Batista Cepelos - postado em 29.11.2010

http://www.falandodetrova.com.br/minhabiblioteca

(texto de José Fabiano, mineirim de Uberaba)

 

BATISTA CEPELOS

(1872 – 1915)

 

 

Da “Enciclopédia de Literatura Brasileira”, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa:

 

“CEPELOS, Batista (Manuel B. C., Cotia, SP, 10 dez. 1872 – Rio de Janeiro, 8 maio 1915), de origem humilde e pobre, realizou primeiros estudos com o pai e exerceu diversos misteres, mudou-se para a capital (1893), sentando praça na polícia militar, fazendo carreira, em diversas cidades do interior, destacando-se, como capitão, no combate à revolução de 1894 no Paraná. Na capital, fez o curso de direito, dipl. em 1902, ingressando na magistratura, como promotor, exercendo as funções em cidades do interior. Aí dedicou-se à poesia, romance, contos, teatro. Mudando-se para o Rio de Janeiro, por desgosto em conseqüência de tragédia que impediu o seu casamento, passou a viver em depressão profunda, terminando por suicidar-se, apesar do apoio que lhe dispensaram colegas e empresários teatrais. Poeta parnasiano, sua obra obedece à objetividade da escola, com ênfase nos aspectos e temas nacionais e cívicos, mediante forma cuidada. Poeta, cronista.”

 

Do “Parnaso de Além-Túmulo”, de Francisco Cândido Xavier:

 

“BATISTA CEPELOS

Poeta paulista, desencarnou no Rio de Janeiro, em 1915, atribuindo-se a suicídio o encontro do seu corpo entre pedras de uma rocha, na rua Pedro Américo. Esta versão parece confirmar-se agora nestes sonetos. Olavo Bilac, ao prefaciar-lhe Os Bandeirantes, exalta-lhe o estro espontâneo, original e simples.”

 

“SONETOS

 

I

Eu fui pedir à Natureza, um dia,

Que me desse um consolo a tantas dores;

Desalentado e triste, pressenti-a

Cansada e triste como os sofredores.

 

Encaminhei-me à porta da Agonia,

Corroído por chagas interiores,

Buscando a morte que me aparecia

Como o termo anelado aos dissabores,

 

Desvendando esse trágico segredo

Que a alma decifra, pávida de medo,

Com ansiedade e temores dos galés...

 

Mas ah! que atroz remorso me persegue!

Choro, soluço, clamo e ele me segue

Nesse abismo que se abre ante os meus pés.

 

II

Ninguém ouve na Terra esse lamento

Da minha dor imensa, incompreendida,

Nas pavorosas trevas desta vida

Em que eu julgava achar o Esquecimento.

 

Tenebrosa, essa noite indefinida,

Cheia de tempestade e sofrimento,

No país do Pavor e do Tormento

Onde chora a minhalma enceguecida.

 

Onde o não-ser, a paz calma e serena,

Que me traria o bálsamo a esta pena

Interminável, rude, dolorosa?

 

Ninguém! Uma só voz não me responde!

Sinto somente a treva que me esconde

Na vastidão da noite tormentosa...

 

III

Sirva-vos de escarmento a dor que trago

Na minhalma infeliz e sofredora,

Este padecimento com que pago

O desvio da estrada salvadora.

 

Aqui somente ampara-me esse vago

Pressentimento de uma nova aurora,

Quando terei os bens, o brando afago

Da Luz, que está na dor depuradora.

 

Agora, sim! depois de tantos anos

De tormentos, em meio aos desenganos,

Espero o sol de novas alvoradas

 

De existências de pranto e de miséria,

Para beber no cálix da matéria

As essências das dores renegadas!”

 

Do livro “Diário Secreto”, de Humberto de Campos, o Irmão X das psicografias do Chico Xavier:

“Domingo, 13 de agosto de 1933:

 

Visita de um cavalheiro alto, magro, solene. Trinta e tantos anos. Chama-se Humberto de Melo Nóbrega e pertence ao funcionalismo do Banco do Brasil, no qual, parece, tem um lugar de relevo. Acaba de chegar de São Paulo, onde nasceu, e de onde vem transferido.

O motivo da visita é o pedido de um amigo, que deseja o meu autógrafo em um exemplar das ‘Memórias’, que me apresenta finamente encadernado. Quer, também um retrato meu. E mostra-me alguns originais de Batista Cepelos, encontrados, segundo me diz, nas algibeiras do suicida, no dia da tragédia.

- Mas, afinal, qual o motivo da morte de Cepelos? – indago.

Nóbrega acende calmamente um cigarro de fumo inglês, e conta-me pausado:

- O que se sabe até agora, é triste e horrível, e quase que não pode contar.

E confia-me o seguinte:

- O Cepelos, como o senhor sabe, nasceu em Cutia, em São Paulo, e era mestiço, e filho natural. Indo ainda jovem para a capital, sentou praça na Brigada Policial, e chegou a capitão. Na revolta de 1893, foi para o sul, e tomou parte, lá, na campanha. Veio depois para o Rio de Janeiro, e aqui ficou, até que, em 1915, foi a São Paulo, e conheceu ali uma jovem, pela qual se apaixonou. A ignorância da paternidade era um dos tormentos da sua vida. A moça, porém, correspondeu à sua paixão. Era filha do velho Coronel Gomide, chefe político de Cutia. O velho Gomide opôs-se vivamente ao noivado. E foi quando, para forçar o pai ao consentimento, a moça confessou:

- Mas, o senhor tem que consentir, porque eu já me entreguei a ele.

O velho entra em desespero. Toma um revólver, mata a filha, e suicida-se depois. Cepelos era, também, filho do velho Gomide!...

Ao ter conhecimento do fato, Cepelos achou que não devia mais suportar a vida. Subiu à pedreira que dá ali para a Rua Pedro Américo, e atirou-se de lá.

- E ainda há quem não acredite na existência de Édipo!... observo.

E Nóbrega:

- É pena que não se possa narrar esse drama, ou, melhor, essa tragédia...”

 

E é o que estou fazendo neste momento...

 

Fabiano