A morte não me intimida... / Perfil de dor que eu descarto.
A morte é somente a vida / fazendo um segundo parto!
(Vencedora em Niterói, 1994)
Na vida sou inquilino... / Meu corpo é casa, de fato!
Meu senhorio destino / um dia rasga o contrato!
(Menção Honrosa Juiz de Fora, 1987)
Um dedo contra os pilares.. / murmúrios...silêncio! Tédio...
É a fome subindo andares / pelo interfone do prédio!
(Menção Especial Niterói 1993)
Cidade grande, e o pirralho, / nos trapos do desafeto,
parece um pobre espantalho / na lavoura de concreto!...
O destino fez-se artista / num corpo pobre, aleijado;
e o dom maior... barroquista, / esculpiu o apostolado!
(Menção Especial Juiz de Fora, 1987)
O céu aceso no pasto, / a unir milhões de vidrilhos,
campeia meu sonho gasto, / com seu chicote de brilhos...
(Menção Honrosa Santos, 1987)
Do teu desprezo ando farto / e, em meu orgulho, pressinto
que o trecho da sala ao quarto / nos parece um labirinto!
(Vencedora em Nova Friburgo, 1994)
Difícil saber de quem a perda mais sentida: se a minha, que perdi um primo; se o Brasil, que perdeu um artista do maior brilho. Quem compõe versos como esses, acima, não foi apenas mais um poeta: foi “O POETA”. E como se não bastasse, foi um grande escultor, compositor, carnavalesco, etc.
E agora ele virou saudade... PAULO CESAR OUVERNEY, jovem ainda, nascido a 01 de setembro de 1953, oriundo do Rio de Janeiro (como todos os Ouverney), há muitos anos radicado em Juiz de Fora, nesse dia 16 de novembro de 2010, conforme seus próprios versos, bem no alto desse texto, “nasceu outra vez”. “Deixou de ser inquilino e o senhorio destino rasgou seu contrato.”
Com efeito, segundo palavras de sua filha Janaína, com quem conversei, “papai começou a morrer três anos atrás, quando perdeu mamãe”. Que era Cristina, sua esposa... um desses casos de amor que o poeta tanto canta mas que, às vezes, também o vivencia. E Paulo foi um desses privilegiados.