A Família do Trovador

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A FAMÍLIA DO TROVADOR       -       por A. A. de Assis      

     Se a família do trovador soubesse o quanto a trova lhe faz bem à saúde, seria a primeira a dar-lhe máximo apoio. Começando por entender que "em cabeça onde entram versos não entram grilos". Para idosos, então, a trova é um verdadeiro achado. Não há melhor ginástica para o cérebro. Mesmo que o verso resulte pobrezinho ou manquitola, ainda assim faz bem à beça.

     Se você tem um trovador em casa, preste atenção nele: jamais perde o bom humor. Em vez de ficar resmungando contra isso ou contra aquilo, ele se põe sereno em seu canto e se põe a bater sílabas nos dedos. Já tem até calos nas costas do polegar. Com isso distrai a alma, sossega o coração, faz funcionar o "instrumental pensante".

     Há quem prefira jogar damas ou fazer palavras cruzadas. O poeta faz versos, brinquedo inigualável. Se lhe sobram alguns trocados, manda imprimir o produto em livro e feliz da vida distribui com dedicatória aos parentes e amigos. Alguns deles, mais craques ou mais sortudos, chegam até a vencer concursos. Vão às festas de premiação, encontram lá um punhado de irmãos de rimas, recebem troféus, diplomas, voltam para casa recheados de alegria. A família deles às vezes nem nota essa felicidade. Deveria notar.

     E agradecer aos céus a bênção de ter em casa alguém que com algo aparentemente tão simples, consegue envelhecer sem ficar velho.

* texto publicado originalmente em março de 2007