Comentando a Trova II - em 05.07.2012

(Esta matéria será encontrada no site www.falandodetrova.com.br, na seção "Colunas")

COMENTANDO A TROVA II  (Por Renato Alves)

 

24.         Às vezes, a repetição (reiteração) pode valorizar muito uma trova. Veja como o uso deste recurso foi fundamental para a ideia central e o efeito humorístico  das trovas abaixo:

 

Nunca vi almas! – diz rindo.                                       Ao por-lhe a esmola no prato

E o cara na sua frente,                                              pergunta ao surdo, baixinho:

Foi sumindo, foi sumindo,                                        – És mesmo surdo de fato?

Transparente, transparente...                                               E ele:”Surdinho, surdinho!”

     (Vasques Filho)                                                          (José Maria M. de Araújo)

 

 

 

25. Na mesma linha camoniana do “fogo que arde e não se vê  /  ferida que dói e não se sente”, eis,  na trova ao lado,  uma bela aplicação da  “antítese”,  figura de linguagem tão adequada para definir a natureza contraditória do amor.

 

 

O amor é sorriso...   ou pranto.

O amor é nuvem...  ou sol.

O amor é lágrima... ou canto.

O amor é treva...     ou farol.

Maria Thereza Cavalheiro

 

 

   

26. Além do escorreito português dos verbos em 2ª pessoa do plural (rireis, saberdes, pousais), esta trova apresenta um interessante emprego da palavra “verde” com carga semântica dupla: verde = cor e verde = jovem, em oposição aos maduros olhos do poeta.

 

 

Rireis talvez ao saberdes

como eu me sinto em apuros

se pousais os olhos verdes

nos meus olhos já maduros!

José Fabiano

 

 

         

     

27. Na literatura, o efêmero, o passageiro, o transitório sempre esteve representado pela metáfora do “nome escrito na areia” que o mar vem e logo apaga. Veja que belo aproveitamento desta imagem na trova ao lado.

 

 

Malgrado a graça suprema
que o nosso olhar incendeia,
a juventude é poema

que a vida escreve na areia.

   Élen de Novaes Félix

 

 

28. Está no jogo de palavras, na inteligente manipulação das variantes semânticas do vocábulo “pena”, a beleza do achado desta primorosa trova do mestre  Izo Goldman.

 

 

 

 

Que pena que as minhas penas
não te causem pena alguma,

e, sem pena, eu seja apenas, entre as penas... só mais uma!

Izo Goldman