Virgílio G. Assumpção - Rio de Janeiro

VIRGÍLIO GOMES D'ASSUMPÇÃO, literariamente Virgílio G. Assumpção, nasceu no Rio de Janeiro, a 26 de junho de 1909, filho de Francisco Gomes D'Assumpção e de D. Glória Gomes D'Assumpção.  Médico, estabeleceu-se em Nova Lima/MG onde, entre outras atividades, foi Vice-Prefeito de Nova Lima de 1951 a 1955.  Domiciliou-e em Belo Horizonte.
Nas horas vagas era um pescador dos mais entusiasmados.
 

Responde, tu que já viste
o pranto nos olhos dela:
se é a beleza que é triste
ou a tristeza que é bela!

Felicidade - um confeito
gostoso como ele só.
Mas o diabo é que é feito
com recheio de jiló.

Nem eu sei, pai, na pobreza,
como pôde a tua ânsia
cobrir de asfalto e beleza
a rua da minha infância.

Chamava-se Glória - entanto
minha mãe também morreu,
e só consola o meu pranto
a glória que o Céu lhe deu.

Beijo-te a mão, enrubesces;
beijo-te a fronte, suspiras;
beijo-te a face, estremeces;
beijo-te a boca... deliras!

A lua, que o céu prateia,
é a todos nós semelhante:
é nova, crescente, cheia,
e, pouco a pouco, minguante.

 

Com pedras do meu caminho
vou fazer, em qualquer canto,
um castelo onde, sozinho,
vai morar meu desencanto...

Das prendas do coração
só a saudade destoa:
- nas outras mora o perdão
e a saudade não perdoa...

Maria dos meus desejos
não queiras minha desgraça,
não aches graça em gracejos
de quem contigo se engraça.

Com teus pedidos e ardis
consegues sempre o que almejas:
- se digo sim, tu sorris,
se digo não... tu me beijas.

Esmeraldas primorosas,
teus olhos verdes, tristonhos,
são duas pedras mimosas
engastadas nos meus sonhos...

Foi festa para nós dois
o enlace de nosso amor.
Foi outra, um ano depois,
o fruto daquela flor.

Não deixes morrer de fome
quem te quer tanto, Maria,
teu beijo agora tem nome:
é o meu pão de cada dia.

Muito siso e juventude
num corpo bem torneado.
Quando ela passa, a virtude
vai semeando o pecado...

No carnaval do meu mundo
- para mal dos meus pecados -
me causam pesar profundo
teus beijos... fantasiados.

Conceda-me, Santo Antonio,
esta graça, se puder:
não me destine um demônio
disfarçado de mulher...

Nas ondas do seu cabelo
de mulher, toda pecado,
quis brincar, e vou dizê-lo,
por pouco morro afogado...

É isto a vida da gente:
caminho que vai, sombrio,
de um róseo buraco quente
a um negro buraco frio... 

Meu motorista, coitado!
de desastre está doente:
olhou as "curvas" do lado
e se esqueceu das da frente...