LAVÍNIO: MAIS SONHOS A MENOS...
Quando a Ester Figueiredo passou um email, na noite de 12 de julho,retratando as condições do poeta, no Hospital de Barra do Piraí, por mais que – como amigos – queiramos, nesses instantes, afrontar as evidências, ficou muito nítido o quadro. No dia seguinte, 13 de julho, a comunicação do Edmar Japiassú Maia confirmava o ocorrido: LAVÍNIO GOMES DE ALMEIDA já não pertencia ao Plano Material.
A intensidade da alegria que sentimos ao relatar as conquistas de nossos irmãos trovadores nem se compara à comoção que nos toma quando um deles deixa o nosso convívio.
Falar de Lavínio é como descortinar um pedaço da história de Barra do Piraí, que reverdeceu nos noticiários da literatura nacional, através de seus charmosos Jogos Florais, com almoços à beira da piscina e passeios inesquecíveis. Como em agosto de 1999. Lembro-me bem: era a minha primeira viagem para fora do Estado de São Paulo, para defender uma premiação. Foi lá que conheci o “quartel-general” da Trova no Brasil: Waldir Neves, João Freire Filho, Arlindo Tadeu, Edmar Japiassú, Renata Paccola e tantos outros. Ao centro da mesa de trabalhos, possuído pelo orgulho só pertinente a aqueles que têm a consciência de estar à frente de uma nobre missão, Lavínio era só emoção e
felicidade. Foi uma noite fantástica!
No dia seguinte, um passeio até a encantadora Conservatória, conhecidíssima como a “Capital Mundial da Seresta”, coroou o brilho da realização.
E foi nessa festa que eu me tomei definitivamente de amores pela Trova. E conheci de perto um grande líder do Movimento: LAVÍNIO GOMES DE ALMEIDA! E uma cidade que ficou marcada em minha memória: Barra do Piraí! Que foi berço do grande poeta, nascido num distante 12 de junho, filho de Lucrécio de Almeida e de Dona Lídia Vieira Gomes. Ali fez seus estudos, até formar-se Contador. Ainda jovem, foi residir no Rio de Janeiro, onde fez seus primeiros vôos literários, incentivado por sua saudosa amiga Dinah Silveira de Queiroz. Até formar-se médico com especialização em Dermatologia. Trabalhou em vários municípios, inclusive fora do Rio de Janeiro. Cursou ainda o Maison de France, onde fez o Curso de Língua e Civilização Francesa.
Lavínio,além de incansável trabalhador pela Trova, foi um inspiradíssimo autor de muitas delas. Sua marca registrada era o requinte, o cuidado com que finalizava as composições. Como essas, com as quais ilustramos a justa homenagem ao querido “irmão de ideais”:
Na estrada sem estações
onde jamais há demoras
minutos são os vagões
do “trem-sem-volta” das horas!...
Qual vaqueiro de esperanças
abóio, com emoção,
a manada de lembranças
nos pastos do coração!
Velhas cartas... meu degredo...
com pranto as pude escrever.
Há, no seu bojo, um segredo
que o mundo não vai saber!...
Para onde ele agora partiu, quantos já se foram! E todos iremos. É só uma questão de tempo. Mas, com toda a certeza, toda vez que um Poeta viaja, a nossa Camada de Sonhos nesse planeta fica muito comprometida.
Deus tenha o nosso Lavínio
onde haja luzes de sobra,
e fique em nós o fascínio
pelo obreiro... e pela obra!
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(Texto escrito em 14 de julho de 2009 por José Ouverney)