Darly O. Barros

     DARLY DE OLIVEIRA BARROS, advogada, residia em São Paulo, dona de estilo próprio e requintado, seguramente um dos nomes mais respeitados da Trova no Brasil. Nasceu em São Francisco do Sul/SC, no dia 28 de fevereiro de 1941, filha de Darcy de Campos Oliveira e Lydia Josephina Meyer de Oliveira.

Faleceu em São Paulo, onde morava, no dia 26 de março de 2021.

Lamentando meus fracassos                       (1º lugar Pinda - 1992 - "Vida")
na vida, insisto em pisar
nas marcas dos mesmos passos
levando a nenhum lugar...

A vida, que triste sina,                              (2º lugar Pinda - 1992, tema "Vida")
fez comigo o que bem quis:
de uma ditosa menina,
me fez mulher... e infeliz! 

A música soa e então,                                  (1º lugar Petrópolis 1993)
por um passe de magia,
fá só nós dois num salão
onde o mundo inteiro havia....

Quem desprezei nessa vida,     (5º lugar Nova Friburgo 1994)
hoje, por justo direito,
paga na mesma medida
e o coração diz:  “Bem-feito!”

 

Coração, por tuas falhas              (Elos Clube SP 1995)
não te desculpes, eu sei
que além das tuas batalhas,
lutaste as que eu não lutei!!! 

Anunciou a partida,
dizendo: - “É melhor assim”!        (UBT São Paulo 1995)
E saiu da minha vida,
levando o melhor de mim...

Senhor, quem visa o projeto               (Pinda 1996)
da eternidade ao Teu lado,
sabe que um caminho reto
é meio caminho andado!

 Dos erros que a vida apronta,                       (MH Niterói 1996)
meu maior foi ter trocado
por, não mais que um faz-de-conta,
um verdadeiro reinado!...

Sem mais o amor por escora,       (Vencedora Clube Português 1996)
sem outra sustentação,
da ponte que havia outrora,
entre nós, só resta um vão...

Desatado o da fita,       (M. Honrosa Niterói 1997)
renasceste do passado,
no adeus de uma carta escrita,
que eu jurava ter rasgado... 

Que cena mais comovente!
Correndo para os meus braços,      (5º lugar Ribeirão Preto 1997)
esse pinguinho de gente
que ensaia os primeiros passos... 

Sem vitupérios e afrontas,         (Venc. Barra do Piraí 1997)
cerra às ofensas teus lábios,
que, em muito acerto de contas,
vence o silêncio dos sábios!

Quantas viagens frustrantes          (MH Barra do Piraí 1998) 
meu desejo não tem feito
nesse leito que, "alguém", antes,
chamava de "nosso" leito... 

Quando um sonho vai morrendo,
põe-se o meu peito em ação,                   (SP-1998)
costurando outro remendo
no esgarçado da ilusão. 

Diz que o asilo é um paraíso      (Venc. Elos Clube SP 1999)
e, ao tom de voz convincente,
o filho, ao ver seu sorriso,
nem supõe que a mãe lhe mente...

Movido a farsas e engodos...
É assim que o Universo gira,           (Elos Clube SP 2000)
um mundo onde quase todos
sobrevivem da mentira... 

No meu "barco" eu nao blasfemo,
nem quando o mar se encapela:              (SP - 2000)
-- se a procela quebra o remo,
a esperança empresta o dela...

Do que é capaz a desdita
eu sou a prova inconteste:       (MH Rio de Janeiro 2000)
involuntário eremita,
algemado a um peito agreste... 

Liberto, enfim, do marasmo,              (ME Niterói 2000)
em delírio a pena empunho
e os versos são meu orgasmo,
num caderno de rascunho...

“Não cedas!”, meu sonho manda,      (Vencedora Barra do Piraí 2000)
“luta mais, redobra o empenho,
para a casa com varanda
deixar de ser só desenho!”... 

Meu perdão foi em tributo
a uma lágrima suspensa:             (1º lugar Nova Friburgo 2001)
- um detalhe diminuto
mas que fez a diferença... 

Um fio de água barrenta,
à ponte, num balbucio:
- Velha ponte, vê se agüenta,     (1º lugar Pedro Leopoldo 2003)
até que eu volte a ser rio!...

Mudaste tanto, cidade,                (ME Belém 2003)
que eu só te reconheci,
ouvindo a voz da saudade
jurar que a praça era aqui!...

Porteira de tábua grossa,
pregos velhos, sem rebites,          (Vencedora Pitangui 2003)
limitas a minha roça,
não meu sonho sem limites!...

