ELTON CARVALHO nasceu em Vila Isabel, no Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1916, filho de Eugênio Carvalho e Eulina Gomes Carvalho. General do Exército, foi casado com Maria Nascimento durante quase vinte e cinco anos, ambos "Magníficos Trovadores". Um nome renomado na poesia brasileira. Conhecidíssimo, principalmente por seus livros de humor: "Sogra & Outras Piadas"-1993 e "Sogra, Coroa, Bebida e outras Bombas"-1974. De conotação lírico/filosófica, deixou-nos: "Oásis", "Ciranda de Sonhos", "Instantâneos" e "Aquarelas", além de "Rosas de Pedra", com poemas e sonetos. Faleceu no Rio, em 03 de março de 1994.
1
Como um farol dos humanos,
de mãos pregadas na cruz,
mesmo assim, há dois mil anos,
Jesus Cristo nos conduz!
2
Se algum dia for quebrada
nossa união, que eu bendigo,
que Deus te faça culpada
e deixe as mágoas comigo.
3
Esta saudade em meu peito
é de um tempo diferente:
um pretérito perfeito
tão passado... e tão presente!
4
Até quem segue arredio,
olhando o chão como incréu,
chegando à beira de um rio,
sem querer, encontra o Céu
5
Meu ingênuo amor carrega
uma esperança insistente.
- Pobre limo que se apega
a uma pedra indiferente...
6
Crianças não têm maldade...
Por melhor que a gente for,
não sabe nem a metade
do que elas sabem de amor!
7
Servir tem sido o meu fado.
Já balizei tantas rotas,
e, hoje, farol apagado,
sirvo de pouso às gaivotas...
8
Entre a luz que o bem vislumbra
e a sombra que o mal contém,
há uma enganosa penumbra
em que o mal parece o bem...
9
A esperança, na viagem,
é ter a felicidade
de chegar junto à miragem,
e a miragem ser verdade.
10
É uma ilusão a desculpa
de querer culpar alguém,
quando a gente tem a culpa
das culpas que a gente tem.
11
Hoje, a infância me recorda
esse velho amigo meu:
um palhacinho de corda
tão sem corda quanto eu!...
12
Em meus passos erradios
por sinuosas estradas,
eu vou somando vazios,
numa seqüência de nadas.
13
Perdoa-me a irreverência,
Senhor, e este amargo tom:
por que me deste consciência,
sem forças para ser bom?
14
Na noite desesperada
dos fracassados, eu ponho
um pouco de luz na estrada,
em candelabros de sonho.
15
Angústia é a mágoa escondida
dos que, amargando o sofrer,
vegetam perto da vida
sem ter direito a viver.
16
Jamais será diferente
minha atitude contigo,
que a amizade é permanente:
só trai quem não era amigo.
17
Ia um casal caminhando,
velhinho, trôpego o passo.
- Era a Saudade levando
o Passado, pelo braço...
18
A consciência, tirana
que não perdoa ninguém,
é a corte mais desumana
das cortes que o mundo tem.
19
O Sol, coitado, é inocente,
se a seca o verde matou:
ele deu vida à semente,
foi a chuva que faltou...
20
Arredia e itinerante,
ora aqui, ora acolá,
felicidade é migrante:
não se demora onde está...
21
De fantasias e imagens,
quantos castelos já fiz...
Que importa fossem miragens..
se me fizeram feliz?
22
Do nosso amor, hoje, resta,
por muitos erros fatais,
minha saudade, que atesta
que um de nós sentiu demais...
23
Deusas pagãs soberanas,
semeando os jardins e as hortas,
as modestas mãos humanas
dão vida às sementes mortas!
24
A vida é moinho inclemente
que nos leva de roldão
e faz dos sonhos da gente
o pó da desilusão!
25
O pranto mais dolorido
ninguém o vê quando aflora:
a gente chora escondido,
e, algumas vezes, nem chora!
26
Sem usá-la na existência,
o mau não sabe o seu custo,
e é injusto que a consciência
condene somente o justo!
27
Brigaste, e peço desculpa
da minha culpa velada:
a culpa de eu não ter culpa,
e te sentires culpada...
28
Se é tão modesta a bondade
que nem busca recompensa,
quem faz o bem por vaidade,
não é tão bom quanto pensa.
29
Perdoa quem, no caminho,
sem forças, tem que parar:
que culpa tem o moinho,
se o vento não quer soprar?
30
A fibra é o sublime traço
de quem, valente incomum,
já tendo perdido um braço,
insiste em lutar com um!
31
A prova do teu pecado
na carta em cima da mesa...
E um vestido abandonado
vestindo minha tristeza!
32
Cultuando sempre a imagem
da mulher que não me quis,
vou vivendo de miragem,
a esperança do infeliz.
