A Trova Cidadã - por Nilton Manoel

A  TROVA  CIDADÃ
NILTON MANOEL é Presidente da UBT Ribeirão Preto - SP

     Creio que o "exagero" de trovas "filosóficas" afastou a trova de sua "cidadania" natural. Não confirmei, ainda, mas muitos escrevem trovas, apenas para os concursos, não para a história literária. Nos tempos de O Cruzeiro, Jornal das Moças, almanaques de farmácia (quais ainda circulam hoje?), colunas sociais jornalísticas, líamos muitas e melódicas trovas. O Almanaque do Pensamento e o Almanaque Santo Antônio editam trovas. O jornal A Cidade (Ribeirão Preto-SP), deixou de editar a sua tradicional Companheiro de Jornada – pagelas da Folhinha do Sagrado Coração, da editora Vozes. Tenho lembranças da antiga revista Eu Sei Tudo, onde o soneto e a trova estavam presentes. Outras revistas, atuais, de caça-palavras editam sobre a trova. Em livro de língua portuguesa, Português no Colégio, 3º ano,- história da literatura no Brasil -1.969, 7ª edição, Editora Nacional, Raul Moreira Lellis, classifica Adelmar Tavares grande figura do neo-parnasianismo e destaca que foram as trovas que o popularizaram. Tornou-se o poeta das trovas. Outros autores: Cândido de Oliveira, Hênio Tavares, Marques da Cruz... Atualmente, quem?

     Neste início de 2008, sinto as preocupações de Eduardo Toledo, presidente nacional da U.B.T, com a trova para todos e em todos os recantos. Tenho em mente, as antigas falas literárias com Luiz Otávio (correspondência e gravações) onde as nossas preocupações eram chegar aos compêndios de literatura. Ainda, a Trova não consta como Movimento Literário e os modernos dicionários vivem de significados antigos. Latour Arueira, definia como o único genuinamente brasileiro. Queremos este espaço ou não? Não podemos discriminar o trabalho dos internautas. Temos que prestigiá-los! A trova tem que ser universal e não apenas de concursos. A produção deve ser eclética, arrebatadora! Precisamos ter o nosso portal.

     Quando Luiz Otávio "partiu", o Brasil, tinha pouco mais de três mil cidades; hoje temos quase seis mil e mais estados. Quantas delegacias temos hoje e secções? Mantivemos a proporcionalidade? Não! A internet nos garante domínio universal.Com a falta de apoio da imprensa escrita, a Internet é a maior parceira em tudo . Continuo crendo que devamos ampliar o número de concursos líricos e humorísticos como um "abre caminho" à cidadania da trova. Sei que a "filosofia" é a boa aliada de alguns "papa-prêmios". Tem trovador que não faz trova humorística, mas gosta de poemas eróticos. Luiz Otávio deixou-nos material sobre a trova humorística, como trabalhar com os jogos florais, o decálogo e outros textos sobre a melodia da trova, etc. etc.

     Na sua brilhante palestra Jorge Beltrão deixou-nos um texto denominado: Ciclo da Trova. São tantos os que enriquecem a biblioteca da trova: Laís da Costa Velho, Aparício Fernandes, Maria Thereza Cavalheiro, Carolina Ramos, entre tantos outros que, ubeteanos ou não, trabalham pela grandeza da Trova. Somos o movimento da trova e precisamos animá-lo além dos concursos. A realização de encontros, congressos, seminários é movimentar a Trova. Jornal e TV não gostam de poesia? No movimento, viremos notícia! Sempre!

     Em 1.974 , o jornal O Diário (Ribeirão Preto-SP) editava: "Ainda se faz trovas como antigamente?" Na ocasião, plantávamos trovas em torno da Fonte Luminosa da Praça XV de Novembro. Durante meses, serviu de atividade extra-classe para muitos professores. Palestras e oficinas foram realizadas. A trova tem boas leis em Ribeirão Preto e, tomamos por força esta trova de Luiz Otávio: "

Haveria paz na terra,
não seria a vida inquieta,
se a criança, em vez de guerra,
brincasse de ser poeta".

     Hoje, temos a nova LDB e os Parâmetros Curriculares Nacionais por modelo de Educação, civismo, cidadania, pluralidade cultural e porque não de integração nacional. A finalidade da UBT é congraçamento ( cultural e recreativo) de difusão da trova, não? Queremos a Trova em movimento. Na quantidade, quanto mais melhor... Quanto a qualidade? A voz do povo é a voz de Deus! Fica como alerta, a trova de Adelmar Tavares:

"Ó linda trova perfeita
que nos dá tanto prazer;
-Tão fácil depois de feita!
-Tão difícil de fazer!"

     Há trovas que nascem de poemas longos e eternizam-se. Exemplo? – "Eu vi, minha mãe rezando". Judith Coelho Maciel nos diz: "- A trova é uma epopéia de quatro versos