Selma Patti Spinelli

      Ela nasceu poeta, embora demorasse um pouco a percebê-lo. Tornou-se primeiramente ilustre como sanitarista, cientista social, professora de Medicina Social. Depois descobriu a trova e apaixonou-se definitivamente pela quadra de redondilhas. Hoje Selma Patti Spinelli é uma premiadíssima trovadora, conhecida e admirada em todo o Brasil e além-fronteiras. E é também uma das líderes mais dinâmicas do trovismo, atualmente dedicando-se de alma e coração aos seus encargos de presidente da UBT-São Paulo.

          Texto de Antonio Augusto de Assis - Maringá
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Estou só... mas sou feliz;
vou vivendo mesmo assim:     (8º lugar Friburgo 2008)
por escolhas que não fiz,
mas a vida fez por mim!

Ela tarda mas não falha;           (co-vencedora UBT SP - 2002)
enfrentá-la é meu fadário...
A noite é como navalha
na carne do solitário!

Não atires ao desterro                                        (Venc. Niterói 2001)
aquele irmão que pecou:
é bom combater o erro,
mas não aquele que errou!

Quem, no rumo desta vida,
se distrai na caminhada
pode acertar na partida,
mas pode errar na chegada.

Das estrelas não esperes
mais que palavras ao vento;
as estrelas são mulheres
que piscam sem sentimento.

Que tu sejas nos teus brios,
quando buscares a glória,
altivo nos desafios,
mas humilde na vitória!

Tu lês os versos que eu faço,
e nem sequer adivinhas...
o segredo que eu te passo,
no espaço das entrelinhas...

No refúgio desmanchamos,                          (MH Friburgo 2004)
quando ficamos a sós,
esses nós que carregamos
no fundo de todos nós!

Vejo em frente, ali na praça,                    (M.Especial Belém 2003)
só lixo, trapos e panos;
e, para a minha desgraça,
no meio - seres humanos!

O vento leve do estio
espalha s folhas do outono;
e a terra, fofa, no cio,
se entrega aos braços do outono.

Amor de perdas e danos,
triste contabilidade:                     (Menção Especial em Pinda, 2006)
resgate dos desenganos;
sobras de caixa-saudade!

Serras íngremes, carpadas,
tão difíceis na subida,
são metáforas caladas
dos infortúnios da vida!

Desavenças de rotina;
palavras duras ao leito...                  (trova vencedora em Amparo, 2006)
O casamento termina
quando termina o respeito!

Nas fendas que o sol calcina,
da seca em rude aspereza,
os pingos da chuva fina
são beijos da natureza!

Nas cartas, sê verdadeiro!
Cuida bem tudo o que dizes:
pois cartas são travesseiro
nas noites dos infelizes.

Sou fiel e não te nego
este dever que é uma lei:
não pelo amor que foi cego,
mas pelo "sim" que te dei!

HUMORÍSTICAS

- Vai um chopinho? É do bom!                  (2º lugar Friburgo 2004)
- Eu só bebo destilado.
E o otário do garçom
pôs o copo do outro lado.

- Que dança é essa, Maria,             (co-vencedora UBT SP - 2003)
que você se espatifou?!
- Nós treinamos todo dia;
desta vez o Rock errou.

No casório do vizinho                       (vencedora em Pouso Alegre - 2002)
a geografia fez troça:
a noiva é de Curralinho
e o noivo é de Ponta Grossa.

Até no "terreiro" em prece,
é preguiçoso, o farsante:                        (4o. lugar Friburgo 1998)
quando o "santo" dele desce,
só vem... de escada rolante!

A crise nos invadiu...
pindaíba nacional:
não sei se o real caiu
ou se eu "caí na real"...

Ideia de bom aceite
é vender as estatais;
pois mesmo não dando leite,
estão “mamando” demais...

A ratazana e o ratinho
brigaram feio, de fato:
foi ciúme do vizinho,
que, na verdade, era um “gato”!

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