Macartismo na UBT?

                                        MACARTISMO NA UBT?
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I

     Para quem não se lembra do significado “macartismo”, transcrevo, com ligeiras modificações, o artigo da wikipédia sobre o assunto:      “Macartismo (em inglês McCarthyism) é o termo que descreve um período de intensa patrulha anticomunista nos Estados Unidos que durou do fim da década de 1940 até meados da década de 1950. Foi uma época em que o medo do Comunismo e da sua influência em instituições estadunidenses tornou-se exacerbado, juntamente ao medo de ações de espionagem promovidas pela União Soviética. Originalmente, o termo foi cunhado para criticar as ações do senador estadunidense Joseph McCarthy, tendo depois sido usado para fazer referências a vários tipos de condutas, não necessariamente ligadas às elaboradas por McCarthy.

     Durante o Macartismo, muitos milhares de estadunidenses foram acusados de ser comunistas ou filocomunistas, tornando-se objeto de investigações agressivas. A maior parte dos investigados pertencia ao serviço público (como Alger Hiss), à indústria do espetáculo (Barbara Bel Geddes), cientistas (David Bohm), educadores e sindicalistas. As suspeitas eram freqüentemente dadas como certas mesmo com investigações baseadas em conclusões parciais e questionáveis, além da exacerbação do nível de ameaça que representavam os investigados. Muitos perderam seus empregos, tiveram a carreira destruída e alguns foram até mesmo presos. A maioria das punições foi posteriormente ilegitimada por veredictos dos judiciais.

     O Macartismo realizou o que alguns denominaram "caça às bruxas" na área cultural, atingindo atores, diretores e roteiristas que, durante a guerra, manifestam-se a favor da aliança com a União Soviética e, depois, a favor de medidas para garantir a paz e evitar nova guerra. O caso mais famoso nesta área foi Charlie Chaplin. Chaplin ao dizer que iria viajar para a Inglaterra junto com sua cônjuge Oona O'Neill, esta que nunca tinha viajado para o exterior, em 1952, foi ameaçado de confisco de seus bens pelo governo americano. Sua atitude foi surpreendente, sem questionar, disse que podiam vender tudo! Quando resolveu retornar aos EUA foi proibido pelo Serviço de Imigração, com a cassação de seu visto, devido a acusações de "atividades anti-americanas", na época do macartismo, num processo encabeçado por J. Edgar Hoover. Charlie decidiu-se então por permanecer na Europa, escolhendo morar na Suíça.

     A "caça às bruxas" perdurou até que a própria opinião pública estadunidense ficasse indignada com as flagrantes violações dos direitos individuais, graças em grande parte à atuação do jornalista Edward R. Murrow na rede estadunidense de televisão CBS, o que levou McCarthy ao ostracismo. Ele morreu em 1957, já totalmente desacreditado”.

II

     Recentemente, ao receber o “Informativo” da UBT – São Paulo, li uma nota sobre uma comissão especial formada para verificar casos de “coincidência” entre trovas de autores diferentes, a fim de averiguar supostos casos de plágio ou de um mesmo trovador “reciclar” trovas antigas premiadas. Uma iniciativa muito louvável.

     MAS... no mesmo boletim, no número deste mês de fevereiro eis o aviso que soa ameaçador à página 6, que reproduzo ípsis litteris:

               “Você sabia?

     1) Há algum tempo foi formada uma Comissão de três grandes trovadores, indicados pelo Presidente Nacional, Eduardo Toledo. Esta comissão tem por finalidade apreciar Trovas de “extrema semelhança” ou já premiadas ou publicadas anteriormente.

     Atualmente, com a saída de Arlindo Tadeu Hagen, a comissão está formada por Izo Goldman, José Ouverney, Maria Nascimento e Roberto Resende Vilela, que promete intensificar sua ação em 2009, dando o nome dos possíveis fraudadores.      Portanto, tome cuidado ao enviar suas Trovas para os concursos”. (O grifo é meu)

     Como afirmei anteriormente, a ideia de se proceder a uma verificação para averiguar casos de plágio ou de desonestidade intelectual é importante, mas tenho receio de que dada a forma como possa ocorrer, tenhamos uma “caça às bruxas”, como ocorreu nos EUA durante o período em que J. Edgar Hoover foi chefe do FBI.

     Exagero da minha parte?  Todos nós sabemos que a UBT não é uma entidade democrática. Longe está disso. Por isso, eu receio que uma “intensificação em 2009”, que dê “nomes dos possíveis fraudadores” possa causar grandes constrangimentos e chafurdar a reputação de um trovador.

III

      Ainda quero acreditar na honestidade intelectual dos meus irmãos trovadores. Não acredito que alguém, propositalmente, tenha a intenção de copiar descaradamente a ideia alheia, visto que isto não acrescentaria nada ao seu nome como trovador e, ainda por cima, seria fatalmente descoberto, seja pela “comissão”, seja por outros trovadores.
     
      Algumas expressões ou algumas imagens são comuns na língua e não é de todo impossível que duas pessoas, em épocas diferentes, tenham a mesma imagem e, pela própria estrutura da trova, construam versos muito parecidos. Pode acontecer de um trovador compor uma trova com uma ideia que já tenha sido dita sem que conheça a trova anterior. Ou ainda, que tenha lido uma trova tempos antes e que a imagem tenha se alojado em seu subconsciente sem que se desse conta disso. Tempos depois, sua memória o trai e ele usa uma ideia que julga ser original em uma trova, sendo que essa ideia já existe e a trova também...!

      Machado de Assis, em seu genial conto “Um homem célebre” narra que, em dado momento, o protagonista compõe uma obra para piano e a mostra à noiva sem dizer que é sua. A noiva lê a partitura e diz: “Não é Chopin?”. E era. Pestana fora traído pela memória.

      Concluo minha consideração com a esperança de que não haja uma “caça às bruxas” na UBT e que a nossa irmandade não se transforme em um grupo de pessoas que suspeitam uns dos outros e ficam procurando coincidências, atrás de casos de plágio.

      Humildade, bom-senso e brandura são qualidades desejáveis em todos os seres humanos e ninguém precisa ser “religioso” ou “cristão” para ser uma boa pessoa e respeitar o seu próximo.

Pedro Mello 16 de fevereiro de 2009