Benedito Machado Homem nasceu em Cachoeira de Minas, sul de Minas Gerais, a 15 de novembro de 1907. Filho de Pedro Machado Homem e D. Ana Vitória de Brito Machado. Foi funcionário do IBGE em Belo Horizonte e residiu também em Sabará. Alguns livros lançados: "Carrilhão", "Cantigas do Paraná", "Meus Quindetos", "Seixos Rolados" e "Vendaval de Sonhos". Cultor especialmente de trovas humorísticas. Faleceu em 1997 em Sabará.
Ingrato - que sina triste
cultivar a ingratidão!
Sempre está de lança em riste
contra quem lhe deu a mão.
Se a vida estudas a fundo,
teu entusiasmo arrefece:
pois se aborrece do mundo
quem muito o mundo conhece!
Eu vi ferozes panteras
acariciando os filhinhos;
é prova que até nas feras
o amor transborda em carinhos.
Dizem que amor alimenta
(que brocardo sem valor!)
- Quanto mais o nosso aumenta
mais tenho fome de amor!
Não preciso de estandarte
proclamando a religião:
Deus, estando em toda parte,
está no meu coração.
Sua presença acalenta
com tal graça e tal chamego,
que quando você se ausenta
lá se vai o meu sossego!
Segredos do coração
troquei com cigana bela:
ela lendo em minha mão,
eu lendo nos olhos dela.
Requeiro o pleno direito
de posse, com juramento,
de um cantinho de teu peito...
... e peço deferimento.
Quem tem restrito interesse,
a trabalhar não se dobre:
se o trabalho enriquecesse,
não havia burro pobre.
Uma lei justa e bacana
que o Governo nunca fez:
seis domingos por semana
e férias de mês em mês.
Muitos livros escrevi,
mas, publicá-los, jamais,
pois às traças eu cedi
meus direitos autorais.
A minissaia nos cria
um fato bastante estranho:
as mulheres, hoje em dia,
têm mais pernas que as de antanho.
Casou Marisa, vergonha
que o filho vem logo atrás...
A culpa foi da cegonha
que já não sabe o que faz.
Murmuram que a Rita Pais
vem dando voltas secretas...
Quem possui curvas demais
não pode andar como as retas.
Que a mulher nunca se cala,
é um exagero... tem dó:
em cada hora ela fala
sessenta minutos só!
O Juca da Fortunata,
tão baixinho e magricela,
se quiser usar gravata,
vai pisar nas pontas dela.
Contava num bate-papo
Dona Sapa aos seus vizinhos:
"Cada vez que beijo o Sapo,
fico cheia de sapinhos!"
Mulher bela é sol fagueiro,
que de longe nos encanta;
mulher feia é paliteiro
em mesa que não tem janta.