ESMERALDO SIQUEIRA nasceu em Pedro Velho/RN a 16 de agosto de 1908, filho de Joaquim Homem de Siqueira e Maria Joaquina de Siqueira Cavalcanti. Formou-se em Medicina em Recife, em 1933. Foi também Professor de História e de Francês. Importante nome da cultura norte-riograndense. Publicou mais de duas dezenas de livros. Biblioteca, em Natal, leva seu nome. Foi um crítico ferrenho, diz-se que ele "não perdia uma oportunidade de alfinetar personalidades culturais e políticas do estado", o que, em parte, teria contribuido para que o autor não gozasse de todo o mérito ao qual fez jus. .Morreu em Natal, em 20 de junho de 1987.
Para o meu tédio curar
(mal que, aliás, não tem cura),
ponho-me a ler e a estudar:
Cultivo a literatura
Crer no amor é crer na vida,
saber amar é viver.
Quem descrê do amor duvida
da própria razão de ser.
Retornado ao pó obscuro,
coração, urna de pranto,
quem saberá, no futuro,
que amaste e sofreste tanto?
Teu silêncio me exaspera.
Por que estás sempre calada?
Pensas em mim? Quem me dera!
Talvez não penses em nada...
Aos outros seduza a fama,
a vaidade não me tenta,
pois a ambição de quem ama
com o próprio amor se contenta!
Tem tudo: fortuna imensa,
honras, prestígio, nomeada.
Olha o amor com indiferença...
Pobre rico! Não tem nada!...
Quero viver como vivo,
ninguém comigo se importe.
- Se é lei do amor ser cativo,
escravo serei da sorte.
Deparei-me face a face
com teu olhar suave e terno.
Foi como se o sol raiasse,
depois de um dia de inverno.
De amor os versos que fiz
dariam mais de um milheiro.
Toda mulher que me quis
foi por amor... ao dinheiro!
Larápios de mil padrões
há neste mundo, dispersos.
Até conheço ladrões
que roubam frases e versos...
Se eu respeitasse o jumento
mesmo o bravio e coiceiro,
adeus meu divertimento,
alegre humor galhofeiro…
Os asnos são divertidos,
asnos bípedes, é claro,
todos se julgam sabidos,
dotados de senso raro.
A mediocridade infesta
os arraiais literários:
asnos exibem na testa
triunfos extraordinários.
Dão-se prêmios repetidos
a livros que valem nada,
de versos desenxabidos
ou prosa vazia e aguada.
EPITÁFIO
Amou o belo e a verdade
Sem crer no Céu nem no Inferno
Do mundo, em vez de saudade,
Sente agora alívio eterno.
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NOTA = Na obra de Esmeraldo, a presença do jumento (e similares) era tão constante, que achamos por bem fechar sua página com um poema a caráter.
O POETA DAS QUADRINHAS FERINAS, para o bem e para o mal.
Brasilae Jumentorum
In Poemas do Bem e do Mal – inéditos e recentes 1984
Mais uma vez quero cumprimentar
Os jumentos de sorte no Brasil,
Celeiro mundial, hoje sem par,
Dessa garbosa espécie tão gentil.
Por toda parte, em todos os setores.
Da vida nacional, ei-los felizes:
São médicos, dentistas, professores,
Boticários, agrônomos, juizes.
Na militar carreira ou na política,
Gozam de imunidades, valem ouro,
E ai de quem, arriscando qualquer crítica,
Mostre em seus atos o menor desdouro.
O clero é outro exemplo edificante
Dessa prosperidade jumental.
Mas, no mesmo sentido, o protestante.
Não fica atrás como valor rival.
E o populacho, o anônimo rebanho.
Que se esfalfa no campo ou na oficina,
Estranho ao bem-estar, ao gozo estranho,
Incapaz de entender a própria sina?
O povo é isto, a plebe, a populaça,
A ralé, a gentalha, o João Ninguém
Pratica o futebol, ama a cachaça,
Crê no padre Romão como convém.
NATAL, 10 de agosto de 2008.
(publicação "in memorian", no centenário de seu nascimento)