BENEDITO CUNHA MELO nasceu em Goiana/PE, a 25 de março de 1911, filho do tabelião e poeta Alberto Tavares da Cunha Melo e de Dona Virgínia Tavares de Miranda Lins. Nome estreitamente ligado ao município de Jaboatão. Como jornalista, manteve por mais de vinte anos uma coluna satírica intitulada "Trovas & Trvoadas". Lançou, em 1962, com os poetas Rodovalho Neves, Fernando Burlamaqui e Bezerra da Cunha o livro "Trovas e Trovadores"
Já viste o que faz o orvalho
à noite, no campo-santo?
Chega às cruzes como orvalho,
cai das cruzes como pranto!
Que esta vida é um mar fremente,
quem é que pode negar,
se até o pranto da gente
tem gosto da água do mar?
Saudade - sombra fagueira
dos tempos que já passaram,
nasceu da ausência primeira
dos que primeiro se amaram.
Subindo a escada da vida,
não me incomoda a ascenção.
Penso muito é na descida,
já vendo tantos no chão.
Quanta luz esperdiçada
até na poeira do chão!
E esta criancinha - coitada! -
num mundo de escuridão!
Eu te ergui alto, tão alto,
no meu sonho e amor de Jó,
que te vejo, como estrela,
e tu me vês, como pó.
Quantos pássaros voando!
Quantas flores no jardim!
Quantas cigarras cantando!
Quantas saudades em mim!
- Lampião de luz apagada,
que vento mau te soprou?
- Não foi vento, não foi nada,
meu tempo é que se apagou!
Sobe o pó pela amplidão.
É seu o espaço sem fim.
Cessa o vento, volta ao chão...
- Quantos que sobem assim!
"Do nada fez Deus o mundo"
- afirma a História Sagrada.
É por isso que no fundo,
o mundo não vale nada.
Já viste o que faz o orvalho,
á noite — no Campo Santo?
chega às cruzes, como orvalho,
cai das cruzes, como pranto.
Neste mundo, nesta vida,
pior, talvez, que os ateus,
há gente tão convencida
que não quer Deus, quer ser Deus.
Ao que na vida tão crua
jamais faltou a esperança,
ainda que nada possua,
parece que tudo alcança.