I Jogos Florais de Belém - PA - 1996

I JOGOS FLORAIS DE BELÉM (1996)

In memoriam

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas pequenos;
quem na vida deixa versos,
parece que morre menos...
(Luiz Otávio - Presidente perpétuo da UBT)

TEMA: FOGO
(Trovas líricas e/ou filosóficas para trovadores residentes nas regiões Sul e Sudeste do Brasil e para os residentes no exterior).

Comissão julgadora constituída por trovadores da UBT - Belém:
Alonso Rocha, Antônio Juraci Siqueira, José Wilson Malheiros, Thereza Nunes Bibas e Zinalda Castelo Branco

TROVAS VENCEDORAS

1º LUGAR
Brigamos... mas com vontade
de que este amor vença o jogo,
mando em meu nome a saudade
te propor um "cessar fogo"!
(Sérgio Bernardo - Nova Friburgo-RJ)

2º LUGAR
Quando a sorte traiçoeira
cresta o fogo da ilusão,
volto a ser a Borralheira
entre as cinzas do fogão!
(Heloisa Zanconato Pinto - Juiz de Fora-MG)

3º LUGAR
Este amor, meu pesadelo,
que nego a todos por teima,
por fora é bloco de gelo...
por dentro - fogo que queima!
(Pedro Ornellas - São Paulo-SP)

MENÇÕES HONROSAS

Por teu amor que foi jogo
e tão cega acreditei,
eu botei a mão no fogo
e até minha alma queimei!
(Almerinda F. Liporage - Rio de Janeiro-RJ)

Teu retrato na fogueira
eu queimei... como castigo,
o fogo deixou inteira
tua saudade comigo...
(Ivone Taglialegna Prado - Belo Horizonte-MG)

No sofrer que vai e volta,
vive em paz! Confia em Deus,
quando o fogo da revolta
sepultar os sonhos teus...
(José Valdez de C. Moura - Pindamonhangaba-SP)

Sorrateiro.. sem fumaça,
arrasador, inclemente,
é aquele fogo que passa...
- Queimando os sonhos da gente!
(Neide Rocha Portugal - Bandeirantes-PR)

Num alerta derradeiro,
ao homem, que tudo arrasa,
arde no fogo o pinheiro
que deu-lhe o teto da casa.
(Newton Meyer Azevedo - Pouso Alegre-MG)

MENÇÕES ESPECIAIS

Vens dizer que não me amas,
que amor é fogo que passa...
mas, se apagares as chamas,
sopra também a fumaça...
(Alba Christina Campos Netto - São Paulo-SP)

Comigo em noites desertas,
a saudade, por demência,
ateia fogo às cobertas
e incendeia a tua ausência...
(Edmar Japiassú Maia - Rio de Janeiro-RJ)

Uma lareira modesta,
no tripé uma panela,
é sempre dia de festa
quando há fogo embaixo dela.
(Fernando Cruz - Rio de Janeiro-RJ)

Meu peito, ao fim da jornada,
sem mais a chama de um rogo,
parece chão de queimada
depois de passado o fogo...
(Waldir Neves - Rio de Janeiro-RJ)

No fogo dos teus desejos,
ao beijar-te em ânsia louca,
tu nem notas, nos meus beijos,
o perfume de outra boca!
(Zaé Júnior - São Paulo-SP)

A verdade anda tão rara,
que a mentira, sorridente,
já nem sequer se mascara
para enganar tanta gente!
(João Freire Filho - Presidente da UBT Nacional)

 

TEMA: ÁGUA
(Trovas líricas e/ou filosóficas para trovadores residentes nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste)

Comissão julgadora composta por trovadores da UBT - São Paulo:
Antônio de Oliveira, Campos Sales, Domitilla Borges Beltrame,
Héron Patrício e Izo Goldman (coordenador)

TROVAS VENCEDORAS

1º LUGAR
No sertão, se a chuva cai,
molhando a terra sedenta,
essas gotas, crê, meu Pai,
têm o gosto de água benta!
(Paulo Afonso de Oliveira Falcão - Ananindeua-PA)

