Venturelli Sobrinho

      Venturelli Sobrinho (José)  (pai do Magnífico Trovador José Otávio Venturelli)nasceu em 30 de março de 1900, em Pedralva (antiga São Sebastião da Pedra Branca) sul de Minas Gerais, filho de Antonio Venturelli e de D. Paolina Castellani Venturelli. Sua infância humilde só lhe deu as primeiras letras na adolescência, quando fez o primário já com 16 anos. Trabalhou na enxada, vendeu doces e pastéis na Estação de Trem quando menino, e seu único brinquedo foi uma locomotiva de madeira e lata feita por ele mesmo.
     Seu primeiro trabalho poético foi uma trova para sua namorada.
     Sentou Praça no 8º R.A.M./75 em Pouso Alegre (MG) em 1925, escalando os postos de Anspeçada, Cabo e Sargento, sendo então aprovado no Concurso para Escola Militar de Realengo, de onde saiu Aspirante em 1928.
     Em 1926 lançou seu primeiro livro de poesias - ALVORECER apadrinhado pelo grande Osório Duque Estrada, tendo deixado mais de 30 livros.
     Aprendeu e dominou dez idiomas; Professor de Línguas Latinas, Engenheiro Civil; Piloto de pequenos aviões; Comendador Internacional, Pintor, Escultor e Desenhista, Músico e Maestro-Instrumentista de quase todos os instrumentos de corda, inclusive Piano.      Tocava flauta doce... (sua paixão)
     Era também pintor e escultor, tendo deixado mais de cem obras.
     Por falar e escrever fluentemente o Árabe, foi o tradutor do grande poeta libanês Fauzi Maluf em seu livro "No Tapete do Vento".  Traduziu em versos a Divina Comédia de Dante, enquanto se restabelecia de um infarto...
     Atingiu o Generalato em 1958.  Faleceu no Rio de Janeiro, a 30 de julho de 1981.

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Teu vulto, alegre e risonho,
num abraço alegre e estreito;
mas era apenas um sonho...
E abracei meu próprio peito!

No templo da natureza,
ao torpor das noites quietas,
a Lua é uma hóstia acesa,
para a comunhão dos poetas!

Tudo é festa quando assomas
e com festas me seduzes;
teu corpo, festa de aromas,
teus olhos, festa de luzes!

Guerreiros de altas conquistas,
nos calores da emoção,
meus lábios são veranistas
à espera do teu verão...

Teus passos eu sigo a esmo,
numa atração que me assombra,
deixando de ser eu mesmo,
para ser a tua sombra...

No bosque de estrelas e ermos
que, enlevados, contemplamos,
convido-te a nos perdermos,
uma vez que nos achamos!

Quando o meu amor confina
com o teu, beleza nua,
bebo volúpia divina,
mas a sede continua...

A trova é somente trova
se caldeada na pureza,
encarnando ideia nova
na síntese e na beleza.

Inspirações, para tê-las,
um poeta apenas requer:
no céu, a Lua e as estrelas;
na Terra, o amor e a mulher.

Não há mais doce envolvência,
poesia mais inspirada
que as luzes da madrugada
nos olhos da adolescência...

Neste trajeto, onde escolhos
se afiam em desenganos,
feliz de quem tem nos olhos
a alegria dos vinte anos!

Deus, quando fez a beleza,
no seu eterno mister,
deu realidade à incerteza,
esculturando a mulher.

Graça e beleza reunidas
ao perfume da moral
são as joias preferidas
na criatura ideal.

Eliminando os escolhos,
fiz a rua da ilusão
que começa nos teus olhos
e acaba em meu coração...

Infinito de beleza
cabe na concha azulada
da pequenina grandeza
dos teus olhos, minha amada...

Faltavas em minha vida
e procurar-te era em vão,
porque estavas escondida
dentro do meu coração.

Doce mentira nos lábios
da criatura querida,
tem os divinos ressábios
do melhor gosto da vida...

Em tentadores assomos,
a encher-me de ânsias o olhar,
os teus seios são dois pomos
que faltam no meu pomar...

Quando te estreito em meus braços,
que divina sensação!
Também te quer dar abraços
meu nervoso coração...

Tens muito do que idealizo
no teu encanto moderno;
serias meu paraiso,
se não fosses meu inferno.

Um beijo, de amado gosto,
me fez ver, claro e sem véu,
no palminho do teu rosto,
a miniatura do céu...

Embora fosse tão pouca
tua presença a meu lado,
o carmim de tua boca
ensolarou meu passado.

Como o amor tudo transforma,
da dor tirando a alegria,
meu coração tem a forma
da tua fisionomia.

Depois que te vi, beleza,
eu me senti tão exposto,
que enterrei minha tristeza
na covinha do teu rosto...

Desde que te foste, quando
me abandonaste, querida,
há uma saudade rondando
em torno da minha vida.

Neste amor enclausurado,
não sou mais que um livre preso
de coração incendiado
como um turíbulo aceso.

Em solitudes lunares,
a minha saudade e a tua
cruzam os nossos olhares
na argêntea face da Lua...

O meu coração tristonho
vê teu amor pelo avesso:
da rua que leva ao sonho
eu já nem sei o endereço.

