CARLOS CUNHA nasceu a 18 de maio de 1933 em São Luís do Maranhão, filho de Carlos José da Cunha e Edith Campos Cunha. Professor, jornalista, crítico literário, ensaísta. Publicou, em 1967, o seu primeiro livro: "Poesia de Ontem". Foi ele que fundou, em 07 de dezembro de 1968, a Academia Maranhense de Trovas. Pertencia, também, à Academia Maranhense de Letras. Falecido em 2007.
São Luís é uma cidade
que se veste de azulejos;
o mar, quando tem saudade,
banha seu rosto de beijos!
Não me importo do passado,
muito menos do presente.
A vida é sempre um machado,
cortando os sonhos da gente.
Desconheço nesta vida
quem passe sem ter saudade;
é a mucama preferida
da própria felicidade.
Para a dor da solidão,
a saudade é bom remédio;
é um chá de capim-limão,
a anestesia do tédio.
Saudade é chuva caída
na calha do coração;
é centelha revivida,
em noite de escuridão!
Saudade é vaso quebrado,
guardado em maior recato;
é o fantasma do passado
colorido num retrato.
Confesso, na mocidade
saudade não ter sentido;
mas hoje sinto saudade
daquele tempo perdido!
Saudade traz o perfume
de tudo o que já passou;
a saudade é um vagalume,
resto de luz que ficou.
Quando Catullo morreu,
Deus chorou em serenata,
na porta grande do céu
com mil violas de prata.
Conheço um barco veleiro,
parado no cais, sozinho;
assim sou eu prisioneiro
no porto do teu carinho!
O céu noturno é mais lindo
visto lá do meu sertão.
Parece um colar luzindo
no pescoço da amplidão.
Olhos assim como os teus,
serenos, meigos, risonhos,
parecem feitos por Deus
numa alvorada de sonhos.
Meu retrato muito antigo,
cheio de vida e de brilho,
já não parece comigo,
parece mais com meu filho.