33
Porque é intangível, na essência,
ninguém a compra, ninguém,
pois só vende a consciência
justamente quem não tem!
34
Meu deslize percebeste
e, agravando um quase-nada,
tão no fundo me ofendeste,
que ficaste mais culpada...
35
Que importam, em nossa face,
as rugas que o Tempo fez,
se, quando um netinho nasce,
começa a infância outra vez?
36
Uma ofensa fere menos
que certas maledicências
carregadas de venenos
por detrás das reticências.
37
Revendo um álbum guardado,
quem liga as fotos aos fatos,
vai revivendo o passado
conservado nos retratos.
38
Não, Senhor, não nos convencem
fracassos dos que labutam:
muitos, que lutam, não vencem;
e outros, que vencem, não lutam.
39
Em tristes notas consiste
o meu viver sem razão:
eu sou o violino triste,
na orquestra da multidão.
40
No atropelo da viagem
pela estrada do viver,
quem não sabe ver miragem,
que esperança pode ter?
41
Eu te agradeço o favor
e louvo tua bondade,
mas, para quem quer amor,
é muito pouco a amizade.
42
As confissões em que apenas
certas culpas são mostradas,
são vitrinas das pequenas
e biombos das pesadas.
43
Nasceste... e que glória imensa
me deste, meu filho, assim!
Não fosse a tua presença,
nem saberia ao que vim...
44
Nas horas em que padeces,
podes ir a Deus até,
galgando o espaço com preces,
que são as asas da fé ...
45
Quantas saudades guardadas
conservam o doce encanto
daquelas mãos enrugadas,
mas que eu adorava tanto!
46
Pobre Palhaço! Sem paz,
fazendo rir tanta gente,
por mais que faça, não faz
sorrir seu filho doente.
47
Vou fazer minha morada
tranqüila como uma prece,
numa estância abandonada
que a saudade não conhece. .
48
O carreteiro, sozinho,
na estrada de céu e mato,
pára, às vezes, no caminho,
e beija, triste, um retrato...
49
Embora eu fizesse aquilo
que a consciência me dizia,
como posso estar tranqüilo,
se fiz menos que devia?
50
Solidão, esta certeza
de uma ausência sem remédio,
é moldura de tristeza
num quadro feito de tédio.
51
Volta, amor, se o desencanto
magoar teu coração,
que eu secarei o teu pranto
no lenço do meu perdão.
52
Mal-dotados não têm culpa
e não temam ser julgados:
Deus, porque é justo, desculpa
os erros dos mal-dotados.
53
Jazigos que guardam glórias
dos que o silêncio envolveu,
são como arquivos de histórias
que a própria vida escreveu.
54
Não te culpo, mas te chamo,
entre ofendido e saudoso:
quem ama assim como eu amo
não pode ser orgulhoso ...
55
Deixa que, em seu horizonte,
viva a criança ingenuamente.
Não turves a água da fonte
que mal saiu da nascente.
56
Ouvindo, agora, o trinado
de um curió, numa fronde,
abro os porões do passado,
onde a saudade se esconde ...
57
De um palhaço, dê risada,
mas respeite-o, pois engana:
por trás da cara pintada,
está uma figura humana!
58
Primando pela constância
de uma justiça evidente,
a consciência é última instância
no julgamento da gente.
59
A saudade antecipada
já mostra, na despedida,
que a alegria da chegada
não vale a dor da partida.
60
Felicidade é miragem,
mas, perseguindo-a, nem vemos
que completamos a viagem
sem perceber que a fizemos...
61
A doce fonte do amor,
às vezes, se contradiz,
e a gente sorve amargor
na sede de ser feliz ...
62
Reza com fé e otimismo
que até milagre acontece:
quantos saíram do abismo,
subindo os degraus da prece!
63
Quando um pobre pede esmola
e te estende, humilde, a mão,
traz guardado, na sacola,
teu diploma de cristão!
64
Amor, em qualquer momento,
vou contigo em minhas ânsias,
que o condor do pensamento
vence todas as distâncias.
65
Vendo o espelho refletir
meu rosto muito enrugado,
passei a mão pra sentir
se o espelho estava trincado!
66
Quem a procura, padece,
e ela passa indiferente...
Felicidade acontece
e não depende da gente!
67
Depois que briga e me culpa,
se arrepende do que fez,
e, quando pede desculpa,
começa tudo outra vez ...
68
Amargando a longa ausência,
a saudade aperta assim,
que a saudade é reticência
de um amor que não tem fim.
69
Fingindo felicidade,
um sol que raro desponta,
fantasia é a realidade
vestida de faz-de-conta ...
70
Meritíssimos, clemência
no julgamento de alguém:
é justo o que tem consciência
condenar o que não tem?
