JOÃO NEY RODRIGUES DAMASCENO nasceu em Curitiba, a 20 de maio de 1924. Passou infância e adolescência em Miracema, Estado do Rio e, na capital carioca, cursou a Escola Nacional de Belas Artes.. Formado publicitário, exerceu o cargo de Diretor de Arte em diversas agências de publicidade cariocas. Foi também um cartazista muito laureado, além de exímio trovador, com forte queda para o humorismo.
Tornou-se "Magnífico Trovador" no Gênero Humorístico, em 1986, com as três primeiras trovas abaixo. Faleceu no Rio, do dia 23 de setembro de 2005.
TROVAS HUMORÍSTICAS
1984-1985-1986 (temas livres)
O ciúme é uma suspeita
que, quando fundamentada,
quem não tem cabeça feita,
fica com ela enfeitada!...
Com dois “faróis” pela proa
e um “porta-malas” atrás,
Mercedes, mulata boa,
faz jus ao nome que traz!
O ascensorista escondido
dentro do armário, tremendo,
pra despistar o marido,
abre a porta e diz: - Descendo!
-------------------------------------
OUTRAS TROVAS HUMORÍSTICAS
Vendo os franguinhos girando (Vencedora Rio de Janeiro 2000)
num bruto espeto, alguém diz,
todo se desmunhecando:
- Ah!... Que morte mais feliz!
Causa da própria orfandade, (Menção Honrosa no Rio de Janeiro - 1991)
tão feio nasceu o Augusto,
que a mãe, na maternidade,
ao vê-lo, morreu de susto...
Só bebo "rabo de galo",
sou mestre em 'rabo-de-arraia", (Menção Honrosa em Juiz de Fora - 1983)
curto "rabada" e me ralo
por qualquer "rabo-de-saia"!
Em um forró nordestino, (5º lugar em Sete Lagoas - 1982)
quando o locutor berrou:
"Telefone, Severino!",
o salão se esvaziou!...
Deixaram de ser solteiras,
tornaram-se umas matronas...
e aquelas lindas cadeiras
transformaram-se em poltronas!
De uma longa enfermidade
que lhe minou os pulmões,
Jacob morreu, na verdade,
em suaves prestações.
Quem está sempre dizendo
que a morte é melhor que a vida,
se nisto estivesse crendo,
já seria um suicida.
Pecadora é a que revela
as suas ações impuras,
e virtuosa é aquela
que só as pratica às escuras.
Para sair deste tédio
eu faço aqui um apelo:
- Descubram-me um bom remédio
para dor de cotovelo!
Ela foi tão apertada
quando ainda era mocinha,
que ficou apelidada
de "botão de campainha"!
Deste modo era escolhido
um servidor da nação:
quanto mais prostituido
mais alta era a posição.
Se quer que todos bem cedo
saibam de um fato qualquer,
conte-o então como um segredo
a qualquer uma mulher.
Tem uma dor de consciência
que não o deixa jamais:
- ser causa e não consequência
do casamento dos pais.
Em véspera de eleição
até preso de xadrez,
pra conseguir votação,
vira padrão de honradez.
Para cumprir as promessas
que fez para ser eleito,
precisa - agora confessa -
ser cem anos o prefeito!
O careca é um revoltado
unicamente porque
só tem cabelo espalhado
nos pontos que ninguém vê.
Não acha que se perdeu
com o seu ex-namorado;
depois do que aconteceu
é que ela diz ter-se achado!
Eu digo por que razão
o pobre tanto engravida:
- porque esta é a distração
mais barata que há na vida.
Agora, ao fim da jornada,
dispõe de um bom capital,
que afinal não vale nada,
pois lhe falta o principal...
Depois que o sapo beijou
o corpo dela todinho,
a sapa então protestou:
- Na boca, não! Dá sapinho!
É tão errado o José,
diz tanta coisa sem lógica,
que o apelido dele é:
"previsão meteorológica"!
Pra fugir da solidão
casou-se e, meses depois,
sofria a mesma tensão
multiplicada por dois.
Passarinhos me sujaram
a roupa, sem que eu notasse;
mas vocês já imaginaram
se vaca também voasse?
As pompas do casamento
são um ato de sadismo:
- Não se festeja o momento
em que alguém salta no abismo!
Casamento é como um doce
só por fora açucarado:
é como se o doce fosse
de jiló cristalizado.
Há momentos em que penso
que eu não devo dispensar
toda a atenção que eu dispenso
a quem não sabe pensar.
Amigo e capacho é isso
que só difere na rima:
- ambos só prestam serviço
quando a gente está por cima.
Só compartilha contigo
quando quer que votes nele;
- o político é o amigo
das horas difíceis... dele.
