Sobre Política e Poesia - 16.01.2021 - texto de Messias da Rocha

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SOBRE POLÍTICA E POESIA
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(texto de Messias da Rocha, presidente da UBT de Juiz de Fora)​​​​​​​

       Amigo e poeta  Edy, prazer imenso em tê-lo como interlocutor, em um assunto dos mais poéticos, dentro da realidade do mundo atual. Você tece críticas aos Jogos Forais de Juiz de Fora  dizendo que “A Trova, no meu Estado viveu – e sobreviveu – por décadas à margem da UBT”. Contesto:  a trova não sobreviveu por décadas,  no seu estado, à margem da UBT. 
​​​​​​​     “A origem da Poesia Trovadoresca Medieval (que não pode ser confundida com a trova-quadra moderna nem a daqueles tempos recuados) perde-se no tempo, contudo Foi  a criação literária que mais destaque alcançou entre as formas poéticas medievais, originárias de Provença, Sul da França.”
Há de convir, amigo, que a trova sobrevive há alguns séculos, sem a UBT e sem o seu estado. Juiz de Fora, assim como Campos dos Goytacazes, foram das primeiras cidades que aderiram ao movimento trovadoresco, impulsionado pelos grandes poetas Luiz Otávio e JG de Araújo Jorge nos idos de 1966. Tive o prazer de conhecê-los, assim como desfrutei da convivência com Aparício Fernandes, Elton Carvalho, Izo Goldman, Roberto Medeiros, Hegel Pontes, Domervilly  Nóbrega , João Rangel, Colbert Rangel e Mário Peixoto. Muitos e muitos outros , que citados transformariam este texto em um chatíssima lista telefônica.
Fico perplexo ao ver que, você, um homem de origem simples, de formação cultural cristã e humana, questione temas como: MULHER”. Um belíssimo tema, que suscitaria a criação de belíssimas trovas, expondo toda a poesia que o tema exala, se não fosse pela exigência expressa do concurso, como mostra este trecho do seu regulamento: 
“3 - Tema Nacional e Internacional (Veteranos e Novos Trovadores) “Mulher. Os trovadores veteranos e novatos falarão sobre empoderamento feminino, respeito às mulheres e a seus direitos, igualdade para elas no trabalho, nas oportunidades, podendo, também, abordar o enfrentamento de todos os tipos de violência perpetrados contra elas. 
    Duvido que qualquer mulher, consciente de seu papel  na sociedade se ja capaz de contestar estas proposições, e, até mesmo, imaginar, que um tema de alcance social desta grandeza,  possa gerar trovas racistas e revoltadas.
4 – Tema exclusivo para trovadores de Juiz de Fora (filiados ou não à UBT). Preconceito e desigualdade. Para os trovadores locais ficará o encargo da abordagem das diferenças sociais, culturais, físicas, sobre sua aceitação, bem como o combate contra os preconceitos, visando a desconstrução das desigualdades que imperam no mundo atual.
Da mesma forma, creio que a abordagem do preconceito e da desigualdade, são um estímulo ao pensar de um jeito humano, consciente, honesto e digno no combate aos convencionalismos, sejam raciais, sexuais, religiosos, políticos ou sociais. Somos todos filhos deste mundo. Somos todos cidadãos da Terra e, quem se posiciona contra estes direitos, deve ser como quem não gosta de samba: “ou ruim da cabeça, ou doente do pé”. Ninguém é superior ou inferior.
Infelizmente, você não abordou o nosso tema voltado para os estudantes. A “Amazônia”. 
A dimensão da destruição atual da Amazônia é muito maior do que se divulga.
Este bioma contém, atualmente, a maior e mais diversificada floresta tropical do mundo e ali se concentram interesses econômicos que promovem grilagem de terras, expansão de fronteiras agropecuárias, mineração e a exploração econômica descontrolada, e o pior: o desmatamento, que trás nos seus rastros, incêndios, extração de madeira e caça descontrolada.

 Infelizmente, Edy, quem se opõe a temas de tanta significação social e humana, não deve fazer parte de nossa raça. Dentro de tal raciocínio e só por isto, deve ser perdoado. Acima de qualquer preconceito e por sobre qualquer forma de retaliação. Amor é outra coisa.

Vou citar cinco exemplos de trovas e temas sociais, que para alguns possam parecer comunistas, mas são simplesmente, humanos.

XXII Concurso de Trovas da ATRN - 2002 
(Academia de Trovas do Rio Grande do Norte)
ÂMBITO NACIONAL - TEMA: "CIDADANIA"

 1º lugar: ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS - Maringá

Cidadania é civismo;
sobretudo é comunhão:
é ajuda mútua, é altruísmo,
partilha justa do pão!

X JOGOS FLORAIS DE AMPARO – 2000
ÂMBITO NACIONAL = TEMA “NATUREZA”

A natureza hoje chora
a cruel devastação
que faz o verde ir embora
e veste de cinza o chão!...
3º lugar - SONIA MARIA DITZEL MARTELO – Ponta Grossa

V JOGOS FLORAIS DE BANDEIRANTES/PR = 1981
TEMA = “DEFICIÊNCIA”

OBS: Ao propor o tema DEFICIÊNCIA para os V JOGOS FLORAIS DE BANDEIRANTES pensamos nos engajar nas promoções do Ano Internacional do Deficiente, buscando, quem sabe, um verso, uma rima, um canto a esses irmãos que, não raro, estão em torno de nós e não os vemos, ou pior ainda, não os vemos com os olhos do coração, da fraternidade. O tema é muito árido! Muito cru, muito real! Por que não aceitar sem restrições o deficiente, num mundo deficiente?!... 
1º lugar:
Não se faça ilha isolada,
por ter no corpo, defeito,
quando sua alma é morada
dos sonhos que estão no peito.
MARIA APARECIDA LOIOLA – POUSO ALEGRE / MG
II CONCURSO NACIONAL "CIDADE DE BELO HORIZONTE" - 1988
CONCURSO  NACIONAL  (líricas e filosóficas)= TEMA:  "ELEIÇÃO"
TROVA VENCEDORA

Qual inocente criança,
que acredita na ilusão,
o povo compra esperança,
a cada nova eleição!
CAROLINA RAMOS - Santos

II CONCURSO INTERNACIONAL DE TROVAS DA BIBLIOTECA NILO PEÇANHA
TEMA: "ESCRAVIDÃO"

1º lugar: SÉRGIO BERNARDO - Nova Friburgo/RJ

Preso ao tronco, em agonia,
corpo exangue, olhar sem luz,
o escravo mais parecia
um Cristo negro na cruz.

Então pergunto; onde reside o perigo? Exatamente nas pessoas que politizam temas sociais.
Messias da Rocha - 16.01.2021