71
"MEA CULPA", reconheço,
por todo o mal que te fiz.
E, ao dizê-lo, pago o preço
de ser, também, infeliz.
72
Muita gente não repara
e, por isto, nem reclama,
que há um abismo que separa
quem só gosta ... de quem ama!
73
O carreteiro, na estrada,
vai a tudo indiferente,
quando a carga mais pesada
é a saudade que ele sente!
74
Estranhando meu perfume,
disseste que és infeliz.
Mulher, quando tem ciúme,
nem sabe mais o que diz.
75
Nada fazemos sozinhos
sem Deus nos guiando de cima:
que seria dos moinhos
sem a força que os anima?
76
Mudando constantemente
porque sempre se renova,
a verdade é, tão-somente,
mentira que não se prova.
77
Sentimento não se rende
e enfrenta seja o que for,
porque a razão não entende
desses assuntos de amor...
78
Deixe-o no peito, esquecido,
sem mexer na cicatriz:
relembrar amor perdido
não ajuda a ser feliz...
82
Não culpes o Tempo... Passa
alheio ao teu desencanto...
Agradece, antes, a graça
de teres vivido tanto!
83
Enganoso precipício
com flores para atrair,
quem cai no abismo do vício,
não pode, talvez, sair.
84
Procurei, nas ervas santas,
um alivio à minha dor,
mas não achei, entre tantas,
a que cure mal de amor...
88
Não há palavra mais doce
do que mãe, naturalmente,
que a mãe é como se fosse
ternura em forma de gente.
89
Quase toda já perdida,
a esperança que me resta,
é encontrar, em outra vida,
a paz que não tive nesta.
90
Neste retiro profundo,
fugindo da realidade,
eu me retiro do mundo,
mas não retiro a saudade...
91
A desumana inclemência
selou, no crime da cruz,
a morte da consciência,
pensando matar Jesus!
92
Cantando no alto dos ramos
sob a batuta do Sol,
o coro dos gaturamos
desafia o rouxinol...
93
Se já não sou mais amado,
e, junto a mim, te aborreces,
sou eu, somente, o culpado,
por não ser o que mereces.
94
Angústia é não ter pavio
para a explosão desejada,
neste afã de ser navio,
mas viver como jangada.
95
O retrato de um momento
de paz e felicidade,
nos álbuns do pensamento,
tem o nome de saudade...
96
O samba é um elo perfeito
unindo pretos e brancos,
porque não há preconceito
na batida dos tamancos...
97
Que abismo, Senhor, nós pomos,
por não Te ouvirmos a voz,
entre o fracasso que somos
e o que esperavas de nós...
98
Quem quiser simbolizar
o que resta da paixão,
comece por desenhar
pedaços de um coração.
99
A morte é um mistério: a gente
caminha, sem retrocesso,
para um mundo diferente,
sem roteiro de regresso.
100
Escrava de fatalismos,
nossa vida malograda
é uma escalada de abismos
para chegarmos ao nada ...
101
Um Profeta, com seu dom
de acertar o que prediz,
pregava: - Busque ser bom,
que é o modo de ser feliz.
102
Fantoche de sonhos vãos,
o meu fatal desatino
foi deixar nas tuas mãos
os cordéis do meu destino...
103
Até hoje ainda escuto
teu adeus de despedida
condensando num minuto
toda a amargura da vida.
104
Esquecer jamais consigo,
que a saudade é permanente,
pois, quando parte um amigo,
leva uma parte da gente ...
105
Confesse a culpa, confesse,
antes que cresça em cadeia,
que a culpa escondida cresce
demais, na maldade alheia!
106
Numa enganosa promessa
confeitada de esperança,
a nossa vida começa
no mundo azul da criança ...
107
A saudade, hoje, recorda
a infância, ao achar, quebrado,
meu velho ursinho de corda,
que acorda, triste, o passado...
108
Clemência, Senhor Juiz:
talvez o réu seja a voz
que acusa, nesse infeliz,
a culpa de todos nós ...
109
Embora seja vantagem
conter a dor num sorriso,
mais, ainda, é ter coragem
de chorar, quando é preciso ...
110
Com medo da escuridão
e da chuva que apavora,
o vento parece um cão,
uivando triste lá fora,
111
Deus - que as preces ouve e preza -
também há de conceder
muita graça a quem não reza,
mas age por merecer...
112
São as saudades guardadas
que não me deixam sozinho,
porque é das águas passadas
que vive um velho moinho ...
113
Nas andanças deste um "basta"
e voltas desfeita em pranto.
É tarde! O que se desgasta,
não tem mais o mesmo encanto.
114
Teu desmedido egoísmo
levou-me a fatais fracassos.
- Meu mal foi cair no abismo
da maldição dos teus braços!
