III Jogos Florais de Juiz de Fora/MG - 1965

III  JOGOS  FLORAIS  DE  JUIZ  DE  FORA - 1965

Os III Jogos Florais de Juiz de Fora foram organizados pelo Núcleo Mineiro de Escritores - NUME, cujo encerramento se deu entre os dias 09 e 11 de dezembro do ano de 1966.
Entre outros critérios, sobressaiu como linha mestra de conduta da Comissão ulgadora essa exigência: que as trovas DISSESSEM alguma coisa.
Não foi possível extremar tal exigência, por se levar em conta que a trova, no Brasil, ainda é acentuadamente marcada pelo sentimentalismo.
Mas foi feito, pelo menos, um esforço no sentido de conduzir a trova a uma reformulação, de maneira que ela conserve sua forma (insuperável para a difusão e fixação)
e algo de seu romantismo, mas se revigore como continente e veículo de mensagens mais adequadas ao mundo moderno.

TEMA:  "DESTINO"

1º lugar: HEGEL PONTES - Juiz de Fora/MG
Morre Cristo, o palestino,
e, na vida transitória,
a história do seu Destino
muda o destino da História.

2º lugar: MÁRIO PEIXOTO - Rio de Janeiro/GB
Não sonha, não devaneia,
enquanto o cego conduz:
seu destino é ser candeia
daqueles olhos sem luz.

3º lugar: BARRETO COUTINHO - Curitiba/PR
Destino é força que esmaga...
- Credor austero, tremendo:
manda a conta e a gente paga
sem saber que está devendo.

4º lugar: JOÃO RANGEL COELHO - Rio de Janeiro/GB
Senhor Deus, ó Pai dos pais,
por que motivo consentes,
entre teus filhos iguais,
destinos tão diferentes?!

5º lugar: CLODOALDO DE ALENCAR - Aracaju/SE
Os destinos, diferentes,
são comuns para os amantes:
- batalha de duas frentes
com armistícios constantes.

6º lugar: APARÍCIO FERNANDES - Rio de Janeiro/GB
Guia o nauta e o peregrino,
rege os nobres e os plebeus.
- É que o dedo do destino
faz parte da mão de Deus!

7º lugar: WALTER WAENY - Santos/SP
Nem a melhor das escolhas
pode impedir que a ilusão
tenha o destino das folhas
que o vento arrasta no chão.

8º lugar: SEBASTIÃO DE PAIVA - Juiz de Fora/MG
Não invejo o teu destino,
teu ouro, tua ambição.
Sou humilde peregrino,
busco o céu de pés no chão.

9º lugar: LILINHA FERNANDES - Rio de Janeiro/GB
Marquei com régua e compasso
meu caminho igual ao teu;
e o destino fez um traço
bem diferente do meu.

10º lugar: FRANCISCO LUZIA NETTO - Amparo/SP
Nos caminhos do abandono
tenho um destino de espera...
Eu vivo assim como o outono:
dos restos da primavera.

MENÇÕES   HONROSAS

11º lugar: HEGEL PONTES
Nas estradas da ilusão
o cigano libertino
lendo os destinos da mão
vive nas mãos do destino.

12º lugar: ANA ROLÃO PRETO ALBANO - Castelo Branco/Portugal
Quisera ter por ventura
o destino mais feliz:
ser corrente de água pura
que mata a sede à raiz.

13º lugar: CÉLIO GRÜNEWALD - Juiz de Fora/MG
Teus olhos, contas divinas,
por falsos, minha alma os teme.
São iguais às turmalinas,
no destino de Paes Leme.

14º lugar: MÁRIO PEIXOTO
Lastra a fome, morre o gado,
torra o sol no eterno azul
e o nordestino, exilado,
toma o destino do Sul.

15º lugar: APARÍCIO FERNANDES
Conselhos, desde menino,
muita gente me quis dar,
mas a cruz do meu destino
quem me ajuda a carregar?

16º lugar: HEGEL PONTES
Com que ironia o destino
pôde este quadro pintar:
de um lado, um lar sem menino;
de outro, um menino sem lar.

17º lugar: HÉLIO C. TEIXEIRA - Rio de Janeiro/GB
Foste meu sonho divino,
mas de ventura tão breve,
pois, ao cruzar meu destino,
passaste apenas de leve!

18º lugar: COLBERT RANGEL COELHO - Rio de Janeiro/GB
Vim, minha mãe, sem as rosas
do meu tempo de menino,
de tuas mãos carinhosas
para as garras do destino.

19º lugar: LUIZ OTÁVIO - Rio de Janeiro/GB
Meu destino solitário
é uma carta diferente,
que não tem destinatário
nem nome de remetente...

20º lugar: DURVAL MENDONÇA - Rio de Janeiro/GB
Vou na vida claudicando,
porque meu destino ingrato
se diverte colocando
pedrinhas no meu sapato.

CURIOSIDADE DO CONCURSO =

     A Comissão Julgadora recebeu a seguinte trova:

Pela Terra a alma que traça
seu destino à luz do bem,
além do estado de graça,
terá as graças do Além.
PSEUDÔNIMO: FRONDÉLIO

     Pelo seu teor poético foi incluída entre as 100 (cem) trovas semifinalistas, chegando mesmo a ser classificada entre as 10 (dez) primeiras.  Entretanto, na Sessão de Identificação dos autores, presidida pelo M.M. Juiz de Direito da Comarca de Juiz de Fora, o trovador Dr. Plácido Correia de Araújo, verificou-se que o pseudônimo "Frondélio" correspondia a Belmiro Braga, trovador de Vargem Grande e Patrono do Núcleo Mineiro de Escritores - NUME - poeta já falecido há mais de vinte anos.  Embora tal pseudônimo fosse usado por ele em vida, embora a assinatura e o talhe da letra, além do estilo, muito se assemelhassem aos de Belmiro Braga, a Comissão houve por bem, por unanimidade, excluir a referida trova da seleção, face aos incisivos termos do Regulamento que determinava a remessa de trovas de autoria do remetene, com sua completa qualificação, inclusive endereço. 

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Os dados do presente concurso foram gentilmente enviados pelo trovador Dulcídio de Barros Moreira, de Juiz de Fora/MG.