boa Companhia - haicais

boa companhia

HAICAIS

Organização, seleção e introdução

Rodolfo Witzig Guttilla

 

De Abel Pereira (1908 – 2006)

Um grão bem miúdo...

Um nada à margem da estrada...

Um nada que é tudo...

 

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De Afrânio Peixoto (1876 – 1947)

Na poça de lama,

Como no divino céu

Também passa a lua

 

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De Alice Ruiz (1946 -    )

sem saudade de você

sem saudade de mim

o passado passou enfim

 

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De Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987)

Num automóvel aberto

riem mascarados.

Só minha tristeza não se diverte.

 

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De Carlos Vogt (1943 -    )

ANFITRIÃ

Não se decepcione:

a vida o convidará

para outros fracassos.

 

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De Ciro Armando Catta Preta (1922 -    )

LIBERTAÇÃO

A vizinha voou...

Avezinha bem velhinha,

desengaiolou...

 

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De Décio Pignatari (1927 -    )

Mordidas de pulgas

Na moça bonita: até

Elas ficam belas!

 

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De Erico Veríssimo (1905 – 1975)

JARDINEIRO INSENSATO

Passou a vida

A cultivar sem saber

A flor da morte.

 

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De Guilherme de Almeida (1890 – 1969)

FESTA MÓVEL

Nós dois? – Não me lembro.

Quando era que a primavera

caía em setembro?

 

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De Haroldo de Campos (1929 – 2003)

manhã branca

peixe branco

uma

polegada branca

 

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De Helena Kolody (1912 – 2004)

OS TRISTES

Em seus caramujos,

os tristes sonham silêncios.

Que ausência os habita?

 

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De José Lino Grunewald (1931 – 2000)

desemprego em minas

porta-aviões bebe milhões

oh, minas gerais!

 

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De José Paulo Paes (1926 – 1998)

À BENGALA

Contigo me faço

pastor do rebanho

de meus próprios passos.

 

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De Lêdo Ivo (1924 -     )

SABEDORIA

Viva o riso!

Só sabe rir quem tem

dente de sizo.

 

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De Luís Aranha (1901 – 1987)

Jogaste tua ventarola para o céu

Ela ficou presa no azul

Convertida em lua

 

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De Millor Fernandes (1923 -    )

Socialistas imundos:

Querem acabar

Com os vagabundos!

 

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De Monteiro Lobato (1882 – 1948)

Céu de outono e coração de mulher se assemelham;

Em uma noite um e outro

Mudam sete vezes.

 

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De Oldegar Vieira (1915 – 2006)

OS NAMORADOS

Sob um guarda-chuva

Abraçados, enlevados,

Bendizendo a chuva.

 

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De Olga Savary (1933 -    )

ROTA

Que arda em nós

tudo quanto arde

e que nos tarde a tarde.

 

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De Oswaldo de Andrade (1890 – 1954)

ANACRONISMO

O português ficou comovido de achar

Um mundo inesperado na águas

E disse: Estados Unidos do Brasil

 

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De Paulo Leminski (1944 – 1989)

a palmeira estremece

palmas para ela

que ela merece

 

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De Pedro Xisto (1901 – 1987)

na praça da igreja

em graça ou pecado seja

me abraça e festeja

 

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De Waldomiro Siqueira Junior

PLACEBO

Nada eu considero

remédio bom contra o tédio.

Nem mesmo um bolero.

 

FIM

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Eu também sei fazer! E o faço em homenagem a quem me ajuda na vida e no computador:

 

De José Fabiano (1928 -     )

 

Menina Marina,

Digita trova bonita

Ah, que mão divina!

 

Aqui na Barroca

Minha formosa vizinha

Encanto que choca.

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OBS:  matéria postada em 06.07.2010