A Trova é uma Festa - 27.11.2014

A TROVA É UMA FESTA!
(texto de José Ouverney, publicado em 27.11.2014)

 
          Existem três tipos de trovadores: os que compõem trovas, os que realizam concursos de trovas e os que são agraciados com o dom de cumprir com galhardia as duas missões.
 
          A Trova, entre as modalidades poéticas e, quiçá literárias em geral, é a única capaz de arregimentar em um mesmo evento poetas de muitos Municípios, de vários Estados.
 
          Entre os “fazedores de trova”, a maioria costuma concorrer nos inúmeros certames que acontecem por esse Brasil no decorrer do ano, alguns premiando com maior frequência e a maioria nem tanto. Mas a expectativa cresce, às vésperas do anúncio dos resultados, notadamente de redutos onde os concursos já são levados a efeito desde longa data. Nova Friburgo desponta como a referência maior. Seus Jogos Florais tiveram início em 1960 e, até 2014, não falharam um ano sequer. Outros certames longevos são os de São Paulo, Pindamonhangaba, Taubaté, Belo Horizonte, Bandeirantes, Natal, Caicó, Magé, Porto Alegre, Maringá, Ribeirão Preto. Alguns costumam realizá-los em intervalos de dois anos, ou até mais.  Outros redutos tradicionalíssimos encerram as atividades após a morte ou renúncia de seu líder maior. Assim foi com Niterói, Barra do Piraí, Amparo/SP, Cachoeiras de Macacu, Pouso Alegre e tantos outros. Recentemente voltaram a promover eventos vários Municípios do Rio de Janeiro, tais como: Cambuci, Cantagalo, Campos dos Goytacazes. Esporadicamente, citamos Santos, Curitiba, Saquarema, cidade do Rio de Janeiro, etc.
 
          Onde existe um idealista, a chama permanece acesa. E ponham idealismo nisso. Porque, como dissemos ao início do texto, a Trova é o único gênero literário que aglutina tantos poetas, porque seus eventos oferecem, além de troféu e diploma, um livro de resultados e um ou dois pernoites a cada autor classificado. Muitas vezes com direito a acompanhante e refeições completas. A dificuldade cada vez mais crescente está justamente em se angariar fundos para investimento de tal porte. Outrora, muitas Prefeituras ajudavam. Hoje são poucas as que destinam verbas para promoções trovísticas.
 
          Apurados os nomes, o que faz a Comissão Organizadora? Comunica aos classificados, solicitando-lhes que confirmem ou não presença, para a devida reserva nos hotéis que exigem, muitas vezes, o pagamento antecipado de 50% do valor.  Aí entra a parte mais delicada. Há trovadores que confirmam e, faltando um ou dois dias, avisam que ocorreu um “imprevisto” e não poderão mais comparecer. Outros simplesmente desistem e não comunicam a desistência, deixando os organizadores com apartamentos pagos e vazios. E há o terceiro grupo de trovadores, que recebem a notificação da classificação, nunca comparecem e sequer entram em contato para dizer se irão ou não, nem se dão ao trabalho de indicar alguém para representá-los. Alguns, mais ousados, só dão o ar da graça quando começam a reclamar o atraso no envio de seu troféu e livro via Correio.
 
          Ora, vejo aí os dois lados da medalha. De um, quem realiza um evento, sente-se feliz e recompensado em todos os seus esforços quando a presença se faz em número significativo de autores premiados.  De outro (no qual também me incluo), vários fatores dificultam o deslocamento dos poetas aos eventos:
1º) principal e angustiante impeditivo: a elevada faixa etária dos autores, em sua maioria com mais de setenta anos;
2º) muitas vezes, nos hotéis financiados com extremo sacrifício, além de não haver o conforto adequado a pessoas de certa idade, são elas colocadas no mesmo apartamento duas – e até três – pessoas, cada qual com seus rituais, suas naturais dificuldades para dormir, seus roncos, tosses e outros hábitos que podem acabar interferindo no repouso do/a companheiro/a de quarto;
3º) as distâncias enormes, com horários diminutos de ônibus;
4º) o ar condicionado dos ônibus, que quase nos mata. Várias vezes voltei para Pindamonhangaba adoentado;
5º) o valor gasto nesses longos deslocamentos, considerando-se principalmente a proximidade de datas entre um evento e outro.
 
          No Brasil, anualmente, são realizados, no mínimo, entre doze e quinze eventos, o que daria pouco mais de um ao mês. Porém, infelizmente, enquanto no primeiro semestre há quatro meses praticamente vazios (fevereiro, março, abril e junho), sobrecarrega-se o segundo semestre, com muitas festas de trova em pouco espaço de tempo. Para que tenham ideia, em 2014, no período de 59 dias tivemos oito eventos (em média, um por semana), sendo três em agosto: Campos dos Goytacazes, dias 1 e 2; Belo Horizonte, dia 09 e Pindamonhangaba, dias 16 e 17. E outros cinco em setembro: Bandeirantes/PR, dia 4 e 5; Natal/RN, dias 18 e 19; Caicó/RN, dias 20 e 21; Taubaté, dia 27 e Cambuci/RJ, dias 27 e 28.
 
          O que implica dizer que ambas as partes (Comissão Organizadora) e trovadores premiados) precisam rever alguns detalhes. Somente o sincronismo de ações e atitudes poderá produzir o resultado final que agrade a gregos e troianos, e permitir que os tão aguardados encontros continuem acontecendo.
 
          A própria UBTN está atenta e, quem sabe em uma data próxima, possamos ter um cenário novo nesse enredo?  A Trova merece. E é por ela que nós lutamos.