DILEMA FILHO DA MÃE!
Existe mãe sem filho? É o que pergunto.
Tudo porque uma dúvida peralta,
com poses libertinas chega e assalta
os mananciais deste cristão bestunto.
A religião é aquele eterno assunto
que recoloca em baixa estima a alta,
porque o excesso também leva à falta,
desfigurando a essência do conjunto.
Mas, reportando ao inicial dilema,
por isso eu não discuto religião:
minha ousadia não se presta a tanto;
o acento foge à ‘ideia” e engole o trema:
se o santo, em alguns "centros", é invenção,
em outros, quem dá carta é a “mãe de santo”!
(composto em 02.05.2010)
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SER OU NÃO SER... IMORTAL
Um sonho que acompanha o literato
é ser chamado a fazer parte, um dia,
do quadro de “Imortais’ da Academia,
com coquetel, discurso e aparato!
Um “Imortal”! Meu Deus, quanta honraria!
Mas, contrariando o alardeado, há um fato:
o título lhe vem por comodato,
que cessa o efeito... se a “matéria” esfria.
E quando a infausta hora é enfim chegada,
sua cadeira é logo repassada,
velhos assentos ganham novos “donos”...
O que faz crer – ferindo os manuais –
que em toda Academia os “Imortais”,
únicos “Imortais”... são os Patronos!
(composto em 03.11.2008)
NOSTALGIA (I) 19/10/2000 (1º lugar Pouso Alegre 2008)
Desmaia a tarde e a sorrateira brisa,
varanda a dentro, lépida e frugal,
a beliscar meu peito sem camisa
vai desenhando um gesto sensual.
Em lenta despedida o sol desliza,
jorrando sangue sobre o bambual,
e a lua acende a lâmpada, indecisa,
tremeluzindo sobre o meu quintal.
Um pouco mais de espera e surge a noite:
a casa, de repente, tão vazia,
desperta a minha lúdica ansiedade;
e o beliscar da brisa vira açoite,
notadamente quando a nostalgia
bate no peito, e acorda esta saudade!...
O SINAL (1º. lugar em Pouso Alegre em 2003)
Absorto, incompreendido em seu dilema,
a questionar o próprio potencial,
ele costura nova estrofe ao tema,
lendo-a em voz alta, ríspido e formal;
carente de um melhor estratagema
que faça a inspiração dar-lhe um sinal,
navega horas a fio no poema,
à procura do enfoque original;
gosta, desgosta... Tira e põe remendo...
(Ah, esses poetas que eu jamais entendo!)
Lança outro olhar ao rasurado texto;
por fim, como a extirpar o próprio ser,
cético, arranca a página, a sofrer,
amassa a "obra-prima" e "zás"... no cesto!...
COMENTÁRIOS:
01 - É, José! Como consegues dizer tanto, com tão poucas palavras, que conseguem atingir o fundo do coração, retratando o drama de quem escreve e custa a achar a palavra conveniente, aquela que diga de fato o que se quer dizer, que caiba no ritmo, na rima? Abraços por este belo soneto! Diamantino, tinoferri@ig.com.br Em 13/06/08.
Oi Ouverney! Entrou direitinho no âmago da questão, hein? Exatamente o que acontece quando a gente quer escrever e a famigerada inspiração se põe no pico de um ponto incessível, somente acenando de longe, como quem diz: "Venha me buscar, ué!" Achei o máximo, como aliás, tudo o que a sua musa o faz produzir. Parabéns e abraços/Dorothy J. Moretti, em 13.06.2008.
Claro, se foi escolhido por peritos de grande estirpe,
não nos resta mais nada a falar (leigos). Mas me deixa falar com a alma,
com o coração, com minhas emoções: Já li tudo de Pessoa, Vinícius
E outros “cobras”, mas esse soneto tem algo mais gostoso,
mágico...sabe aquela canção que a gente escuta e, sem perceber
você começa a dançar?...Primeiro você foi lá nas entranhas do
poeta e arrancou a essência, deu vida, colocou música e o fez
bailar sob o fogo cruzado da emoção X razão.
Parabéns mestre!
Verônica, 30/06/2008.