115
As folhinhas amarelas,
pingando pelo quintal,
são as lágrimas singelas
da velhice vegetal.
116
Tuas cartas de ternura
são, nestas horas vazias,
uma esmola de ventura
na indigência dos meus dias.
117
Meu filho, maldosamente,
te acusam, com que constância!
Parece até que essa gente
cresceu sem ter tido infância ...
118
Quando o ciúme é culpado,
acusa e ofende depois,
reclama sempre o acusado,
e é o mais amado dos dois...
119
HONRA AO MÉRITO! Comovem
medalhas de glória inglória,
mostrando que falta um jovem
e há mais um herói na História!
120
Vazio... um sabor de nada
que acompanha o insatisfeito;
presença na madrugada,
que ocupa um lugar no leito!
121
Onde se pode encontrar
coragem igual à dela,
que enfrenta a fúria do mar
com cinco paus e uma vela?
122
A Professora, que inspira
a fé, o amor e a bondade,
sendo tia de mentira,
é quase mãe de verdade!
123
Teu crime é teres gerado,
mãe-solteira, uma criança?
Quem condena o teu pecado,
não entende de esperança!
124
Vencido, luta outra vez,
decidido e corajoso,
mas cuida que essa altivez
não te faça um orgulhoso.
125
Porque Ele é o supremo dono,
regendo cristãos e ateus,
a nossa mão é um carbono
do que faz a mão de Deus.
126
Seu Juiz, sou condenado
só por que furtei um pão?
Será que ser desgraçado
já não é condenação? ...
127
O amor é um moinho inclemente,
de estranho e amargo matiz,
que vai triturando a gente,
mas finge fazer feliz ...
128
Num circo, os espectadores,
fugindo aos próprios fracassos,
são palhaços amadores,
aplaudindo outros palhaços.
129
Há tanta semente, tanta,
que se estiola, ressequida,
sem a glória de ser planta,
sem ter o sopro da vida!
130
Ganhando a infinita altura
da consciência iluminada,
é nas raias da loucura
que os gênios fazem morada.
131
Senhor, se Teus dons supremos
dão valor a cada um,
que culpa, afinal, nós temos,
quando não temos nenhum?
132
A infância é a quadra querida,
sem marca de cicatriz,
em que a gente curte a vida
e nem sabe que é feliz ...
133
Fria e, no trato, tão quente,
BURguesa, pacata e calma,
GOsto de ti, simplesmente,
FRIBURGO, porque tens alma!
134
Capaz até de enganar
o onisciente Jesus,
a traição pode cegar
os olhos da própria luz!
135
Hoje, sombra do passado,
amargando este vazio,
sou moinho enferrujado
que estorva as águas do rio!
136
Compondo, em doces imagens,
um futuro sorridente,
eu corro atrás de miragens,
para fugir do presente ...
137
Sendo a alma imortal, ocorre
que Deus, no afã de mantê-la,
de cada vida que morre,
conserva a luz numa estrela.
138
Ah! quantos vão, sem alento,
por tormentosos desvãos,
esculpindo o sofrimento
nos calos feitos nas mãos!
139
A sorte tanto varia
que até nos ventos contrasta:
- ora é brisa, e acaricia ...
- ora é tufão e devasta!
140
A consciência é a premissa
do julgamento perfeito,
porque é a fonte da Justiça,
porque é o berço do Direito!
141
Usando as tintas do verso
nos poemas que componho,
vou retocando o Universo
com pinceladas de sonho!
142
Talvez os males do mundo,
que o tornam menos cristão,
tenham origem, no fundo,
em uma palavra: NÃO!
143
Que o meu retrato, querida,
seja um retrato também
da minha alma, resumida,
do quanto eu te quero bem.
144
Quanta vez, ante a constância
da vida calma da roça,
o amor. sem medir distância,
vai morar numa palhoça!
145
Agora, adulto, o mais grave
é que, cansado de andanças,
não sei onde pus a chave
do meu baú de esperanças.
146
Eu creio que o mundo aflito
há de salvar-se no amor:
não sei de abismo infinito
que ele não possa transpor.
147
A mãe bateu no filhinho,
como "ensinam" certos pais,
mas, recebendo um carinho,
ela aprendeu muito mais ...
148
A Ave-Maria deslumbra,
quando, na tarde silente,
a meia-luz da penumbra
põe luzes na alma da gente.
149
Lançar nosso amor ao lixo,
deixar que o mal se propale,
é pagar por um capricho
um preço que ele não vale!
150
Já nem estranho a maldade
desse Destino mesquinho:
quando traz felicidade,
põe na casa do vizinho.
151
O encanto da fantasia
do seu mundo de esperanças
é o segredo da alegria
do coração das crianças.