Entre a ventura e a desgraça,
vejo, entre alegre e tristonho,
que o amor é um sonho que passa,
quando não passa de um sonho...

Numa certeza ilusória,
mulheres lindas, ao tê-las,
vi que o rosário da glória
tem, como contas, estrelas...

Pelas torturas que levas
aos meus íntimos refolhos,
não há clarões com mais trevas
do que as luzes dos teus olhos.

Embora sejas, querida,
querida com todo ardor,
uma pedra tem mais vida
que a vida do teu amor.

As esperanças, apago-as
à proporção que me vêm;
a origem das minhas mágoas
só tu sabes, mais ninguém.

Nunca é bem claro o sentido
de calorosa afeição,
se há sempre um diabo escondido
nas dobras de um coração...

A um mal contido receio
entrego-me dia a dia...
Tendo o coração tão cheio,
tenho a vida tão vazia!

Neste mundo onde é terrível
o suplício da saudade,
eu não sei como é possível
viver longe da metade...

Neste viver execrando,
de um contraste negro e atroz,
vivemos sempre chorando
por quem não chora por nós...

O diabo fez a maldade,
para despertar a dor;
Deus inventou a saudade,
para castigar o amor.

Tuas mãos, alvas carícias,
tarântulas de luar,
enchem de castas delícias
a concha do meu olhar...

Menina, botão de rosa,
que na alegria viceja,
tua cabeça cheirosa
perfuma a brisa que a beija...

O teu aspecto é nobre,
divina a tua beleza;
eu não seria tão pobre
se fosses minha riqueza...

Os encantos tentadores,
meigas armas de dois gumes,
nas mulheres ou nas flores,
dependem dos seus perfumes...

De tanta doçura fartas,
recebo-as como um troféu;
cartas de amor não são cartas,
são pedacinhos de céu...

As vozes, de eco sombrio,
das minhas ânsias frustradas,
vão morrer no ouvido frio
das pedras inanimadas...

Nos enlevos de uma valsa,
roubaram-me um coração;
mas como a joia era falsa,
eu perdoei o ladrão...

Nesta existência diluida
no infinito resplendor,
o amor, que é a vida da vida,
tem a vida de uma flor...

Estrelas das alvoradas,
meigas, risonhas e belas,
desfilam, iluminadas,
as deusas das passarelas...

Por que te tornaste, poeta,
eterno escravo da dor?
- Acenderam-me a alma inquieta
a mulher, o sonho, o amor...

No primeiro movimento
da primeira nebulosa,
Deus gerou o firmamento
numa sanção milagrosa...

Deus se ostenta, estrelejante,
desde as mínimas libélulas
ao Cosmos, esse gigante
que tem os astros por células...

Como um tétrico avantesma,
tudo segue para o inerme,
pois a eternidade é a mesma
para um rei e para um verme...

Para que a vida dos seres
não cessasse nunca mais,
Deus temperou com prazeres
os instintos naturais...

Numa infinita escalada,
eu, da eternidade oriundo,
venho dos tempos do nada,
sou mais velho do que o mundo.

Tu, ó Bem, que em Deus avultas,      (Menção Especial Rio de Janeiro - 1979)
e tu, Mal, anjo proscrito,
sois duas forças ocultas
nos opostos do Infinito...

Os tempos, em lento carro,
muitos milênios consomem,
até o amassar do barro
que fez o primeiro homem...

Prazer, dos deuses oriundo,
que a maioria nem sente,
é despertar neste mundo
antropomorficamente.

A crença é nobre guarida,
farol que à glória conduz;
quem anda sem Deus na vida,
anda no escuro, sem luz...

São gêmeos o riso e o pranto,
em doce-amargo torpor,
porque a lágrima vem tanto
no prazer como na dor...

Verdades devem ser ditas
velando-se lhes a essência:
cabem coisas infinitas
dentro uma reticência...

Sabei, fátuas excelências,
que parecer não é ser:
melhor que vãs aparências
é ser e não parecer...

Põe a perder um rebanho
uma ovelha só das más...
Homem puro, és um estranho,
seja aonde for que vás.

Cordilheiras, montes vários,
aos quais a distância anila,
lembram velhos dromedários
carregados de ouro e argila...

Trazendo a alma envolvida
em crepúsculos e auroras,
eu vivo as horas da vida,
vivendo a vida das horas.

A minha felicidade,
visão que tanto procuro,
é uma leve claridade
através de um vidro escuro...

O papel é leve como
a melodia de um verso;
mas a pedra, velho tomo,
conta a história do Universo...

Onde reside a incerteza,
é fácil que se conclua:
a mocidade e a beleza
residem na mesma rua...

Como um gigante perdido
num mundo liliputiano,
transpõe meu sonho vencido
a noite do desengano...

Quando a montanha tonsura
as meadas lloiras do Sol,
não demora a noite escura
vem engolir o arrebol...

Teu vulto meigo e risonho
num braço alegre estreito,
mas era apenas um sonho
e abracei meu próprio peito.

Sobre o dorso de um cavalo
de majestosa imponência,
Dom Pedro sentiu o estalo
que nos deu a independência.

Vendo que a vida se escombra
rumando à consumação,
eu sou a sombra da sombra,
a penumbra da ilusão.