João Ribeiro - parte 1

JOÃO RIBEIRO

(1860 – 1934)

 

(PARTE I)
 

Possuo livro cuja capa tem os seguintes dizeres:

 

“PUBLICAÇÕES DA ACADEMIA BRASILEIRA

OBRAS DE JOÃO RIBEIRO

CRÍTICA

VOLUME II

POETAS

PARNASIANISMO  E  SIMBOLISMO

 

(Organização, Prefácio e Notas de Múcio Leão)

Rio de Janeiro

1957”

 

                         Múcio Leão escreveu em seu PREFÁCIO:

 

            “Este volume abrange a contribuição crítica de João Ribeiro acerca dos poetas brasileiros que pertenceram ou pertencem à fase parnasiana, à fase simbolista e à fase que tem sido chamada neo-romântica, e que não é mais do que a continuação do parnasianismo e do simbolismo. São meras classificações, que no fundo não têm importância nenhuma.

            O fato é que aqui se encontra um grupo de poetas ilustres, que vêm desde os dias de Machado de Assis e chegam aos nossos dias. Muitos deles – Maria Eugênia Celso, Rosalina Coelho Lisboa, Gilka Machado, Olegário Mariano, Adelmar Tavares, Aluísio de Castro, Magalhães de Azeredo, entre outros – estão ainda em plena atividade literária.

            Nestas páginas incluem-se estudos produzidos a partir dos últimos dias do século passado, ou dos primeiros do século atual (o estudo sobre Francisca Júlia é de 1895; tal nota sobre Raimundo Correia é de 1903.) Mas a quase totalidade deles parte de 1917, quando João Ribeiro assumiu a crítica do ‘Imparcial’.

            Quem os ler, verificará o que deixei acentuado no pequeno prefácio que escrevi para o volume dos ‘Modernos’: verá João Ribeiro insurgindo-se contra os excessos formais do parnasianismo, apregoando a necessidade e a urgência de uma renovação em nossa poesia – vê-lo-á, enfim, agitando idéias que só um lustro mais tarde começarão a preocupar o país, no eco das palavras de Graça Aranha e seus discípulos. Assim, no artigo sobre Mário Mendes Campos (Stalactiles) vemo-lo censurar a adjetivação demasiada e longa do alexandrino, em muitos outros, sentimo-lo cansado do soneto.

            Para encerrar o volume escolhi os estudos acerca de Gilka Machado, em um dos quais, citando nominalmente Alberto de Oliveira e Bilac, o crítico renega os ideais poéticos de sua mocidade e já se confessa, sem disfarce, um modernista, - o que veio a ser chamado modernista.”

 

São os seguintes os poetas mencionados:

 

1

Alberto de Oliveira

18

Adelmar Tavares

2

Raimundo Correia

19

Múcio Leão

3

Olavo Bilac

20

Bastos Tigre

4

Guimarães Passos

21

Rosalina Coelho Lisboa

5

Augusto de Lima

22

Maria Eugênia Celso

6

Afonso Celso

23

Mário Mendes Campos

7

Medeiros de Albuquerque

24

Ferreira Itajubá

8

Carlos Magalhães de Azeredo

25

José Albano

9

Francisca Júlia

26

Alcides Flávio

10

Humberto de Campos

27

Félix Pacheco

11

Aloysio de Castro

28

Pereira da Silva

12

B. Lopes

29

Belmiro Braga

13

Dom Aquino Correia

30

Mário de Lima

14

Hermes Fontes

31

Amaral Ornelas

15

Da Costa e Silva

32

Noraldino Lima

16

Alberto Ramos

33

Gilka Machado

17

Olegário Mariano

 

 

 

     Para não me alongar muito, começarei transcrevendo o que João Ribeiro escreveu sobre Raimundo Correia, “Poesia”, no “Correio da Manhã”, em 10/06/1903:

 

            “Não escrevo as linhas que começam este pequeno artigo senão para servirem de moldura aos versos que se vão ler.

            São versos de Raimundo Correia, e para todo o elogio bastaria o nome do poeta.

            Não é sobre o nome do autor, mas sobre o gênero da poesia, que desejo chamar a atenção. São raros entre nós tais versos, que não sejam puramente pessoais e subjetivos. A verdadeira poesia deve ter, como esta, alguma substância dramática e épica e não, segundo os cânones do estrito egoísmo, consistir em meras amplificações retóricas.

            O povo, donde tudo e a mesma poesia provém, não cultiva outro gênero que não seja este; basta repassar na memória os romances e as xácaras de composição anônima e coletiva.

 

PEREGRINA

 

Zagais do monte que um lindo

Rebanho estais a guardar,

- Essa em pós da qual vou indo,

Acaso a vistes passar?

 

Fonte entre seixos filtrada,

- Não veio ela aqui beber?

Florinhas que orlais a estrada,

- Não vos veio ela colher?

 

Ó vós, peregrino bando

De andorinhas a emigrar,

- Essa em cujo encalço eu ando,

Não na vistes vós passar?

 

II

 

Sem responderem, lá se iam

As andorinhas pelo ar;

E as florinhas não sabiam

Resposta nenhuma dar;

 

E a água corrente da fonte

Corria sem responder;

E os pobres zagais do monte

Nada sabiam dizer.

 

Mas, no fim da estrada, havia

Uma pedra tumular:

Esta, ai! sim, responderia,

Caso pudesse falar.

     Dos nossos onde se encontram alguns espécimens dessa verdadeira e genuína poesia, além de Raimundo Correia, há Afonso Celso (na Alma Vária e em outras composições suas) e Arthur Azevedo e talvez poucos outros.”
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NOTA:  texto postado no site em 18.11.2010, colaboração de José Fabiano.   www.falandodetrova.com.br/josefabiano