Coleção “Trovadores Brasileiros” (extraído do site www.jgaraujo.com.br)
Organização de Luiz Otávio e J.G. de Araújo Jorge
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O SUCESSO DOS JOGOS FLORAIS
No momento em que publicamos este volume de trovas sobre SAUDADE, que foi o tema dos
II Jogos Florais de Friburgo, realizam-se nessa linda cidade do Estado do Rio as festas dos
III Jogos, e para lá se dirigem os dez vencedores do Concurso de trovas.
Este ano, o tema foi: CIÚME .
Tem sido realmente extraordinário o sucesso alcançado pela iniciativa minha, e de Luiz Otávio, transplantando para o Brasil a semente desses torneios culturais que se originaram na Idade Média, e ainda hoje são realizados em muitas cidades européias, na França, na Espanha e em Portugal.
Em sua secção, “Porta de Livraria”, no jornal “O Globo”, do Rio, do dia 15 de janeiro
deste ano, Antonio Olinto acentuou, ao referir-se aos III Jogos Florais de Friburgo:
“Os Jogos Florais de Nova Friburgo, patrocinados pela “Porta de Livraria” de “O Globo” e realizados naquela cidade fluminense todos os anos, em maio, tornaram-se uma constante do calendário de poesia do País. Como resultado da iniciativa, baseada em idéia de J. G. de Araujo Jorge e Luís Otávio, houve no Brasil um surto de trovas. Cerca de 50 volumes de trovas saíram nos últimos três anos, lançados por editoras do Rio. No Estado do Rio, várias outras cidades promovem festas de poesia: Campos, São Fidelis, Teresópolis”.
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O sucesso alcançado com a realização dos Jogos Florais, positivou-se com a classificação em
7.º lugar da poetisa portuguesa Ana Rolão Preto Martins Abano, residente em Benguela,
África Ocidental Portuguesa.
Vieram trovas, não apenas do Brasil, dos estados mais distantes, mas de Portugal e
Províncias Ultramarinas, até onde chegue a língua portuguesa.
Mas a colocação da poetisa da África portuguesa, nos deixou, a nós promotores dos
Jogos Florais às voltas com um sério problema. Como trazer, de tão longe, com os gastos
que tal viagem necessariamente implicaria, a poetisa vitoriosa?
O Regulamento do Concurso estabelece que os 10 vencedores têm direito a passagens
pagas a Friburgo, e estadia de 18 dias em Hotel da cidade, para participarem das festas dos Jogos Florais e dos Festejos de aniversário da cidade, que se comemora a 16 de Maio.
Procuramos o então Ministro da Educação Brígido Tinoco, nosso velho amigo, fluminense de boa cepa, homem de cultura e poeta, e lhe expusemos nossas dificuldades. Na ocasião o Presidente Jânio Quadros iniciava, em boa hora, a sua política de aproximação com os povos da Ásia, e da África, e nossa promoção, de certa forma, ia ao encontro dos objetivos de nossa política externa.
E como que por um passe de mágica, diante da compreensão e boa vontade de Brígido Tinoco, e da aprovação de Jânio Quadros, conseguimos que o Governo Brasileiro convidasse oficialmente a poetisa vitoriosa a participar dos II Jogos Florais. Dificuldades imprevistas entretanto, e a exigüidade de tempo, impediram que Ana Rolão Preto Martins Abano pudesse vir ao Brasil na ocasião. Mas, de posse das passagens, com validade para um ano, a poetisa deverá estar presente aos III Jogos Florais, como convidado especial.
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O tema saudade é um tema caro a brasileiros e portugueses. Saudade é uma palavra de que orgulha o idioma português pelo fato de os outros povos não encontrarem outra capaz de
traduzi-la.
E o resultado, é que, enquanto aos I Jogos Florais concorram cerca de 4 mil
trovas, aos II Jogos Florais, foram mandadas mais de 10 mil !
