MARY CAMARGO
é o nome literário de Marieta Camargo Turech, nascida em Jaguariaíva, Paraná, no dia 07 de junho de 1906, filha de Miguel Turech e Francisca Castro Mendes Camargo Turech. Professora, publicou vários livros, entre os quais: "Turmalinas", sonetos e "Beiral de Estrelas", trovas.
Entre as sombras, uma existe
que antes parece uma luz:
é a que sobre a cova triste
projeta o lenho da cruz.
Na corola aveludada
de uma encantadora flor,
do orvalho a gota irisada
tem, de uma joia, o fulgor.
Sempre o silêncio nos fala
da vida e do eterno sono,
pela flor que o aroma exala
junto à campa em abandono
Passam rápidos os dias,
nublados e entre fulgores.
Uns nos trazem alegrias;
outros, tristezas e dores.
Entre as flores, flor existe
que faz o pranto rolar:
é a saudade roxa e triste
sobre pedra tumular.
A névoa sobre a colina
é motivo de poesia.
Lembra um véu de gaze fina
de mimosa fantasia.
Saudade é o nome da flor
que além o sepulcro ostenta,
como símbolo da dor
que o coração atormenta!
OBS: as trovas abaixo estão contidas no livro Céus de Safira e Vales de Esmeralda, pgs. 87/89, e nos foram enviadas por Rafael Pomim, que é um pesquisador da obra da autora.
Sem miragem ilusória
Viva feliz, entre os seus
Que, mais que efêmera glória
Melhor é a graça de Deus.
Tal como estrela cadente
No espaço foge veloz,
Quanta vez, sonho ridente,
Ilusão, foi para nós!
Desce a cortina da tarde
Que é a sombra crepuscular,
Desce assim da imensidade
Lenta, suave, devagar...
Em imagem de tristeza
Do que é fugaz, transparece,
Já sem cor, já sem beleza
Essa flor que desfalece...
Noite de beleza ideal
Cantou Catulo, ao violão,
E desse canto imortal
Fala o “Luar do Sertão”!
Lembra Castro Alves, o poeta,
Nas vibrações condoreiras,
Cultuando-lhe a alma de estela,
A Fazenda Cabaceiras
Com emblema a flor exprime
Em sentido divinal
Que existe em crença sublime
De valor espiritual
Essa teia pendurada
Em lindo rosal em flor
É imagem delicada
De aprimorado labor...
Que tudo passa, é sabido
Neste mundo de ilusão
Mas, em sublime sentido
O que é bom, não passa em vão...
Livro. Saber representa
Dando ao espírito valor.
Como pão que nos sustenta
Ao corpo dando vigor...
No arco-íris do céu distante
Há poesia e encantamento,
Imagem de um só instante
Mas, enleva o pensamento.
Livre tem a imensidade
A ave, que rápida voa,
Certo, por ter liberdade,
Dela é a doce voz, que soa...
E estas outras estão em
FERNANDES, Aparício. (Org.). Nossas Poesias. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1974. p. 296:
Ligeiro vento arrebata
a flor, e ela, em roda viva,
níveas pétalas desata,
em ciranda que cativa!
Quando chega o fim da tarde
é mais triste a solidão,
porque nessa hora a saudade
mais nos punge o coração.
É primavera. De encantos
fala a terra entre verdores.
Fala de risos e cantos,
e assim se veste de flores!
De linda estrela cadente
é todo o traço de luz
que fugindo, de repente,
misterioso, nos seduz.
Ao cego cresce a amargura
dos seus olhos apagados,
se não tiver a ternura
de corações bem formados.
Certo não há neste mundo
outro amor que seja igual
ao amor terno e profundo
do coração maternal!
Nas lutas de cada dia,
nas lutas que a vida tem,
há sempre paz e alegria
pelo caminho do Bem.