2º LUGAR
Olhando o sol escaldante,
sertanejos, lá se vão...
No rosto do retirante,
há mais água que no chão!
(Brandina Rocha - Moreno-PE)

3º LUGAR
O inverno chega e se instala
e o sertão esquece as mágoas:
- prepara-se o mestre-sala
para o desfile das águas!
(Leda Costa Lima - Fortaleza-CE)

MENÇÕES HONROSAS

Gotinhas d'água na aurora
sobre a mata destruída,
traduzem pranto que chora
a Natureza agredida.
(Clarindo Batista de Araújo - Natal-RN)

Meus olhos cheios de mágoa
buscam as pedras do chão,
são dois riachos sem água
perdidos na imensidão...
(Fernando Câncio Araújo - Fortaleza-CE)

A água que nos alimenta
e torna as matas floridas
é a mesma que, na tormenta,
arrasa lares e vidas.
(Nato Azevedo - Belém-PA)

Tantas lágrimas vertidas,
do sofrimento e de dor,
e, nessas águas perdidas,
afoguei o nosso amor,
(Raimundo Andrade de Paiva - Fortaleza-CE)

Disfarçando minhas mágoas
na saudade que se esfuma,
olho a Bainha das Águas
rendando a areia de espuma.
(Sylvia Helena Tocantins - Belém-PA)

MENÇÕES ESPECIAIS

Que importa me venha a mágoa,
um dia ela vai passar.
Se a fé me é qual pingo d'água,
tenho esperanças de mar!...
(Aloísio Bezerra - Fortaleza-CE)

Água da chuva brilhando
na calçada sonolenta
vai o sol acalentando
na triste tarde cinzenta.
(Celeste Proença - Belém-PA)

Água, líquido divino,
mata a sede, lava o chão.
É brinquedo de menino,
é milagre no sertão.
(Cláudia Cruz - Belém-PA)

Tecendo rendas de espuma
nas águas do quebra-mar,
vão as ondas uma a uma
na praia se espreguiçar.
(Ferreira Nobre - Fortaleza-CE)

Não sinto o passar da hora
relembrando um sonho morto
escutando a água que chora
de encontro às pedras do porto.
(Sylvia Helena Tocantins - Belém-PA)

Sempre que sonho na vida
sou, numa luta sem jaça,
borboleta enlouquecida
batendo contra a vidraça.
(Alonso Rocha - Presidente da UBT-Belém)

 

Tema: VENTO
(Trovas líricas e/ou filosóficas para trovadores residentes no Estado do Pará)

Comissão julgadora composta por trovadores da UBT - Juiz de Fora:
Cézar Augusto Defilippo, Heloísa Zanconato Pinto, Marcelo Zanconato Pinto, Vera Maria de Lima Bastos e Arlindo Tadeu Hagen (coordenador)

TROVAS VENCEDORAS

1º LUGAR
Vento que leva a semente
bailarina a flutuar
é o mesmo vento valente
que encrespa as ondas do mar!
(Heliana Barriga - Belém-PA)

2º LUGAR
Meu sonho, qual peregrino
em busca do pensamento,
transforma-se num menino
que empresta as asas ao vento!
(Eron de Carvalho - Ananindeua-PA)

3º LUGAR
Sou gaivota em pleno mar
solta ao vento, destemida,
revoando sem pensar
nas tempestades da vida.
(Sylvia Helena Tocantins - Belém-PA)

MENÇÕES HONROSAS

Perdendo-se no vazio
tua voz hoje é lamento
noturno de cão vadio
no sopro fraco do vento.
(Affonso Pinto da Silva - Belém-PA)

Qual vento que, afoitamente,
persegue a folha pelo ar,
meu amor, sofridamente,
busca o teu a se esquivar!
(Laura de Almeida Siqueira - Belém-PA)

Os sonhos da juventude,
tão bonitos sentimentos,
são chuvas enchendo o açude,
são folhas soltas ao vento!...
(Nato Azevedo - Ananindeua-PA)

Na casa escura e vazia,
tua lembrança me invade;
a noite é má companhia
e o vento traz a saudade.
(Nato Azevedo - Ananindeua-PA)

O poeta - ser alado
da ave tem o sentimento
que durante o vôo sagrado
semeia trovas ao vento.
(Sandra Melo - Belém-PA)