Quem não escreveu sobre saudade? No meu “Cantigas de Menino Grande” ,
tenho estas duas trovinhas:
“No peito dos marinheiros
nasceu, cresceu, emigrou...
Mas nos porões dos “negreiros”
foi que a saudade... chorou!
Demos à saudade portuguesa, que era ânsia, mais profundidade, com os gemidos
de dor dos “negreiros”. A saudade brasileira, é portuguesa e africana.
Por isso, confessei:
Partiu com sonhos de glória
Ficou, com a dor da tristeza!
Eis, afinal, toda a história
da saudade portuguesa!
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Neste livro, os leitores encontrarão 100 das mais lindas trovas que a saudade já inspirou.
Entre as vinte primeiras trovas classificadas há concorrentes do Rio, de São Paulo, de Juiz de Fora, de Niterói, de Campos, de Bandeirantes (no Estado do Paraná); e de Benguela, na África.
O vencedor dos II Jogos Florais, Anis Murad. (que se revelou aliás trovador como concorrente a esse torneio) obteve cinco trovas premiadas entre as vinte primeiras. Além de sagrar-se vencedor, viu outras trovas suas se Classificarem em 5.º, 11.º 16.° e 20.° lugares.
Anis Murad estréia aliás, em livro, como trovador, com o volume n° 9 de nossa Coleção.
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Deve-se à iniciativa dos Jogos Florais, um verdadeiro surto trovadoresco. Eu, por exemplo, recebo livros de trovas que me são mandados de todos os recantos do Brasil. A nossa “Coleção Trovadores Brasileiros”, já se seguiu o lançamento este ano, pela Livraria Freitas Bastos, da “Coleção de Trovas e Trovadores” organizada por Aparício Fernandes e Zalkind Piatogorsky.
Aparício Fernandes escreve aliás para a Rádio Globo dois programas diários de trovas:
“Trovas e Trovadores”, as 10:50h. apresentado pelo meu velho amigo Luiz de Carvalho, e "Pensamento e trova do dia" às 15:05h, na voz de Mário Luiz. Unindo-se a Zalkind Piatogorsky, poeta e trovador,organizaram essa nova coleção que apareceu logo com um “time” completo de trovadores, pois foram lançados de uma vez, onze volumes, todos com a denominação genérica de CANTIGAS.
Eu próprio, através do meu programa na Rádio Tupi, aos sábados, às 18:30 horas, programa que já está no ar há três anos, tenho divulgado a trova e os torneios Florais.
Campos, antes mesmo dos nossos Jogos Florais já realizara o seu I SalãoCampista de Trovas, sob o patrocínio da Academia Pedralva.
São Fidelis, linda cidade fluminense, vive um grande movimento cultural com os seus Festivais Fidelenses de Poesia, se ampliam anualmente em julho, tendo à frente o poeta Antonio Augusto de Assis. E o Festival Fidelense de Poesia, se amplia com uma exposição de livros, autógrafos, poemas, trovas e agora, pensam, seus organizadores em promover um concurso de trovas, tal como idealizamos em Friburgo, escolhem também uma “Musa dos Trovadores”, pleito a que concorrem moças escolhidas como “ Musas dos Trovadores ”, em várias cidades do norte do Estado: Miracema, Itaocára, Cambuci, Itaperuna, Pádua.
Cruzeiro, em São Paulo , comemorou o 60.° aniversário do Município com um grande Concurso
de trovas e a publicação de uma “Antologia da Poesia Cruzeirense”.
Na Bahia, o Grêmio Brasileiro dos Trovadores, tendo a frente o dinâmico Rodolfo Cavalcanti, poeta popular, realiza periodicamente concursos de trovas. E já que falamos na “ boa terra ”, nunca será demais relembrar que a idéia dos “ Jogos Florais de Nova Friburgo ” ocorreu-nos, a mim e ao Luiz Otávio quando em viagem à Bahia, depois que vencemos um concurso de trovas.
Teresópolis, promove este ano, de 1.º a 6 de julho, o I Festival Brasileiro de Literatura, iniciativa
da Academia- Teresopolitana de Letras, e de seu presidente, Artur Dalmaso.
O Festival se baseia em concursos literários, podendo os candidatos se inscreverem em cinco gêneros: poesia, crônica, conto, ensaio, biografia e crítica, Como vêem, um Festival, em amplas proporções.
Várias cidades do Brasil, no momento, cogitam de torneios semelhantes. Coincidência ou não, no Rio se realiza agora todo ano no mês de julho, o Festival Brasileiro do Escritor este ano o festival terá lugar na sede do Museu de Arte Moderna, e certamente repetirá o sucesso dos dois primeiros , realizados em Copacabana.
Em Pouso Alegre, estado de Minas, já aconteceram os I Jogos Florais da cidade, também com
um concurso de trovas, cujo tema foi ESPERANÇA.
As cem trovas selecionadas nesse festival constituem o volume n.º 11 de nossa Coleção.
Santos, Juiz de Fora, Sorocaba, (leio pelos jornais e revistas) estão pensando na realização de festas e torneios semelhantes.
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Alastra-se, portanto, pelo Brasil a “trovite”. Verdadeira epidemia, que não deve ser combatida, antes deve ser difundida cada vez mais pois, vai progressivamente interessando um maior número de brasileiros pelos problemas das letras e da cultura. As trovas são o primeiro degrau da poesia, o que está. mais perto do povo. Eu próprio já escrevi:
Cartilhas do coração
onde o povo se inicia,
os livros de trovas, são
um ABC de poesia:
Vamos portanto “alfabetizar” a alma do povo ensinando-a a sentir e a
cantar com os trovadores.
Porque, permitam-me mais esta quadrinha:
Modificando o ditado
direi: “Comer... e trovar...”
(está mais de que provado)
- “a questão é começar...”
J . G . de Araujo Jorge
JG de Araujo Jorge e
a rainha dos Jogos Florais
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Coleção “Trovadores Brasileiros”
Organização de Luiz Otávio e
J.G. de Araujo Jorge
100 TROVAS DE SAUDADE
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Trovas Vencedoras
1.º lugar
Maria, só por maldade,
deixou-me a casa vazia...
Dentro da casa: saudade!
E na saudade: Maria!
( Anis Murad - RJ )
2.º lugar 3.º lugar
Saudade, a ponte encantada Saudade... uma velha estrada...
entre o passado e o presente, um rancho que o mato invade...
por onde a vida passada uma porteira quebrada...
volta a passar novamente um lar sem fogo... Saudade...
( Archimino Lapagesse _RJ) ( Esther dos Santos - RJ)
4.º lugar 5.º lugar
A todo mundo insinuas Debaixo de nossa cama,
que não mando no que é teu, que tu deixaste vazia,
mas tenho saudades tuas o meu chinelo reclama
e o dono delas sou eu. o teu chinelo - Maria.
(Colbert Rangel Coelho ) ( Anis Murad - RJ )
6.º lugar 7.º lugar
Ah, coração, tem piedade... Saudade... Divina essência!
Batendo tão forte assim É tudo quanto ficou
vais acordar a saudade do bem que à nossa existência
que dorme dentro de mim... a vida trouxe e levou...
( Orlando Brito - São Paulo ) ( Ana Rolão Preto - Angola )
8.º lugar 9.º lugar
Saudade, lembrança triste Nós nos vemos com tal pressa
de tudo que já não sou... e tamanha raridade
Passado que tanto insiste que mal o encontro começa
em fingir que não passou... começo a sentir saudade.
(Edgar B. Cerqueira - RJ ) ( Bittencourt de Sá - RJ )
10.º lugar
A Saudade é simplesmente
um claro espelho encantado:
mira-se nele o Presente
e ele reflete o Passado.
( Geralda Armond - Juiz de Fora )
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Menções Honrosas
11.º lugar
Saudade - rede vazia
a balançar tristemente...
minando a melancolia
que dorme dentro da gente.
