Um sinal junto à boca...

                                          “Um sinal junto à boca...”

     Renato Baptista Nunes nasceu em Vassouras / RJ em 02/03/1883..Aos dez anos mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, onde seguiu seus estudos. Formou-se em engenharia militar e construiu uma linda carreira. Foi comandante da Escola de Estado-Maior do Exército, chegando à graduação de general.

     Cultor de poesias e, especialmente de trovas, no Rio ele morava justamente na casa ao lado de Gilson de Castro e só sete anos depois veio a descobrir que o seu vizinho Gilson era o famoso Luiz Otávio, cujo trabalho Batista Nunes já admirava havia tempos. O encontro, enfim, entre o militar / trovador e Luiz Otávio deu-se em 1951. Seu trabalho era apreciado também por Adelmar Tavares, o “Rei da Trova”.  Naquela época não era obrigatória a rima dupla na trova, razão porque grande contingente de seu trabalho aparece publicado com rimas simples.

     Bem, já lhes falei do General Batista Nunes, agora vou falar do "soldado raso" José Ouverney.

     No ano de 1965, estando eu, então, com 16 anos, estudava na “Sociedade Civil de Ensino”, em Pindamonhangaba. Uma de minhas colegas de sala era uma jovem chamada Ana Célia, oriunda do Rio de Janeiro,que, ao perceber que eu não só gostava de poesia como também escrevia, vez ou outra recitava algum trecho de poema que ela achava interessante. Houve uma noite em que ela me falou os seguintes versos:

Tens um sinal junto à boca:
fonte de todo o meu mal;
ao beijá-lo, fui punida
por avançar o sinal.

     Achei aquilo bonito. Cheguei até a cultivar pensamentos outros em relação à moça. Estaria ela interessada em algo mais do que amizade? Mas guardei pra mim as divagações. Extremamente tímido como era à época, mesmo que tal possibilidade se abrisse por parte dela (uma moça muito bonita, por sinal), por meu lado o platonismo continuaria a imperar.

     Em resumo: foi aquela a primeira vez em que ouvi algo que, viria a descobrir alguns anos depois, chamava-se “Trova”. E nunca mais me esqueci dos versos do “sinal junto à boca”. E nem da Ana Célia. Por onde andará?

     E sempre tem aquele leitor mais ansioso que poderá ficar perguntando: - Mas... o que tem a ver o General Batista Nunes com essa história?      Hoje, do alto dos meus sessenta anos, autor de mais de três mil trovas, lendo a “Coleção Trovadores Brasileiros” - Organização de Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge - Editora Vecchi – 1959, da qual fazem parte dez trovadores, cada qual com cem trovas, sendo que um deles é justamente o General Batista Nunes, venho a descobrir que a sua trova nº 25 é exatamente aquela:

Tens um sinal junto à boca,
fonte de todo o meu mal :
ao beijá-la, fui punido
por "avançar o sinal"...