Helena Ferraz escrevia com o pseudônimo de "Álvaro Armando". Sua natureza satírica lhe impôs essa necessidade e ela escolheu um masculino, que mais justificaria a agressividade, composto com os nomes de seus filhos. Filha de Bastos Tigre, revelou talento incontestável, começando como colaboradora do pai na coluna "Pingos e Respingos", no jornal "Correio da Manhã", e depois, em "O Globo", com coluna própria, intitulada "Na boca do Lobo". Cultivava o humorismo ao gosto popular, com verdadeiros achados satíricos em versos, como a sequência abaixo, em vermelho,, extraída de "Antologia de Humorismo e Sátira", Ed. Civilização Brasileira — Rio de Janeiro, 1957, pág. 384, organizada por R. Magalhães Júnior.
Uma pergunta "clichê"
sai no beijo dos amantes:
— Por que, meu amor, por que
não nos conhecemos antes?
E eu respondo pra consolo:
— Se isto houvesse acontecido,
você agora, seu tolo,
é quem seria . . . o marido. * * *
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Amor: doce inquietação,
ventura nunca atingida.
Quase sempre sem razão,
é a razão de ser da vida.
Esperança é qualquer cousa
que não se pode explicar,
- que a gente quer, mas não ousa,
com medo de se enganar.
Saudade: clarão fulgente
num viver tristonho e obscuro;
um pouco de antigamente
que passa para o futuro...
A amizade significa
um sentimento incolor
que a gente pensa que fica
depois que termina o amor.
Muito cuidado se mentes
e se o mentir te seduz:
a mentira é, das sementes,
a que mais se reproduz.
A mulher, se for esperta,
não deve ciúmes mostrar,
que o ciúme, às vezes, desperta
a vontade de pecar...
Um homem simples do campo
me disse, com voz sensata:
Amor é como sarampo,
quando “recolhe” é que mata...
As mulheres - não são raras -
quando estão envelhecendo,
procuram, nas lojas caras,
o brilho que estão perdendo.
Se uma mulher te confessa:
- És o primeiro, meu bem!
É que ela esqueceu depressa
e... vai te esquecer também.