152
Que pena que, em nossa vida,
a fase feliz da história
fique um pouco esmaecida
pelo espelho da memória ...
153
Porque não tem consciência,
o louco não se maldiz,
mas ri, na sua inocência,
como se fosse feliz ...
154
Sai do chão com humildade,
evapora e sobe em vão,
porque um dia, com saudade,
se faz chuva e volta ao chão. .
155
Foram vãos tantos anelos,
mas tive culpa, querida,
porque fiz os meus castelos
nos desvãos da tua vida.
156
Nas reticências finais,
tu nem sequer percebeste
que disseste muito mais
que em tudo quanto escreveste.
157
Se o carreteiro, na lida,
leva a saudade de escolta,
a estrada, imensa, na ida,
fica mais curta, na volta ...
158
Naquele que vive cheio
de inveja e nega um abraço,
dói mais o sucesso alheio
do que o seu próprio fracasso.
159
Impávido, em seu caminho
de intermináveis andanças,
o Tempo é estranho moinho
que tritura as esperanças.
160
Nosso capricho maldigo,
porque deixou cicatrizes:
destruiu o amor antigo,
e nos fez dois infelizes.
161
É, com diques de poesia
que as angústias eu contenho,
compensando, em fantasia,
a alegria que eu não tenho, . .
162
Buscando, ilhado e sozinho,
onde a alegria se esconde,
chamo por Deus, no caminho,
nem mesmo Deus me responde!
163
Podem rir do meu sucesso,
que e um prêmio pelo que faço;
mas, por favor, eu lhes peço:
não me chamem de PALHAÇO!
164
Tua arrogante beleza
nem um olhar me concede.
Também se chama avareza
negar carinho a quem pede,
165
Embora ela seja a imagem
de um bem que jamais se alcança,
por trás de toda miragem,
se esconde a própria esperança!
166
Enfrenta firme a injustiça
e não viverás em vão:
mais vale morrer na liça
do que viver na omissão!
167
Há que se ter valentia,
num mundo tão inseguro,
que é com tintas de ousadia
que a gente esboça o futuro!
168
Numa vida amargurada,
entre esperança e revolta,
eu sou migrante jangada,
que vai sem saber se volta...
169
Por que ciscar o passado,
se o passado não tem bis
e vai mostrar um culpado,
sem fazer ninguém feliz?
170
Quando criança, eu queria
crescer dez anos num mês;
e, agora, o que não daria
pra ser criança outra vez...
171
Esmagado ao teu carinho,
sofrendo a trituração,
se fores mó de moinho,
queira Deus eu seja o grão...
172
Neste papel apagado
de um velho farol do cais,
eu, que brilhei no passado,
agora, não brilho mais...
173
Sou triste migrante: em minhas
jornadas de solidão,
fugi, como as andorinhas,
mas não voltei no verão!
174
De miragem em miragem,
pela vida caminhei,
mas chego ao fim da viagem
feliz como comecei...
175
Se a existência, resumida,
é urna roleta que gira,
nessa roleta da vida,
o amor é a maior mentira!
176
Quantos homens presunçosos,
porque a vaidade os conduz,
como faróis enganosos,
dão mais sombra do que luz!
177
Contradizendo os ateus
- tão grande e apenas essência
a maior prova de Deus
é um milagre: a consciência!
178
Este amor, que fez seu nicho
em nosso peito, querida,
começou por um capricho,
e, hoje, é a nossa própria vida
179
Acostumado à labuta,
fujo ao tédio dos descansos,
pois quem nasceu para a luta
estranha a paz dos remansos.
180
Ante um álbum de lembrança
que a antiga imagem guardou,
meu retrato de criança,
ao ver meu rosto... chorou!
181
Eu sei, amor, que me inculpas,
mas, pelo bem que te quis,
aceito todas as culpas,
para te ver mais feliz.
182
Distantes da realidade
dessa miséria da rua,
o orgulho humano e a vaidade
já estão presentes... na Lua!
183
Para esquecer os problemas
amargos do dia-a-dia,
construo, nos meus poemas,
um mundo como eu queria...
184
No teu dia, mãe querida,
na penumbra da descrença,
como falta, em minha vida,
a luz da tua presença!
185
Triste sombra de um passado,
quando eram de ouro os trigais,
sou, hoje, um moinho quebrado
que o vento não move mais...
186
Meu amor, todo altruísmo,
que se deu sem recompensa,
morreu sem eco no abismo
dessa tua indiferença.
187
Ave-Maria... Anoitece...
E há um mistério que deslumbra
nesse silêncio de prece
da meia-luz da penumbra!
188
Para livrar a existência
da angústia que nos assalta,
mandai-nos, Senhor, consciência,
que é tudo quanto nos falta!
189
Inseguro, o amor reclama
que o amado diga se gosta
- E o destino de quem ama
depende dessa resposta...
190
É para ajudar a gente
a caminhar sobre espinhos
que o Senhor, piedosamente,
põe miragens nos caminhos!
191
Teu doentio egoísmo
e as ofensas que me dizes,
construíram este abismo
que nos fez dois infelizes!
192
A prece - doce mensagem
desconhecida de ateus
é a milagrosa linguagem
com que falamos com Deus.
193
Passo as horas repassando
os passos da mocidade,
e o passado vai passando
nas passadas da saudade. .
194
Cultivei a tua imagem
cada vez te amando mais,
e, ao sentir que eras miragem,
já era tarde demais...
195
A consciência é uma bandeira,
sobre o mastro da Moral,
hasteada na fronteira
que separa o bem do mal.
196
Sou justamente acusado
nesta carta que me escreve:
é, realmente, culpado
quem se dá mais do que deve!
197
Quem foge, se afoga em ânsia,
sem achar felicidade,
porque a estrada da distância
leva à casa da saudade...
198
Há quem viva heroicamente
escondendo o próprio drama,
nessa bravura silente
de quem sofre e não reclama.
199
Procure a felicidade
em meio às lutas terrenas,
que esta vida é realidade,
e a outra ... é hipótese apenas!
200
Miragem, indiferente,
sem veres quanto me dei,
ias sempre em minha frente,
mas eu nunca te alcancei.
201
Vem, palhaço, sem tardança,
com teus trejeitos, teus chistes...
e acorda a alegre criança
que dorme nos homens tristes!
202
Pode chover muitas horas,
que eu nem ligo a temporais.
Duas gotas, quando choras,
me preocupam muito mais!
203
Socorre, irmão, no caminho,
teu irmão que nada tem...
não existe irmão sozinho:
todo irmão é irmão de alguém!
204 - TENTAÇÃO
Há mil tentações no mundo,
e é bom tomares cuidado:
pode a culpa de um segundo
destruir todo o passado.
205 – MÃE ADOTIVA
Hão de ter um lugarzinho
no Céu, ao lado de Deus,
as “mães” que dão seu carinho
a “filhos” que não são seus...
206 - FILHO
Nasceste, filho, e é dobrada,
de hoje em diante, a minha lida;
mas bendigo esta chegada
que duplicou minha vida!
207 – NATUREZA/NETO
Dando exemplo de grandeza,
de respeito e, mesmo, afeto,
quem preserva a Natureza,
guarda o mundo para o neto.
208 – PALHAÇO VELHO
Palhaço velho, nem notas:
ante a platéia pequena,
deste tantas cambalhotas,
e os que riram foi com pena!
209 – OLHO D’ÁGUA
Petrificado ante a mágoa
de ver sedento o sertão,
nem chora mais o olho d’água,
no rosto triste do chão!
210 – FILHO/CULPA
Eu tenho culpa, meu filho,
se não és o que mereces...
Perdão se te falta o brilho
que eu queria que tivesses!
211 – PRECE
O Senhor não reconhece
muita prece que se diz.
Se dependesse de prece,
era fácil ser feliz...
212 – SE VOCÊ FOSSE
Seria ideal a vida,
maravilhosa e tão doce,
se você fosse, querida,
como eu queria que fosse....
213 – TERNURA/MÃE
Ternura é um anjo sem asa
que já veio à Terra, um dia,
e morou em nossa casa
quando a minha mãe vivia...
214 - SOLIDÃO
Solidão... a alma embotada
velando a própria agonia:
uma cadeira ocupada
ao lado de outra vazia!
215 – FORMIGA
Jamais estrelas persiga
quem não alcança a amplidão,
que alegria de formiga
é achar migalhas no chão!
216 – PIRILAMPO
Em cintilantes bailados
sobre a folhagem de prata,
pirilampos tresnoitados
brincam de estrelas na mata!
217 – MÃE MORTA
Quando nada me conforta,
ou nas horas de perigo,
embora já estejas morta,
mãe, eu me agarro contigo!
218 – FÉ SEM FÉ
Que bom, meu Deus, se me desses,
de novo, a fé e a esperança
que eu tinha naquelas preces,
quando rezava em criança!
219 – LUA
Pobre Lua, vai tristonha,
tão sozinha, abandonada,
que a Lua é como quem sonha:
tem um céu... e não tem nada!
220 – ANDORINHA
Se te afastares sozinha,
quebrando a união de nós dois,
que Deus te faça andorinha
para voltares depois...
221 – ORGULHO
Perdoa, amor, se te chamo,
mas eu preciso te ver...
Quem ama assim como eu amo,
que orgulho que pode ter?
222 – SOMBRAS
Na escuridão há um segredo
que apavora os que estão sós:
as próprias sombras têm medo,
e não se afastam de nós.
223 – MENINOS DA RUA
Na ciranda dos destinos,
vão-se os meninos da rua,
mas virão outros meninos,
porque a vida continua...
224 – MENTIRA/FELICIDADE
Há mentiras doces, belas,
que até parecem verdade;
e a maior de todas elas
se chama felicidade...
225 – ESTRELA
Se há tanta pela amplidão,
e nascem tantos sem tê-la,
daí uma, Senhor, então,
a quem nasceu sem estrela!
226 – INVERNO
Desfeitas minhas quimeras
por desencantos eternos,
se outros contam primaveras,
eu conto, apenas, invernos.
227 – FRIBURGO
Friburgo, esse teu feitiço
é que, além de hospitaleira,
és um retrato suíço
com moldura brasileira.
228 – LUA/CANDELABRO
A Lua, vestindo a mata
de imaculada brancura,
é um candelabro de prata
no teto da noite escura.
229 – VILA ISABEL
Num milagroso improviso,
com Seu divino pincel,
Deus pintou o paraíso
quando fez Vila Isabel!
230 – POR QUE PARTISTE?
Por que te foste, querida,
por que partiste sozinha,
se eu fui pela tua vida,
e tu ficaste na minha?...
231 – SUBLIME MAESTRO
Quando apagares meu estro,
recolhe-me nos Teus braços,
Senhor, sublime maestro
da orquestração dos espaços!
232 – JANGADA
Com jeito de enamorada,
toda prosa, velas pandas,
o que será que a jangada
vai fazer naquelas bandas?
233 - TORMENTO (4º lugar em Pouso Alegre/RS - 1976)
Quantos tormentos na pena
desta justiça da terra,
que tantas vezes condena,
sabendo que também erra...
234 - CHEGADA (Menção Especial em Pouso Alegre - 1980)
Vivemos... E, no fim da vida,
não sabemos quase nada:
nem se a morte é uma partida,
ou se é um marco de chegada!
235
Na solidão que me arrasa,
órfão de amor e carinho,
enchi de espelhos a casa
pra não me sentir sozinho.
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HUMORÍSTICAS
Minha sogra não reclama
do bom trato que lhe dou.
Até de "filho" me chama,
só não diz que filho eu sou!
Que genrinho inteligente!
Bebeu uma vez na vida,
viu duas sogras na frente,
nunca mais topou bebida!
Gordo assim eu nunca vi: (1º lugar em Nova Friburgo - 1981)
é um sujeito tão pesado
que, se ele cair em si
pode morrer esmagado...
Ele enrolava... enrolava... (1º lugar em Nova Friburgo - 1973)
e a enrolação era tanta,
que, às vezes, quando falava,
sentia um nó na garganta!
- Que é isso no rosto agora?
- Foi meu marido, meu bem.
- Pensei que estivesse fora...
- Pois eu pensava também!
Trovador como ninguém,
nos concursos sou cobrão,
e acabo sempre entre os cem:
- os sem-classificação!
Meu sogro é um sacrificado
e, pouco a pouco, definha:
não tem sogra, mas, coitado,
de lambuja, atura a minha.
Empreguei a sogra perto,
de auxiliar de pipoqueiro,
e ela está no ofício certo:
enche o saco o dia inteiro...
Nada é mais decepcionante,
diz o genro, com razão,
que a sogra fazer transplante
e não haver... rejeição!
Com esta barra pesada
de assaltos, prudentemente,
quando sai de madrugada,
carrega a sogra na frente.
Combatendo o bom combate
e seguindo o bom caminho,
em qualquer sogra ele bate,
nem que seja a do vizinho.
A palavra, às vezes, logra,
como no exemplo que eu dou:
quem diz que perdeu a sogra
não perdeu nada... ganhou!
Na hora da confusão
minha sogra é sempre assim:
nem sabe quem tem razão,
solta os cachorros em mim!
De barro, Deus fez um homem,
da costela, uma mulher.
- E as sogras, que nos consomem,
fez de um espeto qualquer...
Genro é minha distração,
que pena ter dez, somente.
Eu queria uma porção:
genro distrai tanto a gente...
Subin do o morro, cansado,
quase pedindo socorro,
foi que eu vi porque é chamado
aquele troço de... MORRO!
Se há casa comercial
que engana o freguês à beça,
a drogaria é legal:
vende "drogas", mas confessa!
Fui ver a fonte falada
que jorra no pé do monte,
e, ao ver você debruçada,
vi tudo... e não vi a fonte!
A mulher do cabra tem
apelido de "Jangada"
porque ela, às vezes, não vem,
ou volta... de madrugada.
Ela transa desde cedo
e esconde o nome do sócio,
porque sabe que o segredo
é o segredo do negócio.
O Pitangui, num sorriso,
disse à coroa: - É um espeto!
Se eu tirar o que é preciso,
só vai ficar... o esqueleto!
- Vovó, sou Aparecida,
sua netinha também.
E a velhinha, distraída,
- A... parecida com quem?
Cara-de-pau, meu vizinho
defende o "tutu" na raça:
de dia - é um pobre ceguinho;
de noite - é chofer de praça!
Para achar bobos na praça,
pouco esforço a gente faz:
vendo um cachorro de raça,
um bobo vem logo atrás.
- Mas esta torta não presta,
seu garçon, está mal feita!
- Minha senhora, ora esta!
Vai querer torta... direita?!
Esse anúncio é uma piada,
diz o Joaquim, e daquelas...
"Vendo casas sem entrada."
Como é que a gente entra nelas?
Se a entrada de ano foi boa?
Pra mim, foi cheia também:
chegou a mãe da "patroa",
e eu, realmente, entrei bem!
Casar com coroa engana
e desengana também:
que interessa ela ter grana,
se o que tem que ter, não tem?
Se o marido, sem motivo,
chegar com flores na mão,
olho nele, é muito vivo:
deve haver uma razão...
Quando a mulher o encontrou
atracado na empregada,
o cara-de-pau berrou:
- Me larga, negra tarada!
Eis um fato verdadeiro,
que até parece mentira:
foi um pau-d'água o primeiro
a dizer que a Terra gira...
Onde é que vou-me agarrar?
- diz o pau-d'água, invocado -
se deram paa botar
tudo que é poste... inclinado?
O "esponja", ao guarda, explicando:
- Moro aqui mesmo, no centro.
Olha: as casas vão passando...
Quando for a minha... eu entro!
Doutor, assim eu não posso,
esqueço tudo, é um horror!
- Quando notou esse troço?
-Notei que troço, doutor?
O "playboy" foi reprovado,
pois sendo um cara "pra frente", (1º lugar em Nova Friburgo - 1978)
respondeu: - Metro "quadrado"...
é metro... de antigamente!
O nome fica explicado: (12º lugar em Nova Friburgo - 1978)
nasceu tão pequeno, tão,
que o pai, ao vê-lo mirrado,
surpreso, exclamou: - AH! NÃO!
É comum que me aconteça,
doutor, e tenho um palpite:
badala a minha cabeça,
- não será da sinu... site?
Assim tão destemperado,
não dura muito o casal:
como dar certo o Salgado
e aquela mulher "sem sal"?
Francamente, é um desacerto!
Bate tanto o carcamano,
que, em vez de ser um concerto,
ele escangalha o piano...
Ao frade que é medicado
diz o doutor: - um momento,
o amigo está resfriado
porque vive nu...com...vento!
Ficou velhinho demais
o Guia do espiritismo
e, agora, nem baixa mais,
por causa do reumatismo.
Mas as núpcias contraíra,
o traíro, enciumado,
viu que a traíra o traíra
e atraíra... um namorado!
O doutor desenganou:
- Dura uns seis meses talvez.
Mas o genro pechinchou:
- Doutor, deixa por um mês...
Retratando o terremoto,
ficou danado da vida:
quando o Joaquim viu a foto,
não gostou... saiu tremida!
- Tu não viste uma menina
dobrando a esquina, apressada?
- Quando eu cheguei nesta esquina,
ela já estava dobrada...
O Leite, de madrugada,
foi ver a noiva, essa não!
- Quem é? pergunta assustada.
- É o Leite. - Põe no portão...
- Sem fa-farofa, não pago!
Veio chu-chu e eu não tasco!
Mas acontece que o gago
pediu chu-chu... chu-churrasco!
- Uma esco-cola qualquer
de ga-gago, onde é que tem?
- Pra quê que o seu gago quer,
se já gagueja tão bem?...
O rádio não vai dizer
hora certa, coisa alguma.
É só ligar para ver:
cada hora ele diz uma!
Briga o peixe, ela faz manha,
mas eu é que não me envolvo:
quem manda ela ser piranha
e andar na boc a do "polvo"?
Fala demais o Jacinto
porém já sinto a razão:
como é que vai ser sucinto,
se ele é o Jacinto Frasão?
- Veio um cabelo na sopa,
seu garçon, não sou maluca!
- Só por dez cruzeiros - ôpa!
quer que venha uma peruca?
Bateu demais no Porteiro
mas, quando o foram prender,
mostrou ao Guarda o letreiro:
- Vê? NÃO ENTRE SEM BATER!
É tanta desarmonia
naquela casa, mas tanta,
que, de "família", hoje em dia,
só tem... "garrafas de Fanta"!