TROVAS SOBRE MAR - setembro 2018

HERANÇA POÉTICA
(Seleção de trovas de poetas falecidos, escolhidas por  Maria Thereza
 Cavalheiro, com antecedência, para serem incluídas na coluna do mês de
         outubro de 2018).

 

TROVAS sobre MAR
 

As rendas, para tecê-las,
praia rendeira, uma a uma,
tens no céu bilros de estrelas...
no mar, novelos de espuma...
ORLANDO BRITO
 
O traçado singular
que a praia expõe, com orgulho,
são as pautas onde o mar
grava os sons do seu marulho!
WALTER WAENY
 
Transforma-se a gota em fonte,
a fonte em  rio a cantar
e o rio, descendo o monte,
à distância vai ser mar...
CARLOS GUIMARÃES
 
O mar é berço ninando
o sono da lua inquieta,
em cada concha ecoando
seu grande amor de poeta.
SYLVIA HELENA TOCANTINS
 
Quando a noite já desmaia,
as espumas bailarinas
dançam nuas pela praia,
despindo os véus de neblinas.
CYRO ARMANDO CATTA PRETA
 
Ao mar, que as ondas balança,
meu viver se iguala tanto:
- tem o verde da esperança
e o salgado do meu pranto!
P. DE PETRUS
 
Noiva do mar! No horizonte,
entre mistérios e brumas,
a praia ostenta na fronte
uma grinalda de espumas.
COLBERT RANGEL COELHO
 
Mar, que fazes tuas preces
com tanto ardor e ansiedade,
eu julguei que não soubesses
como dói uma saudade...
COLOMBINA
 
Gaivotas beijando o mar
num vaivém gracioso e lento,
da praia, fazem lembrar
brancas pétalas ao vento...
LUIZ OTÁVIO
 
A praia... o navio... o lenço...
e um adeus todo ansiedade...
Num cenário assim – eu penso,
foi que nasceu a saudade...
CESÍDIO AMBROGI
 
A voz dos ventos distantes,
dentro das conchas do mar,
são preces dos navegantes
que não puderam voltar.
HEGEL PONTES
 
O mar que geme e palpita
no seu tormento profundo
é uma lágrima infinita
que Deus chorou sobre o mundo!
LILINHA FERNANDES
 
Nas praias, quando demoro,
do mar ouvindo o rumor,
meu peito é um búzio sonoro,
cheio de trovas de amor!
KIDENIRO TEIXEIRA
 
Em calma ou na tempestade,
O mar tem algo divino:
- Imenso como a verdade,
incerto como o destino.
ZÁLKIND PIATGORSKY
 
Sou, na vida, uma jangada
que vence o mar e os abrolhos,
mas naufraga na enseada
do verde mar dos teus olhos!
ALBERTO FERNANDO BASTOS
 
Os remos batem nas águas:
têm de ferir para andar.
As águas vão consentindo
- esse é o destino do mar.
CECÍLIA MEIRELES
 
Essas espumas do mar
são rendas brancas das saias
que as sereias vão deixando
abandonadas nas praias.
ABGUAR BASTOS
 
Lembra o mar a mão incerta
que oferece e quer negar:
avança fazendo oferta,
recua para não dar!
ARCHIMIMO LAPAGESSE
 
Quando o sol, seguindo as sendas
do ocaso triste, desmaia,
vejo o mar tecendo rendas
na branca areia da praia!
REINALDO AGUIAR
 
O mar é o mais doce amante
pois não cansa de beijar,
num lirismo alucinante
toda praia que encontrar.
GISLANE CANALES
 
HOMENAGEM PÓSTUMA
O sol nasce e morre. A vida
tem os seus polos fatais...
Cada hora é nau perdida
que ao porto não volta mais!
MARIA THEREZA CAVALHEIRO
   (25-01-1929 * 02-09-2018)

 

NOTA DO SITE Falando de Trova =   
Matéria enviada por Amaryllis Scholenback, prima de Maria Thereza Cavalheiro.  Maria Thereza sempre teve o cuidado de nos enviar, ao final de cada mês, um belo conjunto de trovas atreladas a determinado tema, todas compostas por autores/as já falecidos/as. Quis o destino que nessa última seleção feita por ela, tivéssemos que incluir mais uma: justamente a de sua autoria. A brilhante poeta e amiga nos deixou no dia 02 de setembro de 2018, criando mais uma lacuna impreenchível em nossos corações.
Sua prima e "fiel escudeira", Amaryllis Scholenback, esperamos que prossiga a sua tradição e continue a nos brindar com tão importantes colaborações. Maria Thereza, agora do outro lado, passa de colunista a leitora de sua própria coluna. Que repouse em paz!