Carlos Guimarães - Rio de Janeiro

      CARLOS DA SILVA GUIMARÃES JÚNIOR nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1915, filho de Carlos da Silva Guimarães e Ermelinda Conceição Guimarães.Aposentou-se como engenheiro da Estrada de Ferro Central do Brasil.
        Com o falecimento de Luiz Otávio em janeiro de 1977, assumiu a presidência nacional da UBT (União Brasileira de Trovadores), cargo que exerceu até 1997, quando Deus o chamou. Editou, em 1978, "Cantigas que Alguém Espera", com 303 trovas e, em 1993, o livro de poemas "Rumos Diversos". "Magnífico Trovador" com todos os méritos, o acervo abaixo diz mais que palavras. Magnífico Trovador em ambos os âmbitos.
A Trova brasileira muito deve a este expoente do Movimento.

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01
Meu lenço, na despedida,
tu não viste, em movimento:
lenço molhado, querida,
não pode agitar-se ao vento.
02
Desfaz-se a flor, mas no galho
deixa em pétala singela
uma lágrima de orvalho
que a noite chorou por ela.
03
Na festa do teu regresso,
desculpa o que eu te disser
e perdoa todo o excesso
dos carinhos que eu te der!...
04
Esta aflição que me invade
e esta dor que me consome,
não creio sejam saudade:
- devem ter um outro nome.
05
Linda música de fato,
ouvida em noite de Lua,
é a que faz o teu sapato,
nas pedras de minha rua.
06
Na carta, ao dizer-te quanto
a saudade me consome,
as reticências do pranto
quase apagaram meu nome.
07
Nessas minhas confidências,
repetidas, sempre iguais,
falam mais as reticências,
que as frases convencionais.
08
Tentei o amor e os fracassos
se acumularam, meu bem:
- quem teve você nos braços
já não pode amar ninguém.
09
Tudo acabou... Não mais juntos,
seguimos rumo, diversos...
E eu te agradeço os assuntos
que deste para os meus versos.
10
Tece a vida, a vida inteira,
a minha sina vadia,
mas, na trama, trapaceira,
põe fios de nostalgia!...
11
Um violão preso à parede...
Canto alegre de um riacho...
Um doce embalo de rede...
Quatro chinelos debaixo...
12
Vivo preso ao desencanto
que esse teu amor me traz:
teus olhos prometem tanto
e é tão pouco o que me dás...
13
A felicidade é mito,
que a gente procura em vão,
como quem busca o infinito
tendo os pés presos ao chão.
14
Amor ou ódio não dosas,
se os dois ao teu peito vêm:
- roseira não conta as rosas,
nem os espinhos que tem.
15
Abandona esse teu manto
feito de tola vaidade:
- nas crianças, todo o encanto
provém da simplicidade.
16
De despedidas, apenas,
consiste, afinal, a vida:
mil despedidas pequenas
e uma Grande Despedida...
17
Despreza, meu filho, o vício
e faze do coração,
terreno fértil, propício
às sementes do perdão.
18
Não creio na paz imposta
por fuzil, bomba ou canhão:
- Paz é quando há mão exposta
ao aperto de outra mão.
19
No Mundo que a falsidade
moldou à sua feição,
ser honrado é qualidade
e não mais obrigação.
20
Olhai a Lua... As estrelas...
As flores... A ave que passa...
Vede que as coisas mais belas
são dadas por Deus de graça...
21
Quanta vez, ante o embaraço
de uma decisão urgente,
o espaço de um curto passo
muda o destino da gente!
22
Vão fugindo os retirantes
e os cardos, pelo sertão,
são candelabros gigantes
enfeitando a solidão.
23
Vai repetindo os fracassos
o pinheiro, na ilusão,
de alcançar, erguendo os braços,
as estrelas da amplidão.
24
Felicidade... Quem sabe
dizer tudo que ela seja?
É tão grande e, às vezes, cabe
num "sim" que a gente deseja.
25
Devo tudo quanto sou
e a vida me concedeu,
à mãe que Deus me levou
e à mulher que Deus me deu.
26
As velas pardas ao vento...         (5º lugar em Valença/RJ - 1972)
doidas gaivotas pelo ar...
você no meu pensamento
e, entre nós dois, esse mar...