Meu passo, a idade retarda
e eu chego à praça, ansiosa,       (ME Pirapetinga/MG 2005)
onde a saudade me aguarda
para um dedinho de prosa... 

Não tens culpa, velha enxada,      (Vencedora Maringá 2007)
desbeiçada, cabo torto,                    (Tema "Colheita")
por só colheres o nada
do ventre de um solo morto... 

Muito suor foi preciso,                (Venc. Bandeirantes 2008)
mas minha audácia venceu:
- finalmente, o chão que eu piso
tem dono... e o dono sou eu!!! 

Meio-vivo, meio-morto,
teu adeus tornou-me assim,         (Vencedora Pinda 2008)
eu fiz da apatia um porto,
e ancorei dentro de mim... 

Luta inglória é essa nossa,
minha e da enxada, dois loucos,       (Venc. Maringá 2009)
tudo em nome de uma roça
que a seca mastiga... aos poucos...

O reencontro... a caminhada...      (Bragança Paulista 2009)
a lua seguindo os dois...
a chama reavivada,
e o resto... eu conto depois... 

Comparo toda emoção            (MH Porto Alegre 2009)
às cordas de um violino,
onde o grau de afinação
tem os dedos do destino... 

Minha alegria é trucagem              (Vencedora Pinda 2009)
que o talento concebeu,
para dar ao mundo a imagem
de um alguém que não sou eu... 

Freia as palavras mordazes,       (MH Niterói 2010)
que essa injustiça me aterra...
Vim tentar fazer as pazes,
não começar outra guerra!

Avesso à tal “realidade
de que a idade nos põe travas,         (ME Cantagalo 2010)
sem prazo de validade,
mandei esse mito às favas...

Dor que no âmago palpita,
dor que grita, dor que chora,    (2011 - Conc. "Falando de Trova")
dor que veio de visita,                   (tema "Saudade")
e, nunca mais foi embora...

Renúncia, cruel desmando
do destino a que me oponho,    (2º lugar Montes Claros 2011)
a todo instante voando
nas asas de um novo sonho... 

Partiu! E em meio ao vazio
do leito, sem ele ao lado,
sou seixo à margem de um rio
que teve o curso mudado...

Regressou, mas, foi em vão
porque em seus braços me acanho,
ante a estranha sensação
de me entregar a um estranho...

No olhar, teu convite escrito
com as chamas da paixão,
deitou por terra o conflito
que havia entre um SIM e um NÃO...

Pobres racistas, insanos,
é a insensatez que os impele      (MH Guaxupé 2009)
a julgar seres humanos
a partir da cor da pele!... 

Quando um sonho vai morrendo,       (Elos Clube SP 1997)
põe-se o meu peito em ação,
costurando outro remendo
no esgarçado da ilusão... 

Partiu! E em meio ao vazio                 (UBT São Paulo 1995)
do leito, sem “ele” ao lado,
sou seixo à margem de um rio
que teve o curso mudado...

TROVAS DE BOM HUMOR   

“Minha filha,tens certeza?”           (1º lugar em Nova Friburgo em 2012)
“Tenho, mãe, é gravidez!”
“Se vais dizer: 'foi fraqueza',
já não cola, é a quarta vez!”

“Aluguel de dentadura?”
“E sem custo algum, parceiro:                (co-vencedora UBT SP - 2006)
quer melhor infraestrutura
do que um cunhado coveiro?”
 

- Mas, mamãe, se é gravidez,           (co-vencedora UBT SP - 2005)
que remédio é sugerido?
- Arranjar, com rapidez,
algum trouxa, pra marido!...

Vaza o tanque, vaza a pia,             (co-vencedora UBT SP - 2000)
vazam os vasos da casa,
e, extravasando a agonia,
a Maria... também vaza...

Disfarça o roxo e a mordida,              (co-vencedora em Peruíbe - 2000)
e o marido, inquisidor:
- Usar cachecol, querida,
com 30 graus de calor?!...

Era um chá, virou corrida,                           (MH Clube Pinheiros SP 1994)
só de velhinha beata,
mas, com tendência homicida,
pra cima de uma barata!

Sobre o salário atrasado,                          (Venc. Cornélio Procópio 1996)
o coveiro à Prefeitura:
- Quem quiser ser enterrado,
cave a própria sepultura! 

Pego no flagra, fugia,
quando o cachorro o mordeu...         (co-vencedora em Peruíbe - 2000)
- Como é que se implantaria
o que o danado comeu?!...