( Anis Murad - RJ )
12.º lugar 13.º lugar
Entre a tua e a minha idade, Um carro de bois cantando
filho meu, quanta distância!... na tarde que morre em ânsia,
- És a infância da saudade, vai, pesado, carregando
sou a saudade da infância... saudades de minha infância.
(José Maria Machado de Araujo -RJ ) ( Denancy Mello Anomal - Campos )
14.º lugar 15.º lugar
Foi tão bom o amor de outrora A saudade é qual pavio
que contigo já vivi, de vela que se apagou
que estando ao teu lado agora, só de fumo enche o vazio
sinto saudades de ti... que a chama antiga deixou.
(Zaira de Azevedo Conrado Leite ) ( Mario Santos Gomes Braga )
16.º lugar 17.º lugar
Essa Maria - que existe Que importa a fatalidade
chorando, nos versos meus, que te deixou sem carinho?
foi a saudade mais triste enquanto existir saudade
que alguém deixou num adeus. ninguém viverá sozinho.
(Anis Murad - RJ ) ( Raul Serrano - RJ )
18.º lugar 19.º lugar
A verdade - que maldade - A voz sentida do mar
tornou-me a vida vazia. que não cessa o dia inteiro,
Sinto falta da saudade são os cantos de saudade
que a mentira me trazia. dos rios em cativeiro!
( Januário da Silva Fernandes ) ( Adalberto Dutra de Rezende - Paraná )
20.º lugar
No meu ermo, "Soledade",
alguém bateu, certo dia.
-"Quem é? - "sou eu! a Saudade!"
-"Meu Deus! a voz de Maria!..."
( Anis Murad - RJ)
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Estas oitentas trovas, a seguir, escolhidas entre as milhares que foram enviadas
para os II Jogos Florais de Nova Friburgo não estão numeradas por ordem de
classificação. Essa escolha foi de exclusiva responsabilidade de J.G. de Araujo Jorge
e Luiz Otávio - responsáveis pela Coleção "Trovadores Brasileiros"
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n.21
Saudade assim, na verdade,
jamais na vida senti,
pois, como é grande a saudade
quando é saudade de ti.
(Walter Waeny Júnior )
n.22 n.23
Definir o que é saudade És meu filho, uma criança
é difícil como quê... -dos meus anos nem metade!
é espécie de enfermidade Tu vives de uma esperança,
de estar longe de você. eu vivo de uma saudade.
(Vera Milward de Carvalho -Caxambú ) ( Manoel Bragança dos Santos )
n.24 n.25
De Portugal foi trazida Desta saudade infinita
veio da Minho ou da Beira. não guardo mágoas, porque
Hoje ninguém mais duvida foi a coisa mais bonita
que a saudade é brasileira. que me ficou de você!
(Osório Dutra - RJ ) ( Aparício Fernandes)
n.26 n.27
Toda saudade consiste O coração, em verdade
neste contraste evidente: tem tanta contradição
uma alegria tão triste que chega a sentir saudade
numa ausência tão presente. de quem não tem coração...
(João Rangel Coelho - RJ ) ( Antonio Nilo Borges)
n.28 n.29
No Pará, nasce um capim Sendo a saudade mulher
que só perfuma pisado... quem há que este fato explique:
Saudade, sofrida assim, -não há mulher que não passe,
perfuma a vida um bocado! nem saudade que não fique...
(Carlos A. Toledo _ RJ ) ( Zalkind Piatigorski )
n.30 n.31
Saudade... Um mal persistente, Dizem que um dia, a Lembrança
que um dia nos moí... cheia de amor e bondade,
Uma dor que dói na gente, no coração da Esperança,
mas não se sabe onde dói. criou chorando a saudade.