MENÇÕES ESPECIAIS

Vento de amor, encantado,
na seresta enluarada
é o eterno apaixonado
da nudez da madrugada.
(Celeste Proença - Belém-PA)

Vento que areja a tristeza
cantando velha canção
é alegria benfazeja
no meu rosto de ancião.
(Heliana Barriga - Belém-PA)

Qual canção do mar na pedra,
me faço a todo momento;
oração de amor que medra
como respingos ao vento.
(R. Tadeu M. Cunha - Belém-PA)

Quando a saudade suspira
na voz da maré vazante,
o rio lembra uma lira
que o vento tange vibrante.
(Sylvia Helena Tocantins - Belém-PA)

O vento que passa ao longe
numa noite solitária
mais parece um velho monge
tocando uma triste ária.
(Zinalda Castelo Branco - Belém-PA)

Ao tempo tudo se rende,
tudo passa ou se renova,
só não passa o que se prende
nos quatro versos da trova!
Antônio Juraci Siqueira

 

TEMA: GRILO
(Trovas humorísticas para trovadores de todo o Brasil e exterior).

Comissão julgadora formada por trovadores da UBT - Belém:
Edyr Proença, Raymundo Mário Sobral, Roseli Sousa, Rufino Almeida
e Antônio Juraci Siqueira (coordenador)

TROVAS VENCEDORAS

1º LUGAR
Descobrindo a "tal cantada",
o marido não agüenta
e esmaga, na "porretada",
um grilo... de um metro e oitenta!
(Neide Rocha Portugal - Bandeirantes-PR)

2º LUGAR
- Tem um grilo na comida!
Grita o freguês bem grilado,
e a cozinheira, ofendida:
- Não faz mal... tá bem passado!
(Maria Lúcia Daloce Castanho - Bandeirantes-PR)

3º LUGAR
- Benzinho, o que é aquilo
no guarda-roupa trancado?
- Ora, querido, é um grilo...
- Mas como treme o safado!
(Jaime Pina da Silveira - São Paulo-SP)

MENÇÕES HONROSAS

- Não tenhas "grilo" da idade,
pois velho tem mais juízo...
- Mas, se o conceito é verdade,
o resto é só prejuízo!
(Edmar Japiassú Maia - Rio de Janeiro-RJ)

Que sofrer desiludido,
mil "grilos" tem a coitada,
quando sente no marido
o perfume da empregada!
(José Valdez de C. Moura - Pindamonhangaba-SP)

Quando da igreja voltavam
ficou "grilado" o Castilho;
sobre a noiva o que jogavam
não era arroz - era milho!
(Pedro Ornelas - São Paulo-SP)

Investigou tudo aquilo
que falavam da Tereza
e agora não tem mais "grilo"!...
Agora ele tem... certeza!!!
(Therezinha Dieguez Brizolla - São Paulo-SP)

O pau quebrou, na baiuca,
quando a emproada dondoca,
cheia de grilos na cuca,
achou um grilo na coca.
(Waldir Neves - Rio de Janeiro-RJ)

MENÇÕES ESPECIAIS

Deu o marido uns cochilos
e a mulher, em atos falhos,
na cabeça, além de grilos,
botou-lhe um monte de galhos...
(Almerinda F. Liporage - Rio de Janeiro-RJ)

Não basta o grilo gaiato
com quem toda noite eu brigo
e a sogra, ajudando o chato,
resolveu morar comigo!
(João Paulo Ouverney - Pindamonhangaba-SP)

Não sou teu e nem és minha,
mas sei que pensas naquilo...
É que a tua baratinha
canta mais do que o meu grilo.
(José Maria M. Araújo - Rio de Janeiro-RJ)

De tanto pensar "naquilo"
resolveu, enfim, o Zeca,
que, pra acabar com seu grilo,
só mesmo uma "perereca".
(José Ouverney - Pindamonhangaba-SP)

Insone, levanto a nuca,
- e o pesadelo piora:
Os grilos - dentro da cuca,
ficam chamando os de fora...
(Newton Meyer Azevedo - Pouso Alegre-MG)