Cândido Simões Canela - Montes Claros / MG

     Nasceu em Montes Claros(MG), aos 22 de agosto de 1910, filho de Antonio Canela e Luzia Simões Canela. Tabelião do 1º Ofício, Vereador à Câmara Municipal de Montes Claros por vários mandatos. Humorista satírico, inspirado trovador, publicou LÍRICA E HUMOR DO SERTÃO e REBENTA BOI, com edições esgotadas. Membro da Academia Montesclarense de Letras. Considerado pelo compositor e produtor Téo Azevedo como um dos maiores poetas brasileiros,abordando predominantemente a cultura popular em seus contos, causos e versos. Em 1978, foi vencedor do Primeiro Festival Brasileiro de Música Sertaneja, promovido pela Rádio Record de São Paulo, com a música "Ternos pingos da saudade", em parceria com Téo Azevedo. Sua composição "Saracurinha Três Pontes", foi gravada por Tonico e Tinoco e Pena Branca e Xavantinho.

Saudade ( crédito de Wanderlino Arruda/RJ)

Saudade - recordação,
de tudo quanto ficou
bem fundo, no coração
do velho que muito amou.

Saudade - sorriso e dor,
pranto dos olhos, que rola,
saudade - prece de amor
passado que nos consola.

Saudade - nosso presente,
relembrando os nossos fados,
saudade - sabor ardente
de antigos beijos trocados.

Saudade - luar de prata,
festivos saraus de outrora,
saudade - mulher ingrata,
que a gente reclama e chora.

Saudade - infância passada,
juventude que se foi.
terno canto à madrugada
de um velho carro-de-boi.

Saudade - perfume estranho
de uma flor já ressequida
entre as páginas de antanho
dos livro de nossa vida.

Saudade - corpo ainda leve,
sorrisos abertos, francos,
saudade- flocos de neve
dos nossos cabelos brancos.

Saudade, enfim, são das dores
da velhice, atroz , arfante,
ouvindo trovas de amores
da mocidade distante.

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Criança, bem comparando,     (15º lugar Juiz de Fora 1962)
(depois, de pensar a fundo)
é o lenço branco enxugando
o eterno pranto do mundo.

Menina, segue os conselhos
de teus amigos, teus pais,
pois a honra é como espelho:
quebrando, não cola mais. 

Não tenho medo da fera
que vive na mata imensa.
Temo, entretanto, a pantera
que fala, tem alma e pensa.

Quantos heróis esquecidos
deste mundo, sem medalhas.
E quantos brasões no peito
de refinados canalhas!...

É verdade - já percebo -
e o próprio mundo nos conta:
esta vida é um pau-de-sebo
com nota falsa na ponta.

Duas caveiras na mesa,
a de um mendigo e a de um nobre.
Dize agora: tens certeza
qual a do rico e a do pobre?

Quantos lábios sorridentes
a nos trairem de perto.
E quanto rosto fechado
de coração sempre aberto!

Alto-falante é um horror!...
Não há cristão que o aguente!
A não ser que o locutor
faça elogios à gente!

Gosto da Morte.  Ela é nobre.
É justa no seu império.
Leva rico, leva pobre,
matou a Cristo e a Tibério.

Quando uma mulher comenta
e à companheira elogia,
o Polo Norte se esquenta
e o sol de agosto se esfria.

Dizem que a pinga nos mata
pouco a pouco, lentamente.
Por isso não largo dela,
pra não morrer de repente...

Matar é crime na terra,
tu sabes, bem como sei.
Por isto inventou-se a guerra,
que mata dentro da lei...