ISTO É CULTURA!
(XIII) - publicado em 13.04.2016
Por Thalma Tavares (publicado em "Colunas", do site www.falandodetrova.com.br)
QUESTÕES DE PORTUGUÊS & CURIOSIDADES
"A NÍVEL DE"
Dos erros nossos de cada dia, abordaremos hoje o contestadíssimo "a nível de", expressão equivocada, trazida do francês, largamente usada por políticos, articulistas e comunicadores de todos os tipos.
"Errar é humano!", dizemos sempre como desculpa e consolo para a nossa condição de criaturas falíveis. No entanto, acostumar-se ao erro é falta de caráter, de amor próprio, quando não é essencialmente "burrice". Reconhecer os erros, porém, e procurar corrigi-los é uma das mais dignas e apreciáveis virtudes do ser humano.
O leitor deve estar cansado de ouvir, principalmente na TV, entrevistadores e entrevistados usarem e abusarem da expressão "a nível de". E só porque ouviram alguém dizer esta sonora patacoada através da mídia, acham-na correta e elegante e saem por aí a repeti-la, convictos de que estão abafando.
Nossa sintaxe não admite a expressão "a nível de". Não é própria de nossa Língua. Trata-se de um solecismo, cometido alhures por algum comunicador despreparado. A mídia descompromissada com o idioma, encarregou-se de popularizá-la.
Ouvimos diariamente frases como esta: - "os debates serão feitos a nível presidencial" ou então: - "Isto não acontece a nível de Brasil". Besteironas! Recentemente ouvimos um comentarista esportivo dizer que "...o atleta não teria sofrido tanto se a contusão fosse apenas a nível de panturrilha" (barriga da perna). Outros há que para tornar a besteira mais gritante ainda, acentuam a preposição (que já é indevida), como se aí houvesse ocorrência de crase. E a coisa fica assim: à nível de. Que horror!
A palavra nível não pede a preposição a. Não pode, portanto, ser regida por ela. A expressão correta é: em nível de. De modo que podemos usar corretamente e sem medo de errar:
Os debates serão feitos em nível presidencial;
Este aluno está no mesmo nível daquele outro;
A palestra foi proferida em ótimo nível;
A alma do falecido ascendeu ao nível das almas superiores.
Deve-se levar em conta, com muita seriedade, que nem tudo o que se diz no Rádio ou na TV, pode-se sair repetindo por aí, como coisa certa.
Argumentarão alguns, para disfarçar seu descaso pelo idioma, que este a nível de é um erro consagrado pelo uso e já faz parte do vernáculo. Conversa fiada! Que o leitor não caia nesta. Se todos os erros de linguagem cometidos por aí a fora, consagrarem-se pelo uso, nosso idioma acabará perdendo a identidade, deixando-se dissolver pelo excesso de solecismos e estrangeirismos. Lembremo-nos de que ele é o mais rico patrimônio de nossa nacionalidade.
A Trova de hoje é de Carolina Ramos, Magnífica Trovadora em Nova Friburgo, poeta e escritora premiadíssima, presidente da UBT-Seção de Santos e Vice-Presidente do Conselho Nacional da UBT, promotora de afamados concursos de trova, como ainda hoje acontece. Foi a musa inspiradora de Luiz Otávio, o Príncipe dos Trovadores Brasileiros. As trovas de Carolina Ramos primam sempre pelo ecletismo das mensagens edificantes e pela originalidade, como nos confirma esta sua pitoresca e bem humorada trova:
“ A lua beija a favela...
A estrela no céu reluz...
- Meu bem, apaga essa vela,
o amor não quer tanta luz!...”
Acreditem e tomem nota porque isto é cultura!