(Dario Drumond - RJ ) ( Antonio Brandão Donati)
n.32 n.33
Só porque falo sozinho Quase sempre de mãos dadas,
chamam-me louco, - maldade! a saudade e a solidão
é que eu converso baixinho acordando coisas passadas
quando falo com a saudade... que dorme no coração.
(Jorge Murad -RJ ) (Horácio Bahiense -RJ )
n.34 n.35
Perdoa-me Deus, por piedade, De alguém que amamos, a imagem
se peco por pensamentos: que está longe, vemos perto...
- deve haver muita saudade - Saudade é como miragem
quebrando a paz dos conventos... que engana o olhar no deserto.
(Iraci Nascimento e Silva- RJ ) ( Stélio Autran - RJ)
n.36 n.37
Este bem consolador Da uva bem machucada
é minha felicidade: é o que o bom vinho provém;
- Ter presente o teu amor Felicidade esmagada
no milagre da saudade. nos dá saudade também.
(Hélio C. Teixeira -RJ ) ( Jesy Barbosa - Campos )
n.38 n.39
Estrelas da minha angústia Esta saudade é o castigo
dizei-me por caridade que aflige todo o meu ser:
como pode amor tão breve - não posso viver contigo,
deixar tão longa saudade! sem ti não posso viver.
(Anderson Braga Horta - Brasília ) (Coriolano Coelho - Campinas )
n.40 n.41
Saudade luz pequenina Saudade, coisinha a toa
nas sombras da solidão. com que tanto me comovo
No entanto, como ilumina lembrança de coisa boa
as trevas do coração! que se deseja de novo.
(Maria Izabel Miranda - Rio) ( Vicente Guimarães- Rio)
n.42 n.43
Jamais alimentaria A saudade que me invade
tanto amor entre nós dois, ninguém já sofreu, porque
se eu pensasse que viria a saudade é mais saudade,
tanta saudade depois... se é saudade de você...
( Leopoldina Dias Saraiva- Rio ) ( Darcy Tecidio - Rio)
n.44 n.45
Da minha vida, a metade Teu amor foi falsidade
levaste, sem compaixão. li na carta que me envias;
Ficou-me o resto - a saudade mas, meu bem, quanta saudade
num resto de coração. do tempo em que tu mentias!
(Augusta Campos - Rio) ( Hugo de Alvarenga Peixoto -Rio)
n.46 n.47
Um carro de boi gemendo, Há muito mais amizade,
um longo apito de trem, mais esperança e doçura,
uma porteira rangendo, depois que veio a saudade
isto é saudade também! perturbar nossa ventura.
(Carolina Azevedo de Castro - Petrópolis ) ( Helio Garcia de Matos - Rio)
n.48 n.49
Sem te ver fico saudoso, Saudade, uma voz perdida
sinto a saudade doer, entre as vozes do presente.
mas de um doer tão gostoso Ao passado dando vida,
que até dá gosto sofrer. vai tirando a vida da gente...
(Hermenegildo Pereira -Rio ) ( Nichol Xavier - Rio )
n.50 n.51
Ventura traz alegrias Arranje um amor, depois
depois a dor... desenganos... despreze-o, só por maldade,
- Conosco fica dois dias... e temos aí, pra dois,
Deixa a saudade, por anos... a receita da Saudade.
(Nice Nascimento - Rio ) ( Fernando Pereira - Rio )
n.52 n.53
De saudade estou morrendo Mal que exalta, Bem que humilha.
desde a hora em que parti, Nutre o Fraco, exaure o Forte.
nessa morte vou vivendo - A saudade é mancenilha
a vida que não vivi. que dá sombra, dando a morte.
(Manoel Lobato - Vitória ) ( Paulo Hermenegildo de Mello Vaz - Rio )
n.54 n.55
Tão grande é minha Saudade Saudade é noite de lua,
que pretendo dividi-la, entre sobrados antigos,
para dar uma metade e a gente só, numa rua,
a quem me obriga senti-la! lembrando velhos amigos.
