Trovadores Inesquecíveis III
LUCY SOTHER DE ALENCAR ROCHA
(texto de Thereza Costa Val, da UBT Belo Horizonte)
Uma das trovadoras que mais brilho deu à UBT de Belo Horizonte, sem dúvida, foi Lucy Sother de Alencar Rocha. Possivelmente foi ela, também, a mais conhecida. E foi a nossa única “Magnífica Trovadora”. Atualmente, contamos em nossas fileiras com o Magnífico Trovador Arlindo Tadeu Hagen, mas Lucy foi a única mulher da UBT/BH a receber o honroso galardão, até hoje. Todos conhecem a importância desse título, que é outorgado pela UBT de Nova Friburgo aos trovadores que se classificam entre os cinco Vencedores e os cinco classificados com Menção Honrosa em trovas líricas/ filosóficas ou entre os cinco Vencedores em trovas humorísticas, por três anos seguidos. Podem acreditar que não é fácil repetir o fato por três anos consecutivos!
Lucy era uma pessoa meiga. Falava baixo, era agradável e gostava de aconselhar a quem a procurasse com alguma dúvida sobre uma trova feita. Era franca e sincera, sem desestimular quem buscava a sua ajuda, por mais fraca que fosse a trova. Premiadíssima nos concursos realizados por todo o território nacional, Lucy sentia imenso prazer em comparecer às festas de premiação, sempre acompanhada de seu maior fã, incentivador e orgulhoso admirador, seu marido José César Rocha. Era um casal unido que transitava com felicidade, alegria e simpatia pelo mundo da trova. Lucy e Rocha eram muito queridos em qualquer lugar que fossem. Impossível imaginar um sem o outro, nas festas comemorativas! Pela Lucy, Rocha era grande colaborador da UBT de Belo Horizonte, contribuindo para movimentos e iniciativas em favor das trovas. Rocha e Lucy pertenciam à Academia Municipalista Mineira de Letras, onde ele também era colaborador desprendido. Era, como se diz, um verdadeiro “Mecenas” da literatura.
Lucy era nome consagrado quando a conheci. Logo tive muito respeito e admiração pela trovadora famosa. E me tornei sua amiga; tive essa alegria.
Os trovadores quando se encontram gostam de falar suas trovas e, muitas vezes, falam com admiração as trovas de outros companheiros. Costumam dizer que são trovas que gostariam de “assinar”. Com Lucy não era diferente: muitas vezes, ouvi-a dizer e repetir trovas belíssimas de amigos, com o maior entusiasmo pela obra-prima.
Quando indagávamos curiosos por que ela ainda não se animara a publicar um livro seu de trovas, Lucy não tinha explicações, mas Rocha logo intervinha, informando que dependia só dela querer, pois “o cheque em branco estava assinado”. De fato, bastava que ela quisesse, pois sua bagagem de belíssimas trovas era mais do que suficiente para compor um livro de alta qualidade. Infelizmente, o livro nunca saiu.
Lucy Sother exerceu o mandato de Presidente da UBT de Belo Horizonte por dois períodos. Fez palestras sobre trovas em diversas cidades brasileiras e, inúmeras vezes, integrou comissões julgadoras de concursos de trovas e outros gêneros poéticos. Participou de diversas coletâneas de trovas e poemas.
Além do marido a quem amava, Lucy era mãe amorosa: tinha um filho e uma filha, que eram motivo de orgulho, e avó “coruja” de duas meninas que eram seu “xodó”. Quando adoeceu, o marido foi seu grande apoio e companheiro, buscando incentivá-la e mantê-la ativa. Quando partiu, nossa Magnífica deixou uma lacuna imensa na família, na UBT e no coração dos amigos e admiradores.
Lucy Sother de Alencar Rocha nasceu em Belo Horizonte, em 11 de setembro de 1928, e faleceu em 31 de outubro de 2006, nessa cidade, onde sempre viveu.
Rocha não resistiu por muito tempo depois de perder a companheira carinhosa e dedicada, que zelava por sua saúde. Em 2009, ele foi encontrar sua
querida, no lugar especial que chamamos de UBT/ Céu.
Difícil selecionar trovas de Lucy, mas aqui estão algumas de minha preferência, todas elas premiadas:
Tem a vida seus segredos. Mais uma ausência, outra ausência,
Deu-me trabalho de um jeito!... um adeus, um nunca mais.
Não tive calos nos dedos E a longa e triste sequencia
Mas quantos... dentro do peito! dos momentos sempre iguais.
A cadeira que, na sala, Se tens culpa, nunca apontes
num balanço vem e vai... com teus dedos a ninguém.
acorda a saudade e fala Existem dedos aos montes
das lembranças de meu Pai... a te apontarem também.
A resposta custou tanto, Mudo, quieto, sem barulho,
demorou tanto a chegar na sombra em que se mascara
que a esperança lá num canto, este seu teimoso orgulho
envelheceu de esperar... é o portão que nos separa.
Se fui sol, fui luz e aurora Magia – é quando o crepúsculo
dos filhos, no amanhecer, do sol, apaga o braseiro,
Sinto nos filhos, agora, e um pirilampo... minúsculo...
minha luz... no entardecer. acende o seu candeeiro...
Por onde andarão, agora, O rouxinol quando canta,
de mãos dadas, por aí, é um joalheiro em serenata,
tuas mãos, minhas outrora, que tendo de ouro a garganta,
que, por um nada, eu perdi? põe jóias na voz de prata.
Lucy era uma trovadora essencialmente lírica: não gostava de fazer trovas humorísticas. Dizia que não tinha jeito para humorismo. Conheço apenas uma trova humorística de sua autoria. Embora não fosse de seu feitio fazê-las, vivia a escutá-las, pois seu marido José César Rocha era um dos maiores contadores de trovas humorísticas que conheci.
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NOTA = Thereza Costa Val é uma das mais atuantes dirigentes do Movimento Trovístico no Brasil. Grande parte do sucesso da UBT de Belo Horizonte se deve a essa incrível poetisa e ser humano, tão organizada quanto discreta, tão humilde quanto companheira. E o site Falando de Trova orgulha-se em tê-la como colaboradora.