Posted Abril 13th, 2008 by Nélio BessanT - Pindamonhangaba
São poucos que, nessa roda,
têm talento, isso eu bem sei...
Devia, pois, virar moda,
sermos, um pouco, Ouverney !
Conheço e sou amigo de José Ouverney há mais de cinqüenta anos. É, cinqüenta anos... É um bocado de tempo. Uma vida, mesmo. Fomos amigos de infância. Mas eu nunca joguei futebol, nunca rodei pião, jamais joguei bolinha de gude com o Zé. Mas sou seu amigo desde a nossa infância.
Tivemos o prazer de estudar juntos no velho Grupo Escolar de então. Grupo Escolar “Dr Rodrigo Romeiro”. Éramos (ele mais e eu menos) bons alunos. Querem uma prova disso ? Pois bem... Ao término do 3º. ano do Grupo Escolar, tendo sido, ambos aprovados, fomos, pois, matriculados no 4º. ano, lógico. Ocorre que nossa professora do 3º. ano, Dona Lourdes Rebello, que até então fazia absoluta questão de lecionar apenas para as classes do 3º. ano, pediu ao Diretor para dar aulas, também, para o 4º. ano, em virtude de não querer se apartar daqueles alunos de quem ela tanto gostava. E conseguiu ! Dona Lourdinha, hoje, dá aulas no Céu, com certeza.
O tempo e a vida cuidaram de nos dar, ao Ouverney e a mim, destinos diversos.
Ainda na juventude, tivemos a oportunidade de rabiscar alguns poemas em conjunto. Mas não passamos disso.
Embora em atividades diversas, continuamos cultivando o hábito de escrever e, o Ouverney sempre foi muito bom nesse mister. Sempre admirei meu amigo pela precisão dos seus escritos. Quando se tratava de poesia, então, rendia-me à beleza de sua pena e à grandeza de sua inspiração.
Um dia, que sempre um dia há, lá vai o Zé entrando no maravilhoso mundo da trova. Digo entrando, mas quero dizer “oficialmente” entrando, pois ele sempre fez trovas. Apenas não participava do movimento trovadoresco que existia e existe por nosso imenso Brasil.
Como em todas as empreitadas às quais se dedicou, José Ouverney mergulhou de corpo, alma e coração no universo encantado da arte de compor trovas.
Aos mais desavisados, fazer trovas pode até mesmo parecer uma arte menor. Engano ! A trova, por suas particularidades, é uma das formas mais difíceis de se fazer poesia e, ao mesmo tempo, uma das mais belas demonstrações do poder de condensação de um pensamento, seja ele lírico, filosófico ou, até mesmo, humorístico. Em apenas quatro versos setessilábicos, há que se expressar, o poeta, fazendo com que haja ali, ternura, beleza, arte. Tudo contido dentro de parâmetros rígidos de rima, métrica, lógica, música... Não é tão simples quanto possa parecer, antes, pelo contrario.
Aos que ainda não sabem, existe um movimento literário no Brasil que cultua a trova. E existe uma entidade jurídica que a todos norteia e rege: a UBT – União Brasileira dos Trovadores.
Pois bem, a UBT possui Delegacias em um sem-número de municípios espalhados por todo solo pátrio. Essas Delegacias promovem concursos anuais de trovas, singularmente chamados de “Jogos Florais”. Os trovadores, instados, compõem trovas sobre um tema pré-determinado e as enviam para os promotores dos Jogos. Estes, ao receberem as composições, dentro de um sigilo absoluto quanto à autoria das mesmas, promovem o julgamento dos trabalhos e, ao final, proclamam, geralmente quinze vencedores. Os Jogos de cada Delegacia costumam receber, em média, 450 trovas. Apenas os quinze melhores são laureados.
Toda essa explicação se faz necessária para que se possa aquilatar a façanha do meu amigo Ouverney.
Nova Friburgo é considerada a Capital Nacional da Trova, por diversos motivos. Há quarenta e nove anos, o município promove seus Jogos Florais. Por lá já foram premiados os mais importantes trovadores do Brasil. Quase impossível nominá-los todos. Por ser o mais importante concurso de trovas do país, recebe anualmente perto de mil trovas em seus Jogos Florais. Vencer em Nova Friburgo é o sonho de todo trovador.
Quem consegue a façanha de classificar uma trova entre as dez primeiras, por três anos consecutivos, é agraciado com o ambicionado título de Magnífico Trovador. Nesse universo de Magníficos estão os melhores trovadores do Brasil... e são pouquíssimos. Quinze, se muito.
Por duas vezes, José Ouverney quase conseguiu tal façanha.
No terceiro dia deste mês de abril, abertos os envelopes e apurados os resultados, a justiça finalmente foi feita: José ouverney que já houvera se classificado em sexto e terceiro lugares nos dois últimos anos, coroando com ouro a sua trajetória, foi, nada mais, nada menos, que o Campeão dos 49º. Jogos Florais de Nova Friburgo. A partir de então, com todo mérito e justiça, José Ouverney é considerado desde já e “ad eternum”, Magnífico Trovador.
E eu, que nunca joguei futebol com o Zé, jamais empinei papagaio com ele, nunca colecionamos figurinhas juntos, volto aos bancos do Grupo Escolar “Dr Rodrigo Romeiro”, e digo para minha Professora Dona Lourdinha: - Professora, seu mais brilhante aluno é um vencedor. Obrigado por tudo que a senhora nos ensinou. Creia, ele aprendeu a lição direitinho !
Ave, Poesia !
Ave, Trova !
Ave, Magnífico Trovador !
Ave, meu amigo JOSÉ OUVERNEY !