(Annibal Vitral Monteiro - Rio ) ( Consuelo Jardim de Miranda - BH )
n.56 n.57
"Saudade" - um tema da prova Estudando a humana lida,
que me vence, me intimida... cheguei a esta verdade:
- Quem pode por numa trova todos os rios da vida
o que enche toda uma vida? vão dar no mar da Saudade.
(José Maria Machado de Araujo- Rio ) ( Leila Ribeiro Ferreira - BH )
n.58 n.59
Quando se sente vontade Saudade, sombra querida
de estar-se junto de alguém, de um alguém que já se quis...
só esse alguém é que mata Felicidade perdida,
a saudade que se tem. final de um sonho feliz.
(Zilá Mattos de Simas Enéas- Rio ) ( Edna A. de Souza - Resende )
n.60 n.61
Não foi vida bem vivida Meu passado, meus amores,
a que não sentiu saudade!... minha vã felicidade...
-Quem nela envolveu a vida Os meus sonhos, minhas dores...
é que viveu de verdade. -Tudo eu guardo na Saudade!
(Luis Ferreira da Costa - Rio ) ( Agenor Evaristo dos Santos
- S. Pedro da Aldeia )
n.62 n.63
Um eterno sofredor Ó saudade, não tens alma!...
é o coração, na verdade: Se tivesses, não virias
- primeiro, sofre de amor; tirar-me de todo a calma,
depois, sofre de saudade... matar-me todos os dias...
(Antonio Nilo Borges - Rio ) ( Lia Quartin Nessi - São Paulo)
n.64 n.65
Paisagens do meu passado... Saudade, viola tocando
Com que profunda ansiedade na roça, em claro terreiro,
vos contemplando, debruçado, Lua tristonha enfeitando
na janela da saudade... a canção de um boiadeiro...
(Orlando Brito -São Paulo ) ( Almeida Correa - Rio)
n.66 n.67
Ó minha lembrança, quando A Saudade da Bahia
ao passado me transportas tem o agridoce do umbu,
vejo a saudade chorando o cheiro da manga-rosa,
aos pés de esperança mortais! o pigarro do caju
(Arípio Fortes - Rio ) ( Jayme de Faria Góis -Rio )
n.68 n.69
Só quem calcula as saudades Fiz da saudade um segredo
que eu sinto do que perdi que num cofre está guardado,
é que concorda comigo: se eu perder esta saudade
-Eu já não vivo... Eu vivi... perco todo o meu passado...
(Júlio Zamith - Friburgo ) ( Aída Rodrigues Frango- Petrópolis)
n.70 n.71
De tudo a perdoaria, Vingativo, por maldade,
(coisas de quem muito amou) rogo-te pragas, meu bem:
-só não perdôo a saudade que sintas esta saudade
que ela, maldosa, deixou... multiplicada por cem.
(Aparício Fernandes -Rio ) ( Colbert Rangel Coelho- Rio )
n.72 n.73
Por que meu fado se atreve Saudade, tu representas
a dar-me, após a desdita, como se fosses atriz,
para um amor que foi breve repetindo toda a história
esta saudade infinita? do nosso tempo feliz.
(João Rangel Coelho- Rio ) ( Célia C. Cavalcanti- Rio)
n.74 n.75
Há vozes ou vibrações Saudade é a areia moída
vindas de remota idade que devagar, grão por grão,
que trazem revelações cai da ampulheta da vida
de inexplicável saudade... e pousa no coração.
(Alfredo Moraes -Rio ) ( Amélia Tomas -Cantagalo)
n.76 n.77
O teu berço perfumado Saudade, meu bem, existe
que eu trago sempre escondido: nessa distância sem fim!
é a Saudade um recado -É tudo aquilo de triste
do nosso amor proibido. que te separa de mim...
(Antonio Brandão Danati -Rio ) ( Aparício Fernandes - Rio)
n.78 n.79
O trem cortando a cidade Fugaz, a Felicidade
o frio cortando a gente; chega e passa como o vento...
