LOURDES REGINA FERREIRA GUTBROD, carioca, professora, poetisa e prosadora, nascida em um 20 de julho, filha do "Seo" Willy e de Dona Lourdes. Trovadora de muita habilidade.
A poetisa partiu no dia 14 de janeiro de 2022, do Rio de Janeiro para os páramos celestiais.
Quando eu partir, não precisa
louvar-me... expor-me em retratos:
lembre, só, que fui poetisa
e apaixonada por gatos!!!
Pedes perdão... e eu, vencida,
com teus beijos me deleito,
e ouço a música da vida
tocar de novo em meu peito!
Em cada vã tentativa
de arrancar-te da memória,
tua imagem mais se aviva
nas cenas da minha história!...
Quem conhece o desencanto
e os desgostos por que morro (M. Especial Niterói 1993)
percebe sempre, em meu canto,
muitos gritos de socorro!
No espaço, além, fui buscar-Te (2º lugar Friburgo 1991)
sem que, ó Deus, Te revelasses...
e estavas em toda parte
sob as mais diversas faces.
Com teu ar de indiferença
foste um vento, em minha vida,
que entrou sem pedir licença
e saiu sem despedida!...
Quis arrancar brutalmente
do meu passado as raízes,
mas você está presente
mesmo em minhas cicatrizes!...
Voltas... e, ouvindo os teus passos,
cheia de amor e esperança,
eu, de novo, te abro os braços,
sem condições nem cobrança!
Amor... profundo mistério,
que não se explica ou traduz:
às vezes é um refrigério,
outras vezes, nossa cruz.
Juras de amor infinito...
de que seremos felizes...
Ah, que fascínio inaudito
têm as mentiras que dizes!...
Passo momentos felizes
vivendo só de ilusão,
pois as mentiras que dizes
são, na verdade, meu pão.
Qual de nós dois nesta trama
é mais falso ou desonesto:
Você... ao dizer que me ama?
Eu... ao gritar que o detesto?
Já fui tua... foste meu...
Não faz mal se hoje padeço:
Quem um grande amor viveu
acha justo qualquer preço.
Tu chegas...e, em vez de paz,
trazes dúvida e aflição,
pois sei que é o pouso fugaz
de uma ave de arribação...
Como noiva prometida,
lírios na fronte e na mão,
eu te esperei toda a vida
no altar da minha ilusão!...
Tamanha paixão eu tinha,
e há tanto que te aguardava
que, ao me elegeres raínha,
eu me entreguei como escrava!
Que importa se me sorrís,
às vezes, por compaixão?
Prêmios me fazem feliz,
mesmo os de consolação.
Quando voltas, não te acanhas:
pedes desculpa e me agradas...
E eu me rendo às artimanhas
dessas conversas fiadas!...
É quando tu ficas mudo,
e assumes um ar lascivo,
que teu corpo fala tudo
do modo mais expressivo...
Sou um verbo transitivo
que nunca encontrou objeto,
condenado, sem motivo,
a ser assim: incompleto...
Tu vens, ardoroso e amante...
e sempre partes, ligeiro.
Qual relâmpago, és vibrante,
mas de fulgor passageiro.
Tu chegaste sem rodeio,
fingindo paixão por mim...
E eu apenas fui um meio
para atingires teu fim.
Quantas cenas de ternura,
se estamos juntos, a sós!
Sem timidez nem censura,
em nosso palco... só nós!
Amamo-nos... mesmo assim,
um disfarça, outro tem medo.
Não dizes gostar de mim
e eu também guardo segredo.
Grite, revele o que pensa,
com ira ou mesmo agressão!
Suporto a mais dura ofensa,
mas esse desprezo... não!
Quando a volúpia me invade,
eu me entrego em cada gesto...
Perco o nome, a identidade.
Sou tua! Que importa o resto?...
Gostava desta ousadia:
amar sem rédeas nem laços.
E acabei, por ironia,
prisioneira, nos teus braços...
Não sabes... não adivinhas,
lendo as cartas que te escrevo,
que digo, nas entrelinhas,
tudo aquilo que não devo...
Nas vãs promessas que fazes
não suponhas que acredito:
Queres prazeres fugazes...
e eu busco amor infinito!
Navegante sem destino,
ante um naufrágio medonho,
eu me agarro, em desatino,
aos destroços do meu sonho!...
Vá, pela estrada do Amor,
sem cobrar por atos seus:
Quem dá tem saldo credor
no grande Banco de Deus.
Sem me curvar à derrota,
nenhum desalento esboço. (5º lugar em Pouso Alegre - 1999)
E à esperança mais remota
respondo bem alto: Eu posso!!!
Se aos infelizes dás sobras
com desdém, indiferença,
há, decerto, nessas obras,
não bondade... mas ofensa.
Se o homem romper a grade
que o fecha em seu egoísmo,
será a Fraternidade
uma ponte sobre o abismo.
Um mundo humano e decente
eu sempre buscava a esmo...
até saber que era urgente
mudar, primeiro, a mim mesmo!
A vida - sempre tão cheia
de labutas e batalhas -
para alguns é bela ceia,
para muitos... só migalhas!...
Coragem!... Se Deus nos testa,
também nos cura as mazelas,
e a Vida é linda seresta
para quem abre as janelas!!!
Na minha vida sombria,
que só conhece empecilhos,
sou um trem sem serventia,
parado... fora dos trilhos!...
Quem diz ter sabedoria
e os seus talentos exalta,
revela, por ironia,
justamente o que lhe falta!
Mentir era tão frequente
- por brincadeira, vaidade... -
que a mentira, finalmente,
tornou-se a minha verdade.
Passam céleres as horas,
tudo é mutável e obscuro...
O tempo engole os agoraa
e tem fome de futuro!