Eliana Dagmar

ELIANA DAGMAR RIBEIRO LUZIA DE AZEVEDO nasceu em Amparo, no dia 30 de dezembro de 1953. Filha de Aparecida Ribeiro Luzia e do saudoso poeta Francisco Luzia Netto, desde cedo recebeu forte influência literária, tendo iniciado suas incursões poéticas ainda na adolescência. Casada com João Francisco Gomes de Azevedo e mãe de Tiago, Samuel e Lucas. Pedagoga, radialista, exerce inúmeras atividades perante a sociedade amparense, tendo sido inclusive vereadora. Uma mulher perfeitamente sintonizada com o presente. Seu talento poético pode ser notado abaixo:

01
Não condenes o delírio
que atiça as paixões humanas;                   (M.H. Niterói 1999)
não perde a pureza o lírio
colhido por mãos profanas...
02
Aplauso é luz de dois gumes...
Cuidado... avisa o teu ego...
O excesso, às vezes, de lumes
transforma o sábio num cego...
03
Nem sempre o tamanho ordena
a nobreza de um troféu:
na manjedoura pequena
coube um Rei maior que o Céu!
04
Senhor Deus, misericórdia,
se, na soma dos meus dias,
tantas vezes fui discórdia
e não a Paz que querias...
05
Falso amor, ainda me inspira
tantos versos de saudade...
Que importa se era mentira?
Eu fui feliz de verdade!
06
Siga, filho, nessa graça
da virtude que o distingue:
seja o brilho da vidraça,
jamais a mão do estilingue.
07
Da infância ainda guardo viva
a imagem de um lampião:
era uma estrela exclusiva
num céu tão perto do chão!
08
Meu tesouro é singular,
superlativo e tão pleno...
E, mesmo assim, no meu lar
cabe num berço pequeno!
09
Com pedrinhas de saudade
uma torre eu construí:
dentro dela tenho a idade
dos sonhos que já vivi!
10
A manjedoura traduz,
em seus natais de esperança,
que todo dia Jesus
renasce em cada criança!
11
A certeza que me encanta
e a ti também, certamente,
é saber que a mãe mais santa
será sempre a mãe da gente!
12
Meus sonhos tinham outrora
toda a altivez dos pinheiros,
que a serra da vida agora
vem transformando em madeiros...
13
Só o amor sabe de cor
esta divina lição:
nenhuma ofensa é maior
que a grandeza do perdão!
14
Coragem mesmo, de fato,
encontro em cada Maria
que da prole, em raso prato,
mata a fome todo dia!
15
Meu reino é coisa tão minha,
é meu lar e onde estiver,
nele sou mais que rainha:
sou mãe,amiga e mulher!
16
De meu pai, desde pirralha,
guardo a lição que hoje entono:
- não há fortuna que valha
a paz que me embala o sono!
17
Velhice é a idade de quem
perdeu o brilho do olhar;
é a vida empurrando alguém        (Menção Honrosa em Guaxupé/MG - 1998)
que desistiu de sonhar...
18
Não te iluda a fantasia
nem te impressione a bravata:
há palhaço todo dia
vestindo terno e gravata.
19
Não condenes o delírio
que atiça as paixões humanas;
quanta pureza há no lírio
colhido por mãos profanas...
20
Estrela de um brilho régio,
de uma luz que não se esvai;
LUZIA - que privilégio!
- foi meu mestre, amigo e pai.
21
No delírio, entre lençóis,
a tua boca encarnada
tem a cor dos arrebóis
invadindo a madrugada...
22
Sou saudade caminhando
pelos pés de uma lembrança,
a todo instante indagando
o porquê de tanta andança...
23
As veredas de meu ego
são rotas de um labirinto
que quanto mais eu trafego,
mais perto de mim me sinto!
24
Nana-nenê... Teus caminhos,
mesmo que excedam meus passos,
ainda cabem todinhos
no aconchego dos meus braços...
25
Luiz Otávio renova
o perfume que há no verso,
semeando a Rosa da trova
pelos jardins do universo!
26
Disfarcei, com tal destreza,
minha dor e cicatriz,
que até a própria tristeza
pensou que eu fosse feliz!
27
Chegar longe é quase nada
para aquele que na vida
faz do ponto de chegada
novo ponto de partida.
28
Torno a vida um fardo leve
porque acredito no amor;
sou palhaço que se atreve
a sorrir da própria dor...
29
Palavra é força graúda,
mesmo em pequena oratória.
Um bilhete, às vezes, muda
todo o curso de uma história...
30
Na solidão da sarjeta,
sob a marquise tão nua,
o sono cobra gorjeta
dessas crianças de rua...
31
Igual penetra faceiro
meu coração sem juízo,
deita e rola por inteiro
na festa do seu sorriso!
32
Sereno é colcha fluida
que ao cair, abençoada,
cobre a relva adormecida
no berço da madrugada...
33
Para fugir da saudade
me disfarcei de alegria;
e a danada, por maldade,
pôs a mesma fantasia..
34
Olho a estrada percorrida
e reconheço, à distância,
que o respeito pela vida
a gente aprende na infância.
35
Eu jamais estive só
no emaranhado em que sigo:
desatando nó por nó
o Cristo segue comigo!
36
Quanta exceção há na regra                              (M. Especial Elos Clube SP 1992)
que o adeus, às vezes, constrói:
pois chegar nem sempre alegra
e partir nem sempre dói...