Rodrigues Crespo

     JOSÉ RODRIGUES CRESPO, nasceu em Campos/RJ, a 03 de agosto de 1896. Seu pai tinha o mesmo nome e sua mãe era Laudelina de Azeredo Crespo. Jornalista. Bancário.  Passou a residir em Belo Horizonte, onde faleceu.

(OBS: esta primeira trova foi a campeã dos I Jogos Florais de Nova Friburgo, realizados em 1960, 1º lugar no tema "Amor".
Não me chames de senhor
que não sou tão velho assim,
e a teu lado, meu amor,
não sou senhor. . . nem de mim!

Originário de um surto
de inspiração impudica,
o plágio é o único furto
que o próprio ladrão publica!

A vaidade de um poeta
que conhecemos a fundo,
se fosse coisa concreta,
não caberia no mundo...

Ninguém leva para a cova
seu mais legítimo bem.
- E nisto reside a prova
de que nada é de ninguém...

Como? Por quê? Onde? Quando?
- Indaga o poeta, intranquilo.
E a Vida, continuando,
não se detém para ouvi-lo...

TROVAS DE BOM HUMOR

Casou-se o velho com a bela,
mas a criança a quem sai?
Nem a ele nem a ela,
pois tem a cara do pai...

Moça, ninguém te resiste
com uma saia tão bela,
- embora eu saiba que existe
quem te prefira sem ela!

A sociedade é um torneio
de parceiros em negócios:
cada sócio busca um meio
de lesar os outros sócios...

Certos críticos se impõem
como mestres de poesia...
Mas os versos que compõem,
santo Deus, que porcaria!

Quando por fraca poetisa
um crítico se derrete,
o leitor logo ajuíza:
- essa poetisa promete...

 

   IN EXTREMIS  (este poema foi extraído do livro "A Trova no Brasil", de Aparício Fernandes. Os versos, dramáticos, de Rodrigues Crespo, por si só dizem tudo:

     PONTO FINAL

Para mim, malgrado os danos,
a vida foi um prazer.
Vivi setenta e quatro anos
e, agora, devo morrer.

Portador de mal sem cura
que não me deixa dormir,
sei que a morte, nesta altura,
é o meu forçoso porvir.

Pouco a pouco, em puz desfeito,
murcha o meu único rim;
e, estendido sobre o leito,
aguardo o próximo fim.

Desta fanada existência
levo a esperança, porém,
de conservar a consciência
do meu estado, no Além.

Creio que Deus me convida
a conformar-me com o mal;
e, para dar-me outra vida
põe, nesta, ponto final.