ALGUMAS HUMORÍSTICAS

01
Ao vê-lo descer inerme,
em meio a tanto aparato,
disse um verme a um outro verme
- Vou comprar bicarbonato...
02
Até parece pilhéria,
ouvir, de certa pessoa,
a informação de que és séria,
só porque não ris à toa...
03
Ao meu sogro, ninguém logra
vencer em azar, ninguém,
pois atura a minha sogra
e a sogra dele, também.
04
A minha comadre Clara
está bonita e feliz:
gastou os olhos da cara,
mas consertou o nariz.
05
"A coisa está toda errada"
- diz o pescador Romão -
"No mar, peixinhos de nada,
na praia, cada peixão!"
06
Boa mulata, a Anacleta
diz, por piada, talvez,
que, apesar de analfabeta,
conhece bem português.
07
Com todo o senso de artista
e, apesar de todo o zelo,
não sou bom filatelista,
no entanto, procuro "sê-lo"
08
Comprou, na Agência Postal,
o menor selo que havia,
deu-lhe um jeito de avental
e eis a tanga de Maria !
09
Começou mal a semana
o beberrão azarado:
abusou tanto da cana,
que acabou sendo "encanado".
10
De fazenda é tão escasso
o biquíni da Julieta,
que até não sobrou espaço
pra colocar a etiqueta...
11
Do espelho da tua sala,
procura o exemplo seguir:
ele reflete e não fala,
tu falas sem refletir...
12
Da ingente lida cansada,
velha cegonha matreira,
hoje, vive, aposentada,
a assustar moça solteira.
13
Explica a mulher a alguém,
que seu marido é pintor:
é por isso, que ela tem
um filho de cada cor...
14
Eu tenho quatro vizinhas
- que santas meninas são! -
à sua porta, às tardinhas,
há homens em procissão...
15
Explica cheia de sestro,
que não engana a ninguém:
sendo mulher de maestro,
faz seus "arranjos", também.
16
Entre a esposa bem idosa
e uma "gatinha" assanhada,
o macumbeiro Barbosa
vive numa encruzilhada.
17
Imploraste a Santo Antônio
um casamento, Maria:
deu-te o santo o matrimônio
mas fui eu que "entrou em fria"...
18
Jogador inveterado,
morre o amigo Zé do Taco...
Vai entrar, pobre coitado,
no seu último buraco...
19
Namorei a Margarida,
mas como me deu trabalho!
Nunca vi, na minha vida,
um broto dar tanto galho...
20
No banheiro, de surpresa,
ao entrar, reparo bem,
que até no banho, Teresa
é enxuta como ninguém.
21
O Machado é grande amigo,
que eu tenho, sempre, ao meu lado:
qualquer problema comigo,
quem "quebra o galho" é o Machado.
22
Pão duro a mais não poder,
o meu compadre Zulmiro,
em vez de dar, quis vender
o seu último suspiro.
23
Pelo olhar de antipatia,
que o vigário me lançou,
estou certo que Maria,
de manhã se confessou.
24
Perdão, Senhor, mas não posso
resistir à tentação
de, ao rezar o Padre-Nosso,
pedir manteiga no pão.
25
Pensam que caí num logro,
mas, aviso a quem quiser
- pelo dinheiro do sogro,
aturo sogra e mulher.
26
Quando eu morrer, a mulher
em apuros, que não fique:
se na cova eu não couber,
que me enterre no alambique...
27
Tem tanto medo da bronca
da mulher, o meu vizinho,
que até mesmo quando ronca,
o seu ronco sai fininho.
28
Tem, o Zé, vida apertada
e a má sorte a castigá-lo:
se a mulher dá cabeçada,
é nele que nasce o galo...
29
Vive o Domingos feliz
sem o trabalho enfrentar,
que os "domingos" - ele diz -
são feitos pra descansar.
30
Caro doutor, saiba disso:
se esse transplante malogra,
eu pago em dobro o serviço,
pois a velha é minha sogra...
31
Morre a sogra e, comovido,
o meu compadre Tomás,
na coroa, distraído,
escreveu: "Descanso em paz"!
32
Quando bebo mais um pouco,
uma coisa me maltrata
e me deixa quase louco:
- é ver sogra em duplicata...
33
Ao vê-la na igreja entrar,
bamboleante, os braços nus,
Santo Antonio, em seu altar,
cobre os olhos de Jesus.