Quem bebe para curar
o mal de amor por alguém,
vai somente acrescentar
ressaca ao mal que já tem.
Bonitão, forte e viril,
valia por três, sozinho!
E a mulher dele fugiu...
com um anão, seu vizinho.
O casamento é um contrato
que quem o assina, em verdade,
sem saber assina um ato
de extinção da liberdade.
Só consegue se casar
e não burlar o contrato
quem for capaz de almoçar
todo dia o mesmo prato.
Ele a amou loucamente
e por ela era querido,
até quando, infelizmente,
dela se tornou marido.
Perdeu o juízo quando
começou a namorar;
também perdeu namorando
o que jamais vai achar...
Quando eu respondi que sim
no dia que nos casamos,
todos olharam pra mim
como a dizer: "Lamentamos"...
Ao afirmar que a cegonha
trouxera os três de presente,
ouviu do mais sem-vergonha:
- Papai então é impotente?
Velho rico é o verdadeiro
caso paradoxal:
tem o burro do dinheiro
mas não tem 'o capital"...
Ele era mesmo um talento,
tão "completo" pianista,
que pra levar o instrumento
tornou-se halterofilista.
Minha mulher fica tonta
com festa em hora marcada;
quando ela diz: "Estou pronta!"
a festa está terminada.
- Meu Deus! Que brilho ofuscante!
Como é lindo este anel seu!
Conte pra mim: é diamante?
- Não. Meu marido é quem deu.
Quando o freguês perguntou
se ele tinha "Namorado",
o peixeiro protestou:
- Pensa que eu sou transviado?
Você me lembra a escultura
daquela estátua de Vênus;
não é pela formosura,
mas pelos braços a menos...
A justiça tem cegueira
mas tem olfato apurado;
quando o dinheiro ela cheira
nem o diabo é condenado!
TROVAS LÍRICAS E FILOSÓFICAS
Por meus possíveis fracassos (1º. lugar Pouso Alegre 1997)
assumo a culpa sozinho:
se Deus libera os meus passos
sou eu que escolho o caminho.
Farta em exemplos, a história
mostra que, às vezes, um passo (MH Pouso Alegre 1997)
leva o caminho da glória
ao abismo do fracasso.
Joguei tanto tempo fora (M. Honrosa B. do Piraí 1991)
com quem me fez infeliz
e imploro um segundo, agora,
de quem me quis e eu não quis...
Quem, hoje, segue na vida
padrões morais do passado, (co-vencedora UBT SP - 1990)
é rima rica perdida
em versos de pé-quebrado.
Os mais raros predicados (Menção Especial UBT SP - 1989)
que eu atribuo a você,
dariam, catalogados,
um glossário de “A” a “Z”.
Na trajetória da vida
o que me causa revolta (Menção Especial em Bandeirantes - 1989)
é chegar ao fim da ida
e não ter direito à volta.
Muita gente sofre e chora
porque trocou, sem receio, (1º lugar em São Bernardo do Campo/SP - 1983)
toda a certeza do "agora",
por um "depois" que não veio...
Na mão da criança triste,
estendida à caridade,
há sempre um dedinho em riste (Menção Especial UBT Rio de Janeiro - 1980)
acusando a sociedade.
Olhando a ilha perdida
na imensidão do oceano, (1º lugar em Santos - 1980)
eu tenho a exata medida
do nada que é o ser humano...
As paredes que se ocultam (8º lugar em Ribeirão Preto - 1979)
nos antigos casarões,
são mausoléus que sepultam
segredos de gerações!
Todo bem que praticares
nenhum mérito terá,
se ao praticá-lo visares
as graças que Deus dará.
O coração não se empresta,
dá-se quando se quer bem,
e a quem recebe só resta
dar em troca o seu também.
O amor tem controvertidas
formas de apresentação:
em seu nome uns ceifam vidas,
por ele a vida outros dão.
Ciúme é como pimenta,
tem que se saber dosar:
- sendo pouco, condimenta,
muito, pode até matar!
Casar seria tão lindo
se não houvesse o "depois":
os filhos acabam vindo
e roubam o amor dos dois!
Seja qual for o quinhão,
há sempre quem o bendiga;
a migalha do seu pão
é um banquete pra formiga.
Brigas, atritos, disputas,
ambições de toda sorte...
- De que valem tantas lutas
se tudo acaba com a morte?
Acusado, sem clemência,
de tudo quanto eu não sou,
meu defensor é a consciência
daquele que me acusou!
Quem oferece um presente
e o recorda a toda hora,
vai cobrá-lo, certamente,
até com juros de mora!
A casa alheia varrendo
antes de limpar a sua
- é o que o homem está fazendo,
tão preocupado com a Lua.