-ah! como corta a saudade Bendita, pois, a Saudade
que de Friburgo se sente! que eterniza esse momento.
(Colbert Rangel Coelho -Rio ) ( Irací do Nascimento e Silva -Rio)
n.80 n.81
Eis o dilema aflitivo O tempo é ladrão perfeito
que o meu coração maltrata: mas a saudade o enganou,
sentir, afinal, que eu vivo escondendo no meu peito
a saudade que me mata! o que o tempo me roubou...
(Antonio Nilo Borges -Rio ) ( José Maria Machado de Araujo- Rio)
n.82 n.83
Ela se foi, porém vi Não há nenhuma tristeza
que jamais me abandonou maior do que minha dor:
quem deixou tanto de si esta saudade é a certeza
na saudade que deixou... do que perdi teu amor...
(Walter Waeny Junior -Santos ) ( Helio C. Teixeira -Rio)
n.84 n.85
Muitos dizem que a saudade Chegou o outono... Emudeço
só faz a gente sofrer. de desespero e de dor...
A mim, com sinceridade, -Saudade, dá-me o endereço
saudade ajuda a viver. da Primavera e do Amor...
(Vera Milward de Carvalho -Caxambu ) (Zaira de Azevedo Conrado Leite _ Rio )
n.86 n.87
Quando tu fores, querido, Saudade, - coisa tão vaga,
vazio não vais deixar, concretiza o que passou;
pois ficará a saudade é juro que a gente paga
ocupando o teu lugar. pelo bem que desfrutou.
(Zila Mattos de Simas Eneas -Rio) (Bitencourt de Sá -Rio )
n.88 n.89
Modéstia a parte, em verdade, De Portugal desterrada
comigo sucede assim: para o solo brasileiro
sinta ou não sinta saudade, Saudade veio embarcada
sentem saudade de mim... no peito de um marinheiro.
(Zalkind Piatigorsky - Rio) (Orlando Brito - São Paulo)
n.90 n.91
Por a saudade num verso A Saudade, em confidência,
numa trova; que emoção! tão lindas cousas me diz,
É concentrar o Universo que eu chego - doce inocência -
na palma da minha mão ! a pensar que sou feliz!
(Jesy Barbosa -Campos ) ( Osório Dutra -Rio)
n.92 n.93
Num mundo de falsidade, Quanta saudades... E ao fim
mergulhado em amargura, uma saudade ficou:
eu fiz da minha saudade esta saudade de mim,
um poema de ternura... esta saudade que eu sou.
(Aída Rodrigues Frango ) ( Hermenegildo Pereira - Rio)
n.94 n.95
Saudade vem de mansinho Não sei de maior maldade,
que a gente nem se apercebe... ou pecado mais pecado,
Parece o efeito do vinho que, para não ter saudade,
horas depois que se bebe!... não amar, nem ser amado!
(Aníbal Vitral Monteiro -Rio ) ( Zalkind Piatigorsky - Rio)
n.96 n.97
Deixei aberta a janela A saudade prova, então,
desta minha alma sonora... que tem força como quê:
A saudade entrou por ela faz tremer a minha mão,
e nunca mais foi-se embora. quando escrevo pra você.
(João Rangel Coelho -Rio ) ( Jorge Murad -Rio)
n.98 n.99
No meu peito inda perdura Quem tem saudades padece,
algo do bem que te quis. quem padece tem amor,
Mal de amor, quando se cura, quem tem amor não esquece,
deixa sempre a cicatriz... quem não esquece tem dor.
(Anderson Braga Horta - Brasília ) ( Olga de Oliveira Shimidt - Florianópolis)
n.100
Friburgo... A Praça... O trenzinho
cortando, lento, a cidade.
Recordo e choro baixinho
o que foi sonho e é saudade...
(Beatrix dos Reis Carvalho - Rio )
Coleção “Trovadores Brasileiros”
Organização de Luiz Otávio e
J.G. de Araujo Jorge
Editora Vecchi – 1959