JOSÉ LIRA é poeta e tradutor, e integrante da UBT Recife.
Há de bastar, na verdade,
para uma trova compor,
o tempero da saudade
numa receita de amor.
Uma flor que se renova
no momento em que é colhida:
é desse modo que a trova
para mim é definida.
Em juras que não cumpria
eu gastei a juventude:
quando pude não queria,
quando queria não pude.
Depois de tanto castigo
por tanto amor infeliz,
sou como um móvel antigo
que já perdeu o verniz.
É candidato ao hospício
o amor que vira paixão;
minha paixão virou vício
e já não tem solução.
A cada um o que é seu
entre marido e mulher:
quem manda nela sou eu,
mas só faço o que ela quer.
Dê-se a novas descobertas,
sem, entretanto, esquecer
de fazer as coisas certas,
não certas coisas fazer.
Nesta vida é quase nada
o tempo de uma alegria:
o orvalho da madrugada
não dura até meio-dia.
Perder o tempo não vou
tentando o tempo entender:
hoje amanhã se chamou,
amanhã hoje vai ser.
Decerto não terás provas
de amor mais puro e maior:
o meu caderno de trovas
sabe teu nome de cor.
NOTA = a maior parte das trovas foi transcrita do site da UBT Nacional.