janeiro em 21 de novembro de 1979.

Somos vaidosos por isto:
Deus, com bondade na voz,
deu tanta humildade a Cristo,
que não sobrou para nós!

Deus faz tudo e silencia ...
de tudo Deus é capaz ...
E o homem, que nada cria,
propala o nada que faz !

A morte é sempre surpresa
e como vem ninguém sonha.
Jesus morreu de tristeza,
Judas morreu de vergonha!

Acreditar numa ofensa
é crer, é crer tão somente
naquilo que a gente pensa
que os outros pensam da gente.

Refloresceste-me a vida.
Depois, buscaste outros ares.
Muito obrigado, querida,
até por me abandonares!

Alívio à dor da matéria,
qualquer doutor pode dar.
A dor moral, que é mais séria,
a prece pode curar.

São José, figura obreira
e carpinteiro de luz,
fez muita coisa em madeira,
mas nunca fez uma cruz!

Tolice, Herodes, pilhéria!
O corpo vai, a alma fica!
Crucificaste a matéria.
A alma ninguém crucifica!

Eu chorei muito ao nascer.
Todos riram no berçário.
Espero, quando eu morrer,
que seja tudo ao contrário!

Dos inventores e inventos,
o mais sublime é cristão:
Jesus, nos seus sofrimentos,
foi o inventor do perdão!

Não crer em Deus é ser louco!
É louco porque o descrente,
aprofundando-se um pouco,
esbarra em Deus, fatalmente!

Saudade tem um motivo,
porém, não tendo um motivo
que motive esse motivo,
saudade não tem motivo.

Sou rei do mundo!  Sou rei
da vida, de tudo enfim!
No amor, no entanto, não sei...
qualquer mulher manda em mim.

Briga o homem.  Briga sério,
por um império qualquer,
para trocar esse império
por um olhar de mulher.

Para alcançar quase nada,
a gente encontra na vida,
no fim de uma longa estrada,
outra estrada mais comprida.

Espinho não tem perfume.
E nos fere com rancor,
na luta que, por ciúme,
trava em defesa da flor.

Meu coração não tem dono!
Graças a Deus já não tem!
Com dono, me tira o sono...
e eu nunca dormi tão bem!

O verme é nosso produto,
e esse produto nos come.
Depois, transforma-se em fruto
para matar nossa fome!

Na guerra é isto que ocorre:
quem mais enxerga, não vê.
Quem morre sabe que morre,
mas nunca sabe por quê.

Por esta dor que deprime
aos poucos meu coração,
vou processar-te por crime
de provocar solidão.

Ela, com frases tão frias
e seus carinhos profanos,
destruiu em poucos dias
um amor de muitos anos.

Quem comete um desatino
e quer esconder que errou,
acusa sempre o destino,
dos erros que praticou.

Meu coração desolado,
por onde você passou,
tranquei-o, tão bem trancado...
- Não é que a saudade entrou?!

Suicidar-me? Não sou louco!
A tal gesto não me atrevo.
- Quero viver mais um pouco
e pagar tudo que devo!...

Meus erros são bem pequenos,
assim mesmo aceito a cruz.
- Por menos, por muito menos,
crucificaram Jesus!