José da CRUZ FILHO nasceu em Canindé, Ceará, no dia 16 de outubro de 1884. Era radicado em Fortaleza. Foi membro da Academia Cearense de Letras e aclamado pela imprensa de Fortaleza como o Príncipe dos Poetas Cearenses", em sucessão ao Padre Antonio Tomás. Seu reinado durou de 1963 a 1974, quando faleceu. O primeiro de seus livros: "Poemas dos Belos Dias", foi editado em 1924.
Por votar-te amor tão franco
eis-me aqui, quase de rastros:
- Cai sempre n'algum barranco
quem anda fitando os astros.
Hoje, já frouxos os laços
do nosso amor conjugal,
cometo, ao ter-te em meus braços,
certo adultério mental.
Dos teus joelhos para cima
conhecer-te não mereço,
mas penso que o mais é a rima
desse menos que conheço.
A pera, a maçã, o figo,
qualquer fruto fica feio
ante esses limões de umbigo
que trazes à flor do seio.
Amor é clarão e é lodo,
amor é bem e mal é.
Amor é mentira e engodo,
amor é verdade até.
Sem ela, como hoje vivo,
no meu degredo secreto,
sou um verbo transitivo
sem complemento direto.
Do fruto de outras idades,
com que o Diabo a Adão perdeu,
trazes as duas metades
fincadas no peito teu.
Nasceu, o amor que me instiga
mas nunca mo corresponde,
de certo não-sei-que-diga
que ela tem lá não-sei-onde.
Mulher! Quem diz este nome
inda estando a haurir-lhe o fel,
sente, no mal que o consome,
algo de favo de mel.
Quando, ó mar, tu me esbarrondas,
em alvos flocos, nas praias,
julgo ver, nas tuas ondas,
as fraldas daquelas saias