(texto de Olympio Simões Coutinho - Ubá/Belo Horizonte para www.falandodetrova.com.br
TROVADORES CANTAM A FORÇA DA IMPRENSA
Recentemente, trovadores (eles existem... e são milhares) de várias partes do país estiveram em Belo Horizonte para receber prêmios (troféus, medalhas e diplomas) conquistados no XXI CONCURSO NACIONAL/INTERNACIONAL DE TROVAS “CIDADE DE BELO HORIZONTE”, que teve como tema, no âmbito nacional/internacional, a palavra “IMPRENSA”. Vejam bem: XXI Concurso, o que significa que há 21 anos Belo Horizonte promove anualmente um concurso de trovas. Nova Friburgo, a chamada “Suiça Brasileira” promoveu este ano o seu 51º Jogos Florais, realizados anualmente desde 1960, também sem nenhuma interrupção. Em todo o Brasil, realizam-se anualmente cerca de 50 concursos de trovas, aos quais concorrem milhares de poetas e trovadores brasileiros e brasileiras.
Antes que meus caros colegas jornalistas desistam da leitura, não seduzidos pelo tema (que alguns poderão rotular de superado), deixem-me explicar porque estou escrevendo este “artigo”: tenho 70 anos e sou jornalista desde 1967, quando me formei em jornalismo pela UFMG. Andei fazendo trovas entre os 17 e 21 anos, ainda em Ubá, onde nasci; depois o jornalismo tomou conta e passei pela Última Hora (bons tempos os de antes de 1964), Folha de Minas, O Diário, Diário de Minas e Estado de Minas (onde entrei em 1967 e sai em 2003). Criei, depois, um jornal de bairro (Jornal Sion, que continua circulando) e passei alguns dias na redação de O Tempo, estagiando, numa volta ao passado.
A trova (como todos sabem) tem quatro versos setissílabos, rimando o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto, e é uma das mais antigas manifestações poéticas, sendo considerada até hoje a forma mais popular (pois é fácil de ser memorizada) da poesia. Durante séculos, foi utilizada, inclusive, como meio de comunicação entre governantes e deles com seus familiares, em longas cartas, sendo utilizada também para noticiar fatos e descrever acontecimentos. No Brasil, a partir da década de 60, ganhou impulso através de trovadores como Luiz Otávio (pseudônimo do dentista Gilson de Castro) e J. G. de Araújo Jorge (este, na época, um fenômeno na edição e venda de livros de poesia, principalmente para os então românticos adolescentes – que, aliás, sumiram).
Foram eles que, ao lado e com o apoio de outros ”pioneiros”, deram um grande impulso à trova, primeiro fortalecendo o Grêmio Brasileiro dos Trovadores (que tinha sede em Salvador, na Bahia) e, mais tarde, criando a União Brasileira de Trovadores – que se mantém até hoje com seções em praticamente todos os Estados brasileiros e sub-seções em centenas de municípios. Os concursos de trovas (ou Jogos Florais) se multiplicaram pelo País e a edição de livros de trovas e/ou antologias com participação de vários trovadores ganhou dimensão nacional, com o apoio de editoras como Vecchi, Freitas Bastos, Minerva e outras, enquanto a imprensa escrita e falada voltava a focalizar a trova em colunas (Porta de Livraria, de Antônio Olinto, no O Globo) e em programas de rádio (Luiz de Carvalho, Rádio Globo), entre outras.
Hoje, os concursos de trovas, que servem para disseminar o gênero e também para revelar novos trovadores, se espalham por todo o País, sendo os principais, além de Friburgo e Belo Horizonte, os de São Paulo (SP), Natal (RN), Curitiba (PR), Niterói (RJ), Bandeirantes (PR), Maringá (PR), Balneário Camboriú (SC) e Guaxupé (MG), entre muitos outros. E multiplicam-se também os sites sobre o movimento, destacando-se entre eles o www.falandodetrova.com.br, criado e mantido pelo poeta e trovador José Ouverney e seu filho, José Ouverney Júnior, de Pindamonhangaba (SP).
E não custa lembrar: eram também trovadores dezenas de escritores e poetas brasileiros que se destacaram em outras áreas da literatura e tiveram e têm grande divulgação da mídia, como, por exemplo, Castro Alves, que fez da força de seus versos instrumento de ataque aos exploradores e de defesa dos humilhados e ofendidos, principalmente dos escravos:
“Quebre-se o cetro do Papa,
faça-se dele uma cruz;
que a púrpura sirva ao povo
pra cobrir os ombros nus”.
E seguem-se abaixo as trovas premiadas em Belo Horizonte, com belos e resumidos conceitos sobre a ”Imprensa” que devem ser divulgados, principalmente por serem filosófica e eticamente corretos e fáceis de serem guardados quando expressos em trova.
VENCEDORAS
Feliz o povo que pensa
e que se expressa à vontade.
Onde amordaçam a imprensa
morre à míngua a liberdade.
A. A. de Assis – Maringá/PR
Quando a imprensa, forte e isenta,
garimpa a notícia a fundo,
mostra ao mundo o quanto é atenta
para os problemas do mundo.
Edmar Japiassu Maia – Rio de Janeiro/RJ
A imprensa gera o progresso,
quando, através da leitura,
indica a porta de acesso
para o mundo da cultura!
Élen de Novais Félix – Niterói/RJ
Que um dia a voz da verdade,
espargindo força intensa,
jorre a luz da liberdade
na liberdade de imprensa!
Élen de Novais Félix – Niterói/RJ
Sendo a voz de toda gente,
a Imprensa firme não cala
e quanto mais coerente,
bem mais forte é a sua fala!
Elisabeth Souza Cruz – Nova Friburgo/RJ
MENÇÃO HONROSA
Que nunca mais haja a espada,
promovendo essa amargura
de uma imprensa amordaçada
nos porões da ditadura!
Éderson Cardoso de Lima – Niterói/RJ
A democracia é intensa,
de constante alvorecer,
quando a voz de sua imprensa
exerce o quarto poder!!!
Eduardo A. O. Toledo – Pouso Alegre/MG
Quando a verdade se irmana,
transparente, singular,
a imprensa é a voz soberana
que ninguém pode calar.
Gilvan Carneiro da Silva – São Gonçalo/RJ
Sendo livre o pensamento,
quem tem juízo, quem pensa,
não põe algemas no vento
e nem mordaça na imprensa.
Hegel Pontes – Juiz de Fora/MG
Quando, enfim, minha alma pensa
que esse amor foi sepultado,
vem a saudade, usa a imprensa
e escancara o meu passado...
José Ouverney – Pindamonhangaba/SP
MENÇÃO ESPECIAL
A censura mais intensa
de um regime truculento
pode calar até a imprensa,
mas não cala o pensamento!
Campos Sales – São Paulo/SP
“Olha o jornal, cavalheiro”...
E outrora, apressando os passos,
o pequeno jornaleiro
levava a imprensa nos braços.
Hegel Pontes – Juiz de Fora/MG
O sangue dos jornalistas
é o marco da trajetória
de uma história de conquistas
onde a Imprensa é a própria História.
José Ouverney – Pindamonhangaba/SP
Um povo sábio, que pensa
e valoriza a cultura,
com requinte faz da imprensa
a melhor literatura.
Maria Lúcia Daloce – Bandeirantes/SP
Passado, velhas histórias,
vivas ainda em jornais,
são relíquias, são memórias,
que a imprensa fez imortais!
Rita Marciano Mourão – Ribeirão Preto/SP
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NOTA = OLYMPIO é Jornalista, chefe da Assessoria de